Categories: PONTOS DE VISTA

Por uma agenda mínima para a cultura


Quais são as nossas reais possibilidades de participar e interferir nas políticas públicas de cultura? As conferências municipais, estaduais e nacional são ambientes férteis para o debate e a construção de agendas e propostas? Quem comanda, decide, mobiliza e articula o temário, a participação e, sobretudo, as conclusões da CNC? Quais as relações possíveis entre as Conferências de Cultura e Comunicação?

2010 será ano de eleições presidenciais. Governos estaduais, Congresso Nacional e Assembléias Legislativas também serão renovadas. As Conferências Nacionais de Cultura e de Comunicação, a serem realizadas no início do ano, serão fundamentais para estabelecer o elo necessário entre a construção da agenda política e o compromisso com a execução dessa agenda.

Mesmo sem a infra-estrutura necessária para a garantia dos direitos culturais dos cidadãos, o Brasil aavançou a ponto de possibilitar a articulação e participação de artistas e profissionais de cultura, sobretudo por meio de fóruns e redes, em torno de uma agenda mais avançada e contemporânea para o setor.

Mesmo em ambientes contaminados pela presença estatal, que redireciona, filtra e trabalha as pautas segundo interesses de grupos, classes, partidos, ideologias e projetos, é inegável a possibilidade do exercício da contraposição a esses interesses, algo ainda experimental e inovador em nossa recente democracia.

Participar dessas discussões é fundamental para garantir a continuidade e o aprimoramento de programas como o Cultura Viva, que vem sendo modificado pelo rolo compressor do Mais Cultura e corre o risco de perder sua identidade programática, a serviço de uma agenda eleitoral.

De reconstruir um Sistema Nacional de Cultura que viabilize o pacto federativo em torno de demandas urgentes da política cultural. De dar concretude ao Plano Nacional de Cultura, com orçamento e estrutura mínima para garantir o avanço em relação ao patamar até aqui alcançado.

Estamos falando, sobretudo, de uma real possibilidade de pactuar uma agenda mínima para a cultura, apartidária, consensual e articulada com os diversos setores e esferas da sociedade, independente do próximo governante, ainda mais considerando a cada vez mais indefinida corrida eleitoral.

Seremos capazes de nos unir em torno dessa agenda?

Leonardo Brant

Pesquisador cultural e empreendedor criativo. Criador do Cultura e Mercado e fundador do Cemec, é presidente do Instituto Pensarte. Autor dos livros O Poder da Cultura (Peirópolis, 2009) e Mercado Cultural (Escrituras, 2001), entre outros: www.brant.com.br

View Comments

  • Leonardo Brant,como vai?

    Sou aluna do Curso de Produção Cultural da UFF e gostaria de saber como faço para começar a discussão sobre cultura no município de Magé-RJ, e como proceder na elaboração de uma agenda mínima para a cultura.
    Tive a seguinte idéia criar uma Ong. sem vínculo partidário e articulada com os diversos setores e esfera da sociedade intitulada : "A cultura independente" ou " Cultura sem fronteiras" cujo objetivo é reunir profissionais envolvidos com alguma vertente cultural e formar um grupo independente para estar atuando no terceiro setor. O propósito maior é estar articulando interfaces culturais e dar oportunidade aos jovens do interior de produzir e criar sob o seu ponto de vista.

    E aproveitado, minha monografia versará sobre : A formação humana nas escolas em relação à produção cultural; se você tiver alguma referência bibliográfica poderá me indicar?
    Obrigada!
    Anete Lopes Souza de Moura

  • Boa tarde Leonardo.
    Existe muita falação, muito verbo e pouco resultado pratico.
    Quem não é do sul/sudeste maravilha se lasca todo e não vejo nada que vá mudar isso.

    Nem a nivel Federal ou nas esferas Estadual e Municipal não ha sinais que "algo novo" no ambiente cultural vá mesmo acontecer, muito pelo contrário.

    Aqui em Mato Grosso, por exemplo, a politica(?) ( essa palavra é ridicula em si tratando de MT ) cultural do Blairo Maggi, para o setor do audio-visual é RIDICULA, revoltante. E o governador não esta nem ai. A unica alternativa nossa é tentar viabilizar qualquer projeto via mecanismos federais. E na sequencia conseguir ajuda para tantar conseguir o patrocinio - IMPOSSIVEL POR ESTAS BANDAS - o presidente da federação das industrias ( assim mesmo - minuscula ) nem te recebe. Este ano MT recebeu 2 merrecas da PETROBRAS para 2 eventos que já são tradicionais aqui.....o FESTIVAL CALANGO e o FESTIVAL DE CINEMA E VIDEO DE CUIABÁ....que este ano teve apenas e tão somente um ( 1 ) video de MT concorrendo, e mesmo assim foi feito no Rio de Janeiro com um diretor mato-grssense - EDUARDO FERREIRA - no ano que vem não teremos nenhum.

    Com os mecanismos estaduais é IMPOSSIVEL TRABALHAR, com os mecanismos Federais, não se consegue passar do MINC. O MINC não é o problema, o problema é depois do MINC.
    Neste link abaixo eu digo com todas as letras disponiveis no alfabeto o que penso a respeito.

    sss://www.dctv.com.br/index.php?pag=video&Cat=1&Video=358

    e não sou o unico aqui a ter esta postura e opinião, o tambem diretor, Eduardo Ferreira, ganhador do Festival deste ano diz a mesmo coisa., olha o link:

    sss://www.dctv.com.br/index.php?pag=video&Cat=1&Video=437

    É claro que esta situação não é privilégio nosso, mas este é o Brasil verdadeiro que não mudou nada nos ultimos 509 anos.
    E nem vai mudar.
    abraços

  • Leonardo
    Só quem pode fazer essa mudança é a sociedade. O setor privado, após todos esses anos de leis de incentivo, principalmente a Rouanet, recebeu carta branca, liberdade total, e o que fizeram os ilustres visionários do terceiro setor, os nossos "lobsang rampas"? Proferiram a terceirização eterna, ou seja, pegar a grana da sociedade e produzir um subprojeto picotado, estrangular o orçamento na hora da distribuição e sentenciar as estratégias amplas para entrar novamente na fila e captar mais e mais recursos.

    Essa é a nossa "sociedade civil organizada" que prometeu a revolução e se postulou como mártir da livre iniciada depois que a grana pública estava na conta e foi para Búzios, o nosso principado de Mônaco, torrar a bolada.

    Quanto ao Estado, o setor privado se associou a ele, fez altas tabelinhas. Os dois juntos jogaram pedra no governo. São filhotes da mesma ditadura social. A doutrina do Estado sempre foi a doutrina do capital, do mercantilismo. Nesse ponto os siameses dividiram a tigela de leite morno e açucarado.

    Por esse caminho nada se tem, não há mobilização em torno dessa causa. A cada dia percebe-se que, ao contrário a sociedade terá que reconstruir todo o desastre que demandou o gigantismo da mega indústria de pojetos do setor privado e do estático Estado.

    Essa turma toda é barra pesada, já disse aqui inúmeras vezes. O nosso menestrel da sociologia dos chiques e cultos, o gladiador dos ricos, Demétrio Magnoli é a síntese disso, ele é o mascote desse pensamento. Arrogante e presunçoso, defende o seu emprego em programas de auditório com sua chacrinha teórica, sempre com aquele ar de timoneiro de um país desgovernado. magnoli está falando sozinho, pois não diz coisa com coisa. Ataca negros e brancos pobres, ora pela cor da pele, ora pela fome de milhões. Este é o quadro civilizatório que caiu como luva na mão dos higienistas culturais.

    Hoje esse ambiente está vazio, ouvimos os ecos dos nossos passos dentro dessas imponências arquitetônicas.

    As políticas culturais dos estados e municípios são desastrosas, mas serão elas as primeiras que deverão estar na mira das mudanças concretas. É um traalho longo e árduo, porém não há outro caminho.

  • Leonardo,

    Bastante oportuna e necessária a sua reflexão. Vou divulgá-la junto as rede de contatos das quais participo.

    Abraço,

  • "Quem não é do sul/sudeste maravilha se lasca todo e não vejo nada que vá mudar isso." (Cacá de Souza).

    Com esta frase acima, você está reclamando de quê? Do sul maravilha? Não é você aqui na semana passada, inspirado no livro do jagunço do Serra, Reinaldo Azevedo pra dizer que eu sou petralha? Você está parecendo Gerald Thomas que, aliás, é quem escreve o prefácio do livro do figuraça da Veja. Agora está lá o Geraldão de bodedizendo que não mais quer saber de teatro. mas no seu caso é muito pior, porque seu ídolo, Reinaldo Azevedo defendo o sul maravilha meu amigo! Ou você não viu o secretário de cultura do Serra, João Sayad defendendo os captadores paulistas? Os tais 3% que captaram 50% dos recursos da Lei Rouanet. É você mesmo que, da arquibancada, tremula a bandeira desses caras, agora não está aguentando o repuxo?

    Reinaldo que ama Serra que ama Sayad e etc, etc, que detestam o Mato Grosso que fará o calango! Eles falam em Debussy.

  • Discussão de real importância mas tem que ser desmembrada ou distanciada de partidarismos.
    Cultura não deveria ser mercado nem servir de palanque e, vir atrelada a um real compromisso com a revolução da educação e do planejamento social.

Recent Posts

Consulta pública sobre o PAAR de São Paulo está aberta até 23 de maio

A Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo abriu uma…

6 dias ago

Site do Iphan orienta sobre uso da PNAB para o Patrimônio Cultural

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) lançou a página Aldir Blanc Patrimônio,…

1 semana ago

Seleção TV Brasil receberá inscrições até 5 de maio

Estão abertas, até 5 de maio, as inscrições para a Seleção TV Brasil. A iniciativa…

1 semana ago

Edital Transformando Energia em Cultura recebe inscrições até 30 de abril

Estão abertas, até 30 de abril, as inscrições para o edital edital Transformando Energia em Cultura,…

2 semanas ago

Congresso corta 85% dos recursos da PNAB na LDO 2025. MinC garante que recursos serão repassados integralmente.

Na noite de ontem (20), em votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) no Congresso…

3 semanas ago

Funarte Brasil Conexões Internacionais 2025 recebe inscrições

A Fundação Nacional de Artes - Funarte está com inscrições abertas para duas chamadas do…

3 semanas ago