Mãe de todas as ferramentas de gestão empresarial, o planejamento estratégico (PE) consolida-se a cada dia como paradigma de administração bem feita. Mas será que ele, com sua força tentacular, aplica-se cegamente à gestão cultural?
São muitas as ferramentas atreladas ao PE. Uma das mais conhecidas é a análise SWOT, ou traduzindo para o português, análise de Potencialidades, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças. As duas primeiras dizem respeito à situação interna do empreendimento e as duas últimas do mercado, ou das questões externas.
Como um processo gerencial, o PE diz respeito à formulação de objetivos, que inclui a escolha dos melhores programas e ações e a melhor maneira de executá-los, levando em conta as condições apontadas na análise SWOT. E, a partir daí, como o empreendimento pretende evoluir, crescer e se desenvolver como negócio.
Com uma boa análise em mãos, acredita-se, é possível visualisar o futuro e construir condições para alcançá-lo, passo-a-passo, a partir de ferramentas de gestão apropriadas àquele determinado negócio (aquilo para que serve o empreendimento).
Se levarmos em conta aquilo que venho defendendo nesse espaço, o empreendimento cultural não deveria se valer da competição e das formas de concorrência comuns aos sistemas mais agressivos e selvagens, próprios do capitalismo. Então o planejamento estratégico não deveria se aplicar à gestão cultural.
Por isso defendo uma flexibilização do PE, substituindo uma lógica linear ou sistêmica de atuação, por uma mais complexa e orgânica, com forte presença de diálogo e baseada na diversidade. Sem invalidar os pontos positivos do PE, costumo utilizá-lo como um exercício de construção para, em seguida, desconstruí-lo, já que não acredito na previsibilidade e controle do futuro, sobretudo nesses tempos de hiper-modernidade.
A consultoria de desenvolvimento de negócios culturais da Brant Associados baseia-se nesses fundamentos para auxiliar empreendedores a construir e moldar suas organizações e projetos de maneira sustentável.
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Muito pertinente a forma abordada do PE, pois sendo ele a ferramenta primordial para o desenvolvimento coorporativo, ainda existe complexidade na sua materialização. Sempre que possível, contribua com artigos nessa linha metodológica.
Obrigado pela valiosa contribuição.
Prezado Brantt,
Tenho uma visão diferente da sua, até porque parece-me que houve uma confusão de conceitos.
O planejamento estratégico relaciona-se aos objetivos de longo prazo e às estratégias e ações engendradas para alcançá-los.
Concorrência, agressividade, selvageria, capitalismo e afins não são sinônimos, exigências ou premissas para a realização de uma planejamento estratégico.
Dito isso, a atividade, indústria ou projeto cultural pode sim se beneficiar do planejamento estratégico à medida que este é uma ferramenta que possibilita perceber a realidade, avaliar os caminhos, construir um referencial futuro, estruturar processos e organizar ações com o objetivo de alcançar um objetivo estabelecido.
Qual sua visão?
Obrigado Tiago, por suas considerações. Não quero descartar o plano estratégico, muito pelo contrário. O problema não é o PE em si, mas os meios e ferramentas utilizados para fazê-lo valer a qualquer custo. Mas não quero absolver completamente o PE, já que essas ferramentas estão todas subordinadas a ele. A gestão por metas, a guerra da concorrência, a lógica mecânica dos métodos empresariais, a hierarquia e o autoritarismo presente na gestão empresarial, estão todos a seu serviço. Minha proposta é flexibilizá-lo. Como? Em primeiro lugar, devemos repensar a maneira como estraturamos o ato declaratório do PE. Em vez de missão, visão, objetivos, devemos centrar forças na filosofia, valores e no sentido do negócio. E, é claro, as ferramentas de gestão devem refletir essa postura empresarial mais ampla, além do lucro e do mercado. Um grande abraço, LB
Prezado Leonardo,
Pertinente sua observação sobre o papel filosófico na missão de um projeto cultural. Acredito que atualmente esse seja um ponto de grande importância para nortear os caminho para a sua viabilidade, principalmente no momento em que se desenvolver a capitação de recursos, para sua realização. No momento em que se pensa em estratégia, buscar compreender que a filosofia do capitador e do patrocinador em algum momento necessitarão se encontrar.
O mercado, seja ele qual for, é um jogo de interesse, oportuniddades e necessidades, sem precisar ser agressivo, a estratégia pode se transformar numa maior concentração nos pontos fortes como um todo! A gestão de estratégias competitivas infelismente tb faz parte da realidade cultural, visto os escassos recursos, a grande disputa do mercado financiador e claro políticcas públicas inconstantes.
Glaucia
"Planejamento Estratégico" não é sinônimo de "metofologias, técncias ou ferramentas para Planejamento Estratégico". SWOT, BSC, etc. são mecanismos para se fazer planejamento estratégico. A necessidade de se ter um planejamento estratégico é indiscutível a meu ver, pois " não há vento a favor pra quem não sabe onde vai". Contudo, a forma usada para se estabelecer seu plano pode ser adaptada ou construída.
Concordo que, sobretudo nas instituições do 3° setor, é preciso concentrar mais esforços no entendimento da filosofia e valores que norteam as ações da instituição.
Portanto, no meu entender, as colocações não realtivamente corretas, talvez o necessário seja ordenar melhor as idéias colocando cada conceito no seu lugar.
Boa discussão! Que tal levá-la a um fórum específico sobre planejamento estratégico ou 3° setor?
Está certo Glaucia. Quando eu chamo o PE de "mãe de todas as ferramentas" parece que estou tratando o PE como simples ferramenta, o que é falso. É muito mais do que isso. Um conjunto programático de ferramentas. O texto todo não combate o Planejamento Estratégico em si, mas aponta para a necessidade de melhor escoha e flexibilização das ferramentas que compõem o PE. Valeu a participação! Abs LB
Acho extremamente sensível a análise do Leonardo, sobre a necessidade de engendrar a filosofia dentro da mecânica do PE. Nesse sentido vejo ai um aprimoramento conceitual do termo e quiça uma oportunidade dialética de aproximação, ou como a Escola de Frankfurt enseja, uma Dialética do Esclarecimento. Abraço!
Minha visão de PE se parece muito com a do Leonardo. Ele é um norte flexível para análise e compreensão do próprio negócio, do mercado em que está inserido, da sua posição dentro deste mercado e da parcela deste mercado que o negócio representa. Portanto, o PE representa a identidade do negócio, sua capacidade de se explicar, de se entender e de oferecer contrapartidas à sociedade. Visto desta maneira, não há por que seu conceito ser resumido nas ferramentas que o compõem, mesmo por que acredito também na evolução destas ferramentas e na reorganização das mesmas de acordo com o tamanho e pretensão de cada negócio. O PE tem que ser pensado e não apenas montado. Quem pensa o PE tem condições de repensar os conceitos envolvidos e transformá-los de acordo com a realidade do mercado em questão. Concorrentes, por exemplo, só são concorrentes em determinados aspectos e/ou cenários, em outros podem ser parceiros ou fornecedores. O importante é que o gestor se aproprie do PE como um trabalho autoral, como um quebra-cabeças estimulante e gerador de realidades inovadoras e possíveis para que o seu negócio se destaque, tenha saúde financeira e econômica e devolva benefícios à sociedade. Gostei muitíssimo da discussão!