Categories: PONTOS DE VISTA

Planejamento estratégico

Mãe de todas as ferramentas de gestão empresarial, o planejamento estratégico (PE) consolida-se a cada dia como paradigma de administração bem feita. Mas será que ele, com sua força tentacular, aplica-se cegamente à gestão cultural?

Oriundo da guerra, o PE foi muito utilizado como método de ocupação e expansão territorial. Conhecendo a situação do seu exército e com o máximo de informações colhidas a respeito das condições do terreno e do inimigo, é possível avançar e conquistar terreno.

São muitas as ferramentas atreladas ao PE. Uma das mais conhecidas é a análise SWOT, ou traduzindo para o português, análise de Potencialidades, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças. As duas primeiras dizem respeito à situação interna do empreendimento e as duas últimas do mercado, ou das questões externas.

Como um processo gerencial, o PE diz respeito à formulação de objetivos, que inclui a escolha dos melhores programas e ações e a melhor maneira de executá-los, levando em conta as condições apontadas na análise SWOT. E, a partir daí, como o empreendimento pretende evoluir, crescer e se desenvolver como negócio.

Com uma boa análise em mãos, acredita-se, é possível visualisar o futuro e construir condições para alcançá-lo, passo-a-passo, a partir de ferramentas de gestão apropriadas àquele determinado negócio (aquilo para que serve o empreendimento).

Se levarmos em conta aquilo que venho defendendo nesse espaço, o empreendimento cultural não deveria se valer da competição e das formas de concorrência comuns aos sistemas mais agressivos e selvagens, próprios do capitalismo. Então o planejamento estratégico não deveria se aplicar à gestão cultural.

Por isso defendo uma flexibilização do PE, substituindo uma lógica linear ou sistêmica de atuação, por uma mais complexa e orgânica, com forte presença de diálogo e baseada na diversidade. Sem invalidar os pontos positivos do PE, costumo utilizá-lo como um exercício de construção para, em seguida, desconstruí-lo, já que não acredito na previsibilidade e controle do futuro, sobretudo nesses tempos de hiper-modernidade.

A consultoria de desenvolvimento de negócios culturais da Brant Associados baseia-se nesses fundamentos para auxiliar empreendedores a construir e moldar suas organizações e projetos de maneira sustentável.

Leonardo Brant

Pesquisador cultural e empreendedor criativo. Criador do Cultura e Mercado e fundador do Cemec, é presidente do Instituto Pensarte. Autor dos livros O Poder da Cultura (Peirópolis, 2009) e Mercado Cultural (Escrituras, 2001), entre outros: www.brant.com.br

View Comments

  • Muito pertinente a forma abordada do PE, pois sendo ele a ferramenta primordial para o desenvolvimento coorporativo, ainda existe complexidade na sua materialização. Sempre que possível, contribua com artigos nessa linha metodológica.
    Obrigado pela valiosa contribuição.

  • Prezado Brantt,

    Tenho uma visão diferente da sua, até porque parece-me que houve uma confusão de conceitos.

    O planejamento estratégico relaciona-se aos objetivos de longo prazo e às estratégias e ações engendradas para alcançá-los.

    Concorrência, agressividade, selvageria, capitalismo e afins não são sinônimos, exigências ou premissas para a realização de uma planejamento estratégico.

    Dito isso, a atividade, indústria ou projeto cultural pode sim se beneficiar do planejamento estratégico à medida que este é uma ferramenta que possibilita perceber a realidade, avaliar os caminhos, construir um referencial futuro, estruturar processos e organizar ações com o objetivo de alcançar um objetivo estabelecido.

    Qual sua visão?

  • Obrigado Tiago, por suas considerações. Não quero descartar o plano estratégico, muito pelo contrário. O problema não é o PE em si, mas os meios e ferramentas utilizados para fazê-lo valer a qualquer custo. Mas não quero absolver completamente o PE, já que essas ferramentas estão todas subordinadas a ele. A gestão por metas, a guerra da concorrência, a lógica mecânica dos métodos empresariais, a hierarquia e o autoritarismo presente na gestão empresarial, estão todos a seu serviço. Minha proposta é flexibilizá-lo. Como? Em primeiro lugar, devemos repensar a maneira como estraturamos o ato declaratório do PE. Em vez de missão, visão, objetivos, devemos centrar forças na filosofia, valores e no sentido do negócio. E, é claro, as ferramentas de gestão devem refletir essa postura empresarial mais ampla, além do lucro e do mercado. Um grande abraço, LB

  • Prezado Leonardo,

    Pertinente sua observação sobre o papel filosófico na missão de um projeto cultural. Acredito que atualmente esse seja um ponto de grande importância para nortear os caminho para a sua viabilidade, principalmente no momento em que se desenvolver a capitação de recursos, para sua realização. No momento em que se pensa em estratégia, buscar compreender que a filosofia do capitador e do patrocinador em algum momento necessitarão se encontrar.

    O mercado, seja ele qual for, é um jogo de interesse, oportuniddades e necessidades, sem precisar ser agressivo, a estratégia pode se transformar numa maior concentração nos pontos fortes como um todo! A gestão de estratégias competitivas infelismente tb faz parte da realidade cultural, visto os escassos recursos, a grande disputa do mercado financiador e claro políticcas públicas inconstantes.

    Glaucia

  • "Planejamento Estratégico" não é sinônimo de "metofologias, técncias ou ferramentas para Planejamento Estratégico". SWOT, BSC, etc. são mecanismos para se fazer planejamento estratégico. A necessidade de se ter um planejamento estratégico é indiscutível a meu ver, pois " não há vento a favor pra quem não sabe onde vai". Contudo, a forma usada para se estabelecer seu plano pode ser adaptada ou construída.
    Concordo que, sobretudo nas instituições do 3° setor, é preciso concentrar mais esforços no entendimento da filosofia e valores que norteam as ações da instituição.
    Portanto, no meu entender, as colocações não realtivamente corretas, talvez o necessário seja ordenar melhor as idéias colocando cada conceito no seu lugar.

    Boa discussão! Que tal levá-la a um fórum específico sobre planejamento estratégico ou 3° setor?

  • Está certo Glaucia. Quando eu chamo o PE de "mãe de todas as ferramentas" parece que estou tratando o PE como simples ferramenta, o que é falso. É muito mais do que isso. Um conjunto programático de ferramentas. O texto todo não combate o Planejamento Estratégico em si, mas aponta para a necessidade de melhor escoha e flexibilização das ferramentas que compõem o PE. Valeu a participação! Abs LB

  • Acho extremamente sensível a análise do Leonardo, sobre a necessidade de engendrar a filosofia dentro da mecânica do PE. Nesse sentido vejo ai um aprimoramento conceitual do termo e quiça uma oportunidade dialética de aproximação, ou como a Escola de Frankfurt enseja, uma Dialética do Esclarecimento. Abraço!

  • Minha visão de PE se parece muito com a do Leonardo. Ele é um norte flexível para análise e compreensão do próprio negócio, do mercado em que está inserido, da sua posição dentro deste mercado e da parcela deste mercado que o negócio representa. Portanto, o PE representa a identidade do negócio, sua capacidade de se explicar, de se entender e de oferecer contrapartidas à sociedade. Visto desta maneira, não há por que seu conceito ser resumido nas ferramentas que o compõem, mesmo por que acredito também na evolução destas ferramentas e na reorganização das mesmas de acordo com o tamanho e pretensão de cada negócio. O PE tem que ser pensado e não apenas montado. Quem pensa o PE tem condições de repensar os conceitos envolvidos e transformá-los de acordo com a realidade do mercado em questão. Concorrentes, por exemplo, só são concorrentes em determinados aspectos e/ou cenários, em outros podem ser parceiros ou fornecedores. O importante é que o gestor se aproprie do PE como um trabalho autoral, como um quebra-cabeças estimulante e gerador de realidades inovadoras e possíveis para que o seu negócio se destaque, tenha saúde financeira e econômica e devolva benefícios à sociedade. Gostei muitíssimo da discussão!

Recent Posts

JLeiva lança pesquisa Cultura nas Capitais

A JLeiva Cultura & Esporte lança nesse mês a pesquisa inédita Cultura nas Capitais. O…

8 horas ago

MinC alcançou 100% de transparência ativa em avaliação da CGU

Fonte: Ministério da Cultura* O Ministério da Cultura atingiu 100% de transparência ativa de acordo…

1 dia ago

Ordem do Mérito Cultural recebe indicações até 10 de fevereiro

Até o dia 10 de fevereiro,  a sociedade terá a oportunidade de participar da escolha…

1 dia ago

Salic receberá novas propostas a partir de 06 de fevereiro

O Sistema de Apoio às Leis de Incentivo à Cultura (Salic) estará aberto a partir…

1 dia ago

Edital do Sicoob UniCentro Br recebe inscrições até 14 de março

O Instituto Cultural Sicoob UniCentro Br está com inscrições abertas em seu edital de seleção…

5 dias ago

Edital Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura (SC) recebe inscrições até 04 de fevereiro

Estão abertas, até 04 de fevereiro, as inscrições para o Edital Elisabete Anderle de Estímulo…

1 semana ago