Aos 13 anos, eu já fazia teatro e ouvia falar de SBAT (Sociedade Brasileira de Autores) e Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) cobrando uma percentagem da bilheteria. Aos 16 anos, fui emancipada para poder abrir, com Caetano, a editora e produtora Uns Produções, para que ele, enfim, pudesse ser, de verdade, dono do seu repertório e administrar o que é dele.
Aliás, nenhum artista deveria se manter alheio a um sistema que, afinal de contas, é bancado por eles, do início ao fim. São eles que criam e são eles que pagam a conta. Nas minhas atividades como produtora, inclusive de cinema, sempre aparecem problemas com a cobrança de direitos autorais, que ninguém explica direito, porque ninguém sabe bem como funciona a gestão coletiva no Brasil.
Talvez por isso, muitos dos autores e artistas que trabalham comigo prefiram ser sócios de entidades estrangeiras. Eles entendem melhor o que elas explicam, mesmo não sendo em português. Há um sentimento generalizado de que as coisas aqui precisam melhorar, de que existem muitas injustiças a serem corrigidas e isso é o que está unindo a classe: a necessidade de informação.
Eles querem saber o que é feito com a percentagem de 24,5% que fica para o Ecad e as sociedades, uma das taxas mais altas que os autores pagam no mundo. Como se chega a esse número, em quê essa verba é gasta e de que forma? Alguém conhece a folha de pagamento dessas entidades? Quanto ganham os altos funcionários do Ecad, pagos pelos criadores? Os autores não têm a menor ideia.
Por que o sistema brasileiro não segue o exemplo das sociedades europeias, que cobram o custo efetivo de cada atividade e não ultrapassam a média de 15 a 16%? Por que o Ecad sempre prefere brigar no Judiciário? Seria por causa dos honorários de sucumbência que recebem seus advogados? Muitas perguntas ficam sem respostas.
Os autores e seus representantes também se queixam de que, se não fosse a imprensa, não chegariam a saber de alguns acontecimentos no mínimo suspeitos. O caso Milton Coitinho, envolvendo um motorista de ônibus de Bagé que teve seus documentos falsificados e utilizados para cadastrar trilhas sonoras de filmes brasileiros, só foi conhecido porque vazou para a imprensa.
Como chega a ocorrer uma fraude grosseira como essa? Por que os autores só ficam sabendo de fatos assim pelos jornais? Muitos nem sabem que as duas sociedades que mandam no Ecad são comandadas por editoras e gravadoras multinacionais. Em uma delas, duas pertencem à Sony; em outra, duas pertencem à Universal. Outras, ainda, são editoras de autores que, por alguma razão, preferem ser eleitos como representantes de suas editoras e não como autores.
Em quase 30 anos de atuação nesse segmento, jamais fui convidada a participar de eleições ou de decisões que afetam os autores, administrando um dos maiores catálogos do Brasil. Em nenhum país do mundo isso aconteceria, só aqui.
A CPI do Senado, em seu relatório final, relatou questões muito preocupantes, que todos ignoravam. Diante disso, como se esperava que a classe reagisse? A resposta é simples: da forma que a imprensa registrou.
Autores e seus representantes resolveram se mobilizar, unir diferentes tribos e gerações, somar forças e atuar em favor de todos. Afinal, o que me impede de defender o patrimônio autoral arduamente construído por Caetano? É o meu ofício, eu ganho para isso. Procure saber!
*Publicado originalmente no jornal Folha de S. Paulo
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