Por sorte, salvo poucos casos isolados, o audiovisual brasileiro não costuma fazer uso de emendas parlamentares, de difícil e complicada negociação e liberação, para fomentar sua atividade. Desse relativo mal não costumamos ser reféns. No entanto, o audiovisual brasileiro, até pouco tempo, dependia sim, quase que exclusivamente, dos incentivos fiscais e dos editais de fomento direto para poder existir. Sendo então mais um dos segmentos culturais parcialmente refém das leis de incentivo.
Já os editais não têm uma periodicidade e o processo de captação leva tempos muito diferentes a cada novo projeto e, em alguns casos, por força de lei, as empresas só podem trabalhar com um projeto por vez. Os editais são fundamentais para garantir a renovação de linguagem, a experimentação e a formação de novos realizadores, mas são profundamente ineficazes na formação de uma indústria audiovisual.
Portanto, a inconstância da realização de projetos audiovisuais muitas vezes inviabiliza o funcionamento da maioria das empresas de pequeno e médio porte, pois não conseguem capitalizar-se produzindo, exclusivamente, projetos “culturais”. Chegam muitas vezes a fechar as portas. Outras conseguem sobreviver à sazonalidade dos editais e projetos incentivados com isenção fiscal realizando diferentes tipos de trabalhos na área do audiovisual: institucionais, publicidade etc. No entanto, essa constante mudança nas atividades das empresas não lhes permite estabelecer um típico processo produtivo industrial com fluxo produtivo contínuo e cada profissional cuidando de uma etapa ou determinada tarefa na produção.
O que costuma acontecer é que, dependendo da etapa em que se encontre o projeto (criação, produção ou distribuição), a empresa tem que se enfrentar à ociosidade de equipamentos específicos e profissionais em suas áreas de atuação que não tenham relação direta com a etapa momentaneamente desenvolvida. Característica produtiva que, em muitos casos, inclusive a atividade artesanal já conseguiu superar.
O tripé da realização cinematográfica ou audiovisual é formado por: produção, distribuição e exibição. Certamente na atualidade os problemas do audiovisual brasileiro se evidenciam mais na concentração de recursos nas mãos de pouquíssimas produtoras e na falta de políticas públicas para alavancar as pequenas e médias produtoras nacionais, assim como regionalizar mais a produção de conteúdo. Tudo isso no campo da produção. Já a distribuição continua a ser um grande gargalo. E é aí onde se evidencia outra vez a razão de sermos, parcialmente, reféns das leis de incentivo em virtude de um mercado que não se auto-sustenta.
Ter um filme gravado e finalizado não garante sua estréia nas salas de cinema. A exibição se trava, pois o Brasil possui pouco mais de 2.250 salas de cinema. Estão presentes em apenas 7% dos municípios brasileiros. Geralmente concentrados nas capitais e com o valor médio de ingresso entre os mais caros do mundo, pois, entre outras razões, quase sempre estão situados nos shopping centers. Desses 7% dos municípios com salas de cinema, mais de 85% deles estão no eixo Rio – São Paulo – Minas Gerais. Segundo a Ancine, nos cinemas de todo o país foram vendidos no ano passado 143,9 milhões de ingressos. Gerando um total de renda bruta de 1,44 bilhão de reais.
Agora, se olhamos apenas para a produção audiovisual nacional, percebemos que foram lançados 99 filmes nas salas de cinema, o maior número de filmes brasileiros dos últimos 10 anos. E assim mesmo a presença dos filmes brasileiros no ano de 2011 no mercado de exibição em salas de cinema (market share) foi de apenas 12,4%. Em detalhes: a cinematografia brasileira foi vista por 18 milhões de pessoas e arrecadou 163 milhões de reais de renda bruta. Renda bruta porque esse montante é posteriormente dividido entre distribuidores, exibidores, produtores etc. Sendo então insuficiente para financiar a produção nacional.
Os incentivos fiscais são os que garantem essa produção de quase 100 filmes anuais lançados nos cinemas. Estima-se que, sem as linhas de fomento de incentivos fiscais federais e locais, utilizando somente o valor arrecadado em bilheteria, menos de 10 filmes brasileiros por ano seriam economicamente viáveis. E assim mesmo, praticamente todos esses 10 filmes seriam co-produções com a TV aberta líder de mercado no Brasil. Projeta-se que seria necessário o dobro de salas de cinema no país para que a bilheteria pudesse garantir o financiamento dos filmes nacionais. Ou, pelo menos, equiparar os custos de produção.
No entanto, caso tivéssemos o dobro de salas de cinema, cerca de cinco mil, teríamos a mesma média de salas por habitantes da Argentina e do México. Mas ainda muito longe das melhores médias mundiais: dos EUA e França. Para chegarmos a patamares similares aos deles, deveríamos ter em média cerca de 20 mil salas de cinema espalhadas por todo o país. Entretanto, foi com muita dificuldade que conseguimos passar dos 10% desse almejado patamar.
E esta deturpação não se dá apenas nas salas de cinema. A visibilidade do audiovisual brasileiro também é muito baixa na TV aberta. Em 2010, as produções nacionais ocuparam apenas 13,5% das horas destinadas a filmes contra 86,5% para as produções estrangeiras. O cenário da produção nacional para a TV por assinatura também não é animador. Somente 11,1% do conteúdo veiculado na TV fechada é brasileiro.
E o que mais lamentamos em relação a este obscuro cenário de dificuldades de opções de exibição nas salas de cinema e nas tevês é que, comprovadamente, em países com a cinematografia mais desenvolvida que a nossa, a parceria de co-produção entre produção cinematográfica independente e as tevês é condição cinequanon. Grande parte das vezes, regida por fortes leis específicas sobre o tema.
Na discussão que ocorreu em nosso setor após o impeachment do presidente Collor, sobre como resgatar o cinema brasileiro da terra arrasada que o presidente recém impeachado deixou, chegou-se a definição de dois pilares: uma lei de incentivo fiscal e um mecanismo que estabelecia uma parceria com as tevês privadas. O segundo pilar, que faria as tevêss cumprirem um importante papel junto à produção de cinema independente, foi completamente torpedeado pela força das tevês, sobrevivendo apenas o mecanismo de incentivo fiscal, como ferramenta única de fomento à atividade.
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