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Política, Propaganda e Genitália


Nem os mais pessimistas opositores de Juca Ferreira, que se avolumam em progressão geométrica, poderiam prever catástrofe tão grande. O certo é que ninguém deve comemorar a bazófia, pois o único projeto do MinC que de fato traria dinheiro novo para a cultura virou pó. Não há mais condição política para aprovar nada em relação à pasta até o fim do mandato. O patrimônio cultural construído por Gilberto Gil, amparado e apoiado pela sociedade, está em risco.

Não quero dizer com isso que o Juca seja culpado de qualquer coisa. Ele continua como sempre, com uma coragem inversamente desprorcional à ingenuidade, que inclui a falta de compreensão da complexidade da cultura, da política e do mercado. É um ministro fraco, inexpressivo, mas não quer dizer que seja mau.

A propaganda política patrocinada pelo MinC para convencer o Congresso a votar em projetos de seu interesse é bem intencionada, mas é ilegal. Assim como foi a milionária e bem sucedida campanha para difamar a Lei Rouanet junto à opinião pública. Construída em cima de um factóide, divulgando dados manipulados e mentirosos, a propaganda política foi construída para legitimar e dar governabilidade a alguém que se mostra a cada dia mais inadequado e incapaz de conduzir uma pasta difícil e complexa como a da cultura.

Com um discurso oportunista, que recebe cores e tons diferenciados conforme a plateia, a ocasião e o termômetro político, o ministro diz e se contradiz com espantosa naturalidade. E muitas vezes convence, mesmo utilizando argumentos e premissas falsas, seu entusiasmo contagia e transmite esperança, sobretudo aos milhões de excluídos das políticas culturais brasileiras.

Nem todos dão conta do abismo cada vez maior entre a retórica ministerial e a política de fato, que garanta os direitos culturais a todos os cidadãos. E conforme avança o calendário político-eleitoral, essa abismo fica mais evidente, monstruoso e revoltante.

Juca acusou toda a imprensa brasileira de ser mentirosa, por divulgar fatos que a própria assessoria do Ministério admitiu serem verdadeiras. E não bastasse a briga com todas as comissões do Senado reunidas pela cultura, virou desafeto das organizações ligadas aos jornalistas.

A pilha de processos do Ministério Público engordou um pouco mais esta semana. Enquanto dificulta o acesso para todos os outros mortais, Juca facilita o patrocínio da Lei Rouanet para seus amigos, comparsas e projetos patrocinados pelo próprio MinC, entre os maiores captadores de sua gestão. E agora terá de responder mais um sobre improbidade adminstrativa.

Mas a cultura brasileira vai além de Juca Ferreira e sua genitália exposta. E o Vale Cultura é um projeto que merece seguir adiante e precisa do apoio de todos nós.

Leonardo Brant

Pesquisador cultural e empreendedor criativo. Criador do Cultura e Mercado e fundador do Cemec, é presidente do Instituto Pensarte. Autor dos livros O Poder da Cultura (Peirópolis, 2009) e Mercado Cultural (Escrituras, 2001), entre outros: www.brant.com.br

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  • Leo

    Eu adiciono a sua matéria, como sempre venho colocado, a má gestão do Ministério da Cultura. Cito como esxemplo:Projetos que demoravam, antes de sua posse, de 3 a 6 meses, agora demoram de 6 meses a mais de 1 ano quando tem que passar por outros orgãoes para parecer como: IPHAN, FUNARTE... A tal informatização dos projetos ainda não funciona.

    Fernando Caseiro

  • Parabéns, mais uma vez v. expressa a voz de muitos quando o assunto é nossa atual politica cultural.

    O vale cultura é um projeto fantástico, mas diante de um problema estrutural torna-se apenas mais um projeto cheio de boas intenções e sem eficácia: não há teatro, museu ou cinema na maioria das cidades do país.

    A politica governamental, por sua vez, é ineficaz ao pensar em soluções democráticas e capazes de fortalecer o mercado. Enquanto deveria trabalhar para o crescimento,valorização e profissionalizaçao do setor, o Ministro abraça a ideia da renovar/deturpar a Lei Rouanet valendo-se das polêmicas do debate.

    Nesse caso nos perguntamos: e os resultados de sua gestão? A posição de Juca e suas constante contradições evidenciam um despreparo para sua posição e preocupam.

    É esperar para ver e, talvez, seja melhor torcer para suas ações sejam limitadas, pois assim, será menor o estrago a minimizar.

  • Não sei se devemos dizer o mesmo a este ministro como foi dito pelo Caetano Velozo sobre o nosso presidente, os dois não sabem e nunca saberão o que é política cultural..

    O presidente queria acbar com a lei estadual no início de seu primeiro mandato , não conseguiu, agora está acabendo com a lei federal.

  • Prezado Leonardo,

    Me apoio em seu comentário como consolo da frustação que sinto por idealizar , formatar e tentar infinitas vezes fazer contato com a estrutura inoperante do Ministério da Cultura.

    A falta capacidade técnica é clara, questiono e sempre questionei as bases de informação da CNIC, principalmente por fazer cortes orçamentários à revelia, acompanhados de insensata argumentação, nos obrigando a fazer a tal solicitação de reenquadramento que ninguém sabe quanto tempo levará para ser analisada.

    Como já disse Rui Barbosa "Há tantos burros mandando em homens de inteligência, que, às vezes, fico pensando que a burrice é uma ciência.

  • Tenho sido crítico desta gestão, reforçando o que Leonardo escreve sobre o abismo entre a retórica e a real política cultural. Também criticamos a inoperância administrativa do Ministério e a confusão entre o (mal) uso da maquina pública e as boas intenções de romper paradigmas (como neste episódio do folheto); mas quero me solidarizar com o ministro neste momento de "mobilização nacional" por lutas que estão sendo levadas às conferências estaduais e à nacional, pois expressam um desejo de mudança profunda nos modos de fazer do país (culturais e etc e tais, pois uma coisa caminha junto a outra); e, de alguma maneira, este ministério tem colaborado um pouco nisto. Portanto, neste momento, o escorregão do ministro e assessoria pode também ser usado por aqueles que não querem que nada se transforme neste país pós-colonial... não sejamos ingênuos. Força, pressão adiante, para frente, com ou sem chapa branca, não podemos perder mais esse trem da história.

  • Leia abaixo a íntegra da nota assinada pelo ministro Juca Ferreira sobre a acusação feita aos jornalistas:

    "Quero deixar clara, se ainda não está, a minha relação com a imprensa. Um contato com jornalistas na semana passada, no Rio de Janeiro, acabou gerando uma situação de evidente desrespeito para comigo. Um dos jornalistas assumiu postura muito diferente da situação de pressão própria do exercício da imprensa, à qual estou acostumado. O que surgiu então, em vez de entrevista, foram acusações reiteradas, embaladas na forma de pergunta - comportamento que até mesmo jornalistas críticos a mim nesse episódio detectaram, reconheceram como descabido e condenaram explicitamente.

    "Desrespeitado, retruquei. Fui, entretanto, infeliz na minha manifestação. Esta passou a impressão de que eu estava generalizando minha indignação para com a imprensa toda. Deixo claro: não tive qualquer intenção de generalizar, e nem generalizei. Não é esta a opinião que tenho sobre esta instituição. Sei de sua fundamental importância para a consolidação da nossa democracia. Sempre mantive relação franca e respeitosa com os órgãos de comunicação e com os jornalistas. Esta é minha história política.

    "Reconheço que a resposta - fruto da indignação frente às injustas acusações de que estaria fazendo campanha eleitoral e mau uso do dinheiro público - foi intempestiva. Minha indignação, ainda que legítima, permitiu sua descontextualização. Por isto me penitencio.

    "Lembro, entretanto, dois fatos que repõem a questão do folder, objeto da polêmica, nos seus devidos eixos: um, que os parlamentares do Congresso Nacional haviam recebido antecipadamente uma cópia do folder; dois, que ele já havia sido distribuído na Câmara, no Dia Nacional da Cultura (5 de novembro), data em que não gerou qualquer tipo de manifestação de descontentamento. Concluindo: o folder foi usado como pretexto para não discutir um projeto que, indiscutivelmente, vai beneficiar milhões de brasileiros - o Vale-Cultura."

  • Arruda-vou radicalizar!!!
    hum!
    Este recado dele para os DEM! deve ser um aperitivo a Cidade da Musica do Maia pai?

  • o que é isso? a situação real passa longe dessas análises...chega de oposição na Cultura, precisamos de mais situação, de mais consensos. Tudo está melhor que antes, tudo avançou e o Minsitro discute, está em todas, tem seu estilo. Mas dizer que está tão ruim? Francamente...a elite tem que pensar melhor..e sair do muro. Se comprometer com ação, derrotar tudo não é o caso. Enfim, eu hein...

  • A SINFONIA DO PANETONE DO DEM DE "DEMOSTENES" E CIA!

    Neste Natal, o DEM vai comer o panetone que o diabo amassou.

    ttp://noticias.r7.com/brasil/noticias/camara-do-rj-recomenda-indiciamento-de-cesar-maia-20091201.html

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