A grande movimentação da internet da última semana foi a Black Friday. Importada dos Estados Unidos como a data que dá início às compras do final de ano, a sexta-feira de descontos é um dos símbolos da cultura do consumismo: ainda que não se precise comprar determinado produto, por que não aproveitar uma promoção?
Para ele, diferente dos EUA, que têm a cultura da colaboração arraigada desde a época dos colonos, o modelo brasileiro é “mais viciado na esmola do que na construção coletiva de um sentido comunitário” e isso só vai mudar através do exemplo. “Ações são o melhor discurso para ampliarmos a cultura de doação no Brasil. Vamos doar exemplos.”
Em 2008, uma crise quase acabou com a Bienal de São Paulo. Afogada em dívidas, a instituição sofria com a falta de credibilidade e era tocada por uma equipe desmotivada. Em 2009, um grupo de voluntários assumiu as rédeas e conseguiu reverter a situação, mas pouco se soube depois sobre as pessoas que colocaram a mão na massa e como eles fizeram isso. Para contar essa história, a produtora audiovisual Jabuticaba Conteúdo lançou um projeto de documentário no Catarse. Mas, faltando apenas 15 dias para o fim da campanha, captaram apenas cerca de 4% do valor necessário.
“A gente sabe que há uma curva de doações. Há um entusiasmo inicial, que perde força no meio do processo, mas volta no fim. Estamos exatamente neste momento de queda, trabalhando para ganhar adesões nas últimas semanas”, conta Maria Tereza Gomes, uma das sócias da produtora. Ela diz que já trabalhou em outros projetos que foram bem sucedidos e que aprendeu que é preciso fazer contato pessoal por telefone e email com os potenciais doadores. “Nossa campanha digital está focada no Facebook. É dessa rede social que tem saído a maior parte das doações. No entanto, muitas pessoas prometeram divulgar ou doar para o projeto, mas não o fizeram. Isso é meio chato e gera um certo desânimo”, admite.
Angariando pessoas – No próprio Catarse, quando era apenas uma ideia, os sócios ouviram muito que brasileiro não tem a cultura da doação. “Até colocar a plataforma no ar não sabíamos se o modelo do financiamento coletivo funcionaria no Brasil”, lembra Felipe Caruso. “De fato existe no país uma desconfiança quando o assunto envolve dinheiro, principalmente quando a operação é online, além de um ranço do gesto de pedir dinheiro para realizar um projeto.”
Quatro anos depois, cerca de 180 mil pessoas contribuíram com quase R$ 25 milhões para 2.615 projetos, dos quais 1.430 (55%) alcançaram a meta. “Ainda é pouco, mas já é bom indício de que é possível superar essa suposta falta da ‘cultura de doação'”, acredita Caruso. Hoje há 220 projetos no ar. A plataforma não contabiliza quais são projetos culturais, mas os destaques são as categorias Carnaval (80% de taxa de sucesso), Dança (78%) e Quadrinhos (74%).
Muitas das pessoas que chegam até o Catarse são levadas por uma campanha que está no ar e lá conhecem o modelo e outras iniciativas. Caruso explica que a confiança que o apoiador têm no realizador da campanha é transferida para a plataforma em que o projeto está hospedado. “A experiência positiva tanto de apoiadores quanto de realizadores faz essas pessoas retornarem ao Catarse. Essa escalada da confiança desde o primeiros projetos até a construção da credibilidade atual da plataforma foi fundamental para o estabelecimento de uma cultura de colaboração.”
Outro ponto essencial foi a transparência: o fato do público saber exatamente para qual projeto está contribuindo, com uma apresentação de fácil compreensão, e ter certeza de que o dinheiro será devolvido caso a meta não seja alcançada até o final do prazo, trazem segurança ao apoiador.
Para Maria Tereza, as boas causas, quando bem comunicadas e empreendidas por líderes com credibidade, mobilizam as pessoas para doarem das mais diferentes formas. “Há muitas formas de doação: de dinheiro, de trabalho voluntário etc. Os Voluntários que Salvaram a Bienal doaram principalmente seu tempo e talento. Uma dedicação impossível de ser mensurada, mas sabemos que foi bem sucedida”, afirma. Além disso, ela lembra que eles foram capazes de mobilizar muitas outras pessoas que doaram dinheiro.
Heitor Martins, presidente da Bienal na época, conta que foram feitos jantares de arrecadação de recursos. “Quando a gente falou que queria uma contribuição de R$ 5 mil por pessoa, parecia uma coisa impossível, mas a gente conseguiu levar 500 pessoas que estavam dispostas a contribuir. Era uma demonstração da força que a instituição tinha dentro da sociedade.”
No caso do Catarse, apesar do modelo ter a doação como base no aspecto legal, na prática essa relação vai um pouco além, diz Caruso, porque envolve uma recompensa. “Não é uma via de mão única. O realizador recebe o dinheiro para fazer o projeto. E o apoiador, além de ver acontecer o projeto em que acreditou, recebe uma recompensa por isso”, lembra ele, admitindo que ainda há um trabalho de longo prazo a ser feito. “Tanto a constante superação da desconfiança e a construção de uma cultura de colaboração, quanto a mudança na narrativa, para mostrar que não há nada de demeritório em pedir dinheiro em suas redes para executar projetos.”
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