Categories: DESTAQUE

Quem quer livros de arte?

Nesta semana o Imprint Brasil, projeto setorial de apoio à exportação promovido pela Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf) e a Apex-Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) participa de 11 rodadas de negócios em Nova York e Washington, nos Estados Unidos. À mesa, algumas das principais editoras americanas de livros de arte, cultura, fotografia, arquitetura, gastronomia e natureza.

O objetivo brasileiro é prospectar oportunidades para que as gráficas nacionais atuem no mercado dos livros de luxo, também chamados de “coffee table book” (ou livros de centro de mesa). “O Brasil possui qualidade técnica e expertise para atuar nesse mercado em nível de igualdade com os mais avançados parques gráficos mundiais. E agora, com a alta do dólar, ganhamos também competitividade de custo”, afirma Levi Ceregato, presidente nacional da Abigraf.

Essas publicações responderam por 5% do mercado americano de livros em 2014, movimentando cerca de US$ 1,4 bilhão (não há dados sobre o Brasil). Um mercado que se pauta pelo alto nível de exigência e tem como principal entrave para sua produção o alto custo em todo o processo.

Projetos pessoais e institucionais têm ajudado a fomentar esse mercado, como quando um fotógrafo ou arquiteto reconhecido decide reunir suas melhores produções em uma edição de luxo, ou uma empresa prepara uma obra comemorativa de sua fundação. Mas ainda não há demanda expressiva no Brasil para esse tipo de livro, segundo Ceregato. “Sua produção continua bastante vinculada a programas de incentivo, como a Lei Rouanet.”

Charles Cosac faz coro: o interesse do público brasileiro por livros de arte não poderia ser menor. “Infelizmente, e apesar dos esforços, os livros de arte são sempre vinculados a brindes e, no fim, os maiores interessados e potenciais compradores acabam por ganhar o livro de presente. Esse mesmo livro é vendido aos verdadeiros interessados em promoções pontuais. Eventualmente, ele encontra o seu leitor, mas o interesse é muito fraco”, afirma o fundador da editora Cosac Naify.

Pioneira na publicação desse tipo de objeto no Brasil, a Cosac Naify nasceu de um desejo pessoal de Charles em produzir livros de arte que lhe satisfizessem. E tornou-se referência no mercado nacional – entre 2011 e 2015 foram 55 livros de arte publicados pela editora. “Nesses 18 anos temos mantido os lançamentos de livros de arte e das monografias de artistas”, conta o fundador. Conseguiram até sucesso de vendas com livro sem patrocínio, como o de Cildo Meireles, lançado no início de 2014. No entanto, as tiragens não ultrapassam dois mil exemplares e demoram anos para serem vendidas. “Jamais reimprimimos um livro de arte”, diz Charles.

Acesso – Mas há mais gente querendo mudar esse cenário, mesmo não fazendo parte do mercado livreiro. “Antes de comprar um prédio de alta arquitetura, a pessoa precisa gostar de arquitetura. E para gostar de arquitetura, tem de aprender sobre tudo que ela envolve: artes visuais, design, urbanismo, paisagismo etc”, pensou o publicitário Rodrigo Leão, sócio e diretor de criação da Casa Darwin, ao ver o novo prédio da incorporadora Idea!Zarvos, em São Paulo.

Daí surgiu a ideia de criar em uma das lojas disponíveis no térreo do edifício uma livraria de arte. “Vivemos em uma cidade que é cosmopolita e efervescente culturalmente. Então pensamos que seria agregador trazer para as pessoas livros bacanas, desses assuntos que amamos e que possuem total sinergia com a atmosfera da Vila Madalena”, conta Otávio Zarvos.

E assim nasceu a Livraria Idea!Zarvos, que será inaugurada nesta sexta-feira (20/11) no bairro da zona oeste paulistana. O objetivo é possibilitar o acesso às publicações, estando as pessoas inseridas ou não no mundo das artes. A FreeBook, importadora de livros de arte há 39 anos no mercado, é responsável pela seleção dos 700 títulos a serem expostos e vendidos ali.

A Idea!Zarvos fará a operação da loja, mas abriu mão da sua parcela do lucro. “A pessoa pode comprar com um valor abaixo do preço de mercado e também pode simplesmente passar um tempo lá lendo e se atualizando sobre os assuntos que mais lhe interessem”, indica Zarvos.

Para Manuel Dias Teixeira Neto, o Petit, criador da FreeBook, a principal diferença do mercado de livros de arte nos últimos 40 anos foi o fim da censura, o que permitiu que as editoras aumentassem as possibilidades de títulos a serem disponibilizados para o público. O processo de importação também ficou mais fácil, já que há quatro décadas o transporte das obras tinha custos muitos mais altos, e o acesso às informações sobre os lançamentos era muito mais complexo e demorado. “O que não mudou nada foi a questão burocrática”, aponta.

Outra questão é que as livrarias agora importam os livros diretamente. Não precisam mais, em tese, do trabalho de Petit. Por isso ele acredita que projetos como o da Idea!Zarvos, assim como pequenas livrarias especializadas em temas específicos, são o que podem garantir a sobrevivência nesse mercado mesmo em tempos de crise econômica. “É um tendência que já acontece lá fora. Não é uma grande loja com café, restaurante… É pequena, com atendimento personalizado.”

Para Petit, os livros de arte são um investimento, assim como as obras que se compra em galerias. “Você tem um livro com tiragem limitada, que custa milhares de reais e que envolve a paixão das pessoas. Isso se valoriza ainda mais com o passar do tempo”, defende.

Ceregato não acredita que os livros de arte possuem as características que tornam uma pintura ou uma escultura um investimento, com um mercado que permite liquidez imediata. Mas concorda que, ao se tornar uma obra rara, cobiçada por colecionadores, esses livros propiciam sobretudo ganho de imagem para todos os envolvidos na cadeia.

Mônica Herculano

Jornalista, foi diretora de conteúdo e editora do Cultura e Mercado de 2011 a 2016.

Recent Posts

MinC lança nova versão do Cadastro Nacional de Pontos e Pontões de Cultura

Fonte: Ministério da Cultura* Entraram no ar, na semana passada, as primeiras atualizações, melhorias e…

18 horas ago

Programa Jovens Criadores, do Theatro Municipal de São Paulo, recebe inscrições

As inscrições para bolsistas na 5ª edição do Programa Jovens Criadores, Pesquisadores e Monitores estão abertas até…

5 dias ago

Edital AMBEV Brasilidades 2025 recebe inscrições até outubro

A AMBEV está com inscrições abertas para o edital Brasilidades 2025, com o objetivo de…

6 dias ago

Museus de São Paulo selecionam projetos artísticos para compor sua programação cultural em 2025

O Museu da Língua Portuguesa e o Museu do Futebol estão com editais abertos para…

6 dias ago

Pesquisa revela que atividades culturais melhoram saúde mental dos brasileiros

Fonte: Fundação Itaú Divulgada essa semana, a quinta edição da pesquisa Hábitos Culturais, sobre o…

2 semanas ago

Governo de São Paulo recebe inscrições em 3 editais para Pontos de Cultura

Estão abertas, até 05 de fevereiro, as inscrições em três editais para Pontos de Cultura…

2 semanas ago