“Com o fim da Lei Rouanet e a forte presença do Estado na cultura, tentemos entender especialmente por que e como a missa, sem músicas e folias, cavalga com mascara encenando o calvário do sinal dos tempos. Aonde estão as chaves de suas tradições e, sobretudo o que está por trás dessa corneta lisa, azeitada e trombeteira contra a regulação do Estado nas relações de poder da produção cultural brasileira?”
O paraíso perdido do “acertei no milhar”
O clube mais exclusivo do mundo, padrão-ouro, desequilibrou com obcecada eficiência e ferrenha ortodoxia neoliberal, o ambiente institucional das artes e letras. São reais as ligações de um clã que desestruturou a cena cultural que culminou na maior depressão que as artes brasileiras já viveram. Com rumo próprio e sensibilidade inglesa, atingem tragicamente a sociedade.
A inusitada premissa consiste na semelhança de enredo dos retorcidos pontos de uma tormenta financeirista, mas que aparece para a sociedade como doce canção. Então, a sociedade pergunta: como num título de canção do mercado “divino”, quem me roubou de mim?
Seria mesmo somente uma dramática história atual de ourofóbicos?
Saída do planeta das conquistas, essa ironia que dá ao papel o título de “Globo de Ouro”, a eficiência captadora assanha particularmente a busca por associações efetivas que não são miragens pela simples observação de que isso lhes rendeu verdadeiras fortunas nos últimos anos.
Lei Rouanet, a grande amiga dos ricos
Nós somos o povo! Grita um dos empresários captadores em suas muitas estratégias geopolíticas. Esta é uma mensagem de convivência civilizada que os captadores gritam contra o governo: não somos um Zé Qualquer! Eles assumem de maneira arrogante as práticas do regime totalitário. Somos nós, de forma concentrada e personificada, o modelo de progresso da cultura. Não há dúvidas, somos o sol!
O Estado regride as nossas práticas fronteiriças! Gritam eles batendo no peito como chipanzés. Assim como mandamentos, essa coisa de se declarar sociedade civil organizada, quando não cafajeste, é, no mínimo um tropeço linguístico canastrão.
De qualquer forma é uma opinião expressa para tentar colocar o governo no paredão. Neste aborto discursivo é que se aninha a serpente. As turbulências mirabolantes de pueris ambições não conseguem disfarçar a traiçoeira guerra contra a democracia, o que sequer podemos classificar de força estranha.
Prefiro largar a neutralidade e revelar, como força contrária, o que há por trás do turbilhão de sutis achaques.
Por que chove tanto na horta dos rouanetes de São Paulo?
Seria uma rara combinação de fatores atmosféricos ou toda essa energia vem das linhas encharcadas com ameaças de golpe, com o título de “Revolução dos Cremes”?
Não devemos por em dúvida a eficácia do remédio, pois, como nos revelou Milton Santos: “logo após o golpe de 1964, muitos capitalistas de São Paulo, para gerir seus negócios, viram mais que dobrar os investimentos federais, em dinheiro puro, rumo aos seus negócios ”. Logicamente, essa concentração nas cantigas dos doces capitalistas, assim como nas dos captadores da Lei Rouanet, tentam reverter a imagem através das estatísticas, justificando que tais investimentos foram para o sudeste como um todo, mesmo que, neste período, o Brasil inteiro tenha assistido ao seu empobrecimento, sobretudo os trabalhadores do sudeste que fizeram saltar as estatísticas do favelamento nesta região sempre utilizada para justificar o injustificável, os 3% de privilegiados.
Quero deixar claro que essas chuvas benditas têm endereço certo como Prêmio Nobel do Caminho das Pedras, direto aos cofres dos mais ferrenhos capitalistas brasileiros. E nesta divisão fica a segunda parte do milagre divino, os raios todos atingiram uma, duas, três, quatro ou mais vezes a sociedade, ampliando assim as estatísticas de pobreza, como recentemente nas chuvas ocorridas em São Paulo, quando somente as periferias fatalmente sofreram com inúmeras inundações.
Mas como os nossos campeões em designer têm um desempenho turbinado pela grande mídia, eles transformam o trágico-grotesco em lúdico, com pequenas correções em pontos e vírgulas das matérias editadas. Assim, a saúde contratual não dependerá de concorrência. Esquivam-se das medidas fiscalizadoras e informam em nota o demonstrativo de uma aeronave que alcança o eterno céu de brigadeiro.
A estratégia é apresentar em rede nacional seus vídeos de prestimosa contribuição e liberdade sistêmica. São eles que aparecerão como inovadores oferecendo a saúde financeira ao alcance de todos. O combustível coadjuvante inseparável é a mentira comprada, emprestada, alugada, não importa. A manchete hipertrofiará as fundamentais dietas, falando com sotaque britânico na diminuição do Estado para que o mercado sinta-se sempre um menino cheio de vigor e espírito empreendedor sugando o sangue do estado!
O espírito do “pensei primeiro” é que dará a única e exclusiva culinária que equivale aos ingredientes do Top-10 da captação restituída.
Por isso, nada de constrangimentos, o objetivo deles será sempre levantar a bola da verdade capitalista e reagir contra as “bandeiras ideológicas” do governo. Mas, na verdade o alvo será sempre a nossa constituição. É este o conjunto de vozes que canta sem qualquer acompanhamento e forma o coro-a-capela dos nauseabundos da Lei Rouanet.
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Carlos, que tal basear essas afirmações em pesquisa ?
Dê nomes aos Bois !
De nome aos Bois!
(anônimo oportuno)
É uma piada?
Carlos, seus artigos sempre tocam na mesma tecla. Uma casta poderosa e mal intencionada que se vale da Lei Rouanet para praticar os mais bárbaros crimes contra a identidade nacional. Embora eu concorde que o mecenato, do jeito que está configurado, permite que tudo isso ocorra, posso te dizer, pela experiência tanto do lado empresarial quanto dos produtores e do poder público, é que tal sofisticação maquiavélica simplesmente não existe. É fruto da imaginação dos que desejam governar sob o signo do medo e do controle. As empresas usam a lei porque ela está disponível. Nossa luta sempre foi tornar o investimento em cultura em algo estratégico.
A Lei Rouanet é tão neoliberal quanto a nossa política cambial. Acho que vc deveria guardar a sua fúria ideológico-doutrinária para atacar realmente o que mina a configuração desse nosso Estado, mais neoliberal do que nunca.
Por enquanto o que temos é um mecanismo imperfeito e injusto (concordo e luto por mudanças concretas, viáveis e, acima de tudo, inteligentes), mas que abastece o setor cultural como nenhum outro.
Uma fociferação em torno de um inimigo imaginário, inventado pelo MinC para enfiar um projeto espúrio, cheio de malícias, goela abaixo.
Carlos e Leonardo,
Estive ausente por escrever aqui. Mas, eu venho acompanhando sempre os debates de vocês dois. Não sei se estou aqui como um espectador de divergências ou, talvez, como um mediador pacífico que sofre na pele todas estas situações que vocês, meus caríssimos companheiros, apontam há vários anos e renitentemente. Meu projeto foi aprovado em 2007 e NUNCA o mecenato solicitado deu-me plenas condições de executá-lo. Passam-se dias, meses e anos e continuo aqui esperando desempregado que a lei funcione, que o SALIC, que o sistema seja mesmo eficiente e que toda a minha dedicação e credibilidade não sejam perdidas em mais outra segunda-feira sem sucesso na Captação de Recursos, em novos editais nacionais, em emails e dispendiosos telefonemas. Eu os considero, os dois, tanto como amigos quanto como bons debatedores, sábios articuladores, de uma mudança necessária e simples para todos nós que estamos utilizando este único mecanismo conhecido e (possivelmente) democrático oferecido, neste momento, em nosso país: a lei Rouanet. Eu reconheço em você meu caro Carlos Henrique um grande poeta e crítico audaz do sistema realmente perverso e angustiante da Cultura; e reconheço em você meu caro Leonardo Brant um pacificador que esclarece com sabedoria científica o que estamos vivendo neste momento de tantas dificuldades para devida justiça do fazer cultural. Vocês dois foram sábios o bastante, empiricamente e/ou cientificamente, nestes anos todos que me dediquei a ler seus artigos e comentários, para trazer-me à tona os movimentos que o nosso sistema não resolve até hoje. Meu projeto continua parado no tempo. Estou observando discussões e audiências públicas infinitas, e então, outros projetos continuam sendo bem executados com recursos aprovados em editais de grandes patrocinadores. Eu tenho estudado muito (e constantemente) sobre o que vocês anunciam vez ou outra. Mas, lamento informar que o que eu sinto do país é uma grande fragilidade. E basta acontecer um desvio, uma corrupção, uma tragédia ou um mesmo um comentário para demonstrar, a todos nós, o quanto que a retórica que eu venho observando aqui, há vários anos, de ambas as partes (Carlos e Leonardo), mantém o teor da estrutura sub-reptícia e insolúvel da lei. E, por mais que eu esteja simplesmente aprovado e publicado ali(como qualquer outro daqueles 10 mil projetos anuais que passam pela CNIC-MINC)ainda assim NADA aconteceu em dois anos e meio de espera, de contínua e meditativa espera!
Grande abraço meus caros Carlos e Leonardo. Espero que o nosso diálogo chegue numa excelente conclusão final para as resoluções práticas que preciso.
Competência e acuidade à todos!
Alexandre Reis
Contemplo Cia de Dança
Carlos Henrique, seu argumento é pertinente e se presta como uma luva a criticar outros setores, notadamente o da Comunicação, onde os trejeitos argumentatórios imiscuíram-se no território da verdade e trombetearam (muito bem simbolizado!)novas verdades que, através do tempo deformaram e desviaram a história do país, assim como de tantos outros países, da nossa América.
Alexandre, possivelmente você seja a vítima típica do atual estado dessa neo-colonização e tem razão quando percebe como retórica essa luta que se trava para se estabelecer que os direitos sejam garantidos, que o acesso seja universal e a fruição natural. Essa luta é parte do processo. Vem causando algumas dores e muita grita.
A decisão de instituir as conferências setoriais, por exemplo, foi uma substantiva contribuição ao processo de consolidação da nossa democracia e promete muito. Tanto assim que vem causando alguns traumas, citados pelo Carlos Henrique. Quem sempre deteve o poder não aceita dividí-lo, muito menos com o povo. Daí uma grita dos "donos" do poder, do dinheiro, da imprensa, dos mecanismos de controle, das verdades temporárias.
É apenas parte da luta. Sua consecução depende da consistência, pertinência e determinação dos que acreditam e defendem um Estado Democrático, onde os direitos sejam garantidos pelo povo através dos seus fóruns. Então o acesso poderá ser universal e a fruição natural.
Enquanto isso, devemos manter a disposição para o saudável exercício da luta, não aquela obscura que a imprensa não publica, mas essa, esta, aberta, clara, franca e leal, que travamos agora.
Olá Alexandre
Que alegria ler o seu comentário! Primeiro, agradeço o carinho e respeito de suas palavras e compreendo, com toda intensidade de um sentimento de frustração. Estamos no mesmo passo. Agora, quem lhe fala é o músico, o compositor, é o artista que, assim como você, se dedica à construção de um planejado e sincero projeto. E nesta questão temos um calo igual, e calo, como sabemos, não tem data de validade. O que nos cabe é tentar ir removendo o seu olho e usar sapatos menos apertados. Acontece que esta dinâmica, calo e sapato, são naturalmente retóricas.
Entendo as preocupações de Leonardo em proteger os sapatos, até mesmo os de cromo alemão. As vezes, claro, reclamo da falta de bula em sua receita, ou melhor as especificações em percentuais de cada componente que elaboram estes sapatos.
Como eu disse, o calo tem olho, que diante de um abcesso, reage, lacrimeja, coça e transfigura a nossa fisionomia parecendo excessivamente avermelhados. E é nesta hora que, talvez por falta de um argumento sólido, os rótulos de extremismo ideológico "vermelho", transformem-se num enorme vazio.
Você, por exemplo, que trabalha com dança, cansa de ver a exaltação de um ou dois grupos de dança e a constante e ininterrupta assistência a um determinado grupo, ao mesmo tempo você observa que tal ou tais grupos têm acesso livre a espaços nos jornalões ou na mídia televisiva, numa clara justificativa àquela hegemonia. Então, você investiga, como esses intermúndios culturais se conectam, e percebe que não há exatamente uma teoria da conspiração, mas do cumpadrismo ou cunhadismo que, aliás, foi arma catequista dos jesuítas. Essa espécie de facção que aqui chegou e uniu o nosso culto ao culto, ou culto ao lucro, é dominada sim por uma casta e, como disse Sarkovas, é muito bem articulada em toda a estrutura da sociedade brasileira. Aliás, o setor privado brasileiro tem como praxe, ser comunista na captação de recursos públicos e ser fundamentalista neoliberal em seus lucros.
O que quero dizer, por exemplo, Alexandre, é que o shopping das letras dos Marinhos feito com o meu e com o seu dinheiro, é só mais um pilar estrutural de poder de quem, desde a época do Getúlio, aplaudindo a ditadura, elegendo o Collor e o FHC, suga as tetas do Estado. E se esse político for descoberto pela população, assim como o Collor, ela é primeira a erguer a bandeira do linchamento. Este assunto é longo, Alexandre, talvez não seja um debate entre Leonardo e eu, mas sim a sociedade, através do Estado construido democraticamente pelo voto, e o setor privado no qual eu também estive por mais de vinte anos e conheço bem as suas práticas.
Não há dúvidas de que Leonardo se aflige com os rumos da cultura. O que discordo dele é não só a dosagem do remédio que ele imagina ser boa, mas, sobretudo o remédio que absolutamente desvaloriza, desqualifica não só a cultura brasileira, mas a sociedade, fazendo-a crer que não tem condições de se gerir, de se administrar. Portanto, o Banco Itaú, o maior agiota do Brasil, que nos rouba descaradamente com suas taxas de serviços e juros extorsivos, é que dá orientações ao seu dinheiro, ao meu e ao do Leonardo. Se a cultura for isso, a carta de incapacidade de se gerir como pensamento, então ela seria um blefe, coisa que não é, ao contrário, ela é o principal agente político das vozes da sociedade.
Mas vamos em frente, Alexandre. É o debate, por mais retórico que pareça, que fortalece a democracia.
Grande abraço.
Me apresenta a esses donos, porque o Juca Ferreira que deveria ter o poder de anuncia-los, nunca o fez. Então, vc que sabe mais das coisas, deveria fundamentar de maneira honesta sua acusação. Fica sempre esse generalismo abstrato que não profilera porque não traz o concreto do dado, apenas o utópico do jargão ideológico, que não desvela nem revela o essencial: quem são, o que fazem, como fazem, para quem fazem com o $ da cultura, que deveria ser de todos, ou, pelo menos, de muitos, mas é de poucos.
Por outro lado, quando vejo a Petrobras utilizando largamente a Lei Rouanet para financiar projetos da Funarte, chego a desconfiar que Juca não abre a caixa preta porque pode atirar no próprio pé... E ainda tem as famosas associações de amigos da Funarte, do Museu isso, do balé aquilo, etc...
Sobreira
o generalismo abstrato que vc acusa... Mais uma vez, ou é fruto da sua total ignorância ou de sua total leviandade.
Esse jogo intimidatório não cola comigo!
Tente outras praticas.
A questão não me parece se a Petrobras incentiva projeto da Funarte, é saber se o projeto deve ser ou não incentivado. Se a deve, então ainda bem que a Petrobrás financia. Ruim é ver a Petrobrás patrocinando projeto da Natura para trazer Sting ao Brasil e depois falar mal do governo. Pra isso a Natura pode trazer sozinha e, talvez, sem isenção fiscal ( será que traria?).
A questão é determinar prioridades, escolher o caminho e seguir em frente. Precisamos saber se queremos incentivar espetáculos estrangeiros, que eles venham é ótimo, queremos, mas com isenção fiscal? O que faremos com nossa isenção? É para criar musculatura própria ou é para difundir a memória estrangeira? E ISSO NÃO É UMA QUESTÃO DE NACIONALISMO COISA NENHUMA! ( desculpe o excesso...). Devemos ter o mesmo nacionalismo que Obama, Sarkozi, qualquer um deles, o mesmo, nem mais nem menos. A questão é outra: é saber o que incentivar, para onde e para que. Se queremos disputar a competição internacional como daremos musculatura a nossa produção? Isso é política, queremos dirigismo, mais dirigismo na nossa democracia, vamos lá, mais dirigismo, queremos mais governo, governo que não deixe barraco no precipício, governo de ação.
A CARTA CAPITAL está com uma otima matéria
Os "Reis da Chepa" (Eduardo Graça, de Nova York, e Gianni Carta, de Paris) que abre bem o leque em afirmação a esta questão.
sss://www.cartacapital.com.br/app/materia.jsp?a=2&a2=9&i=6423