Uma importante questão tem me interessado, que é a regionalização do audiovisual no Brasil. Isso porque a regionalização tem se tornado o grande discurso da Agência Nacional de Cinema (Ancine) para tratar da nossa diversidade. No dia 7 de dezembro, em cadeia nacional, o governo federal veiculou uma propaganda que trata do audiovisual brasileiro, “Grande como o Brasil”. A temática da regionalização se torna o centro das atenções.
A regionalização das ações e políticas públicas do cinema e do audiovisual brasileiro já é colocada a partir da medida provisória 2.228-1/2001, que está no surgimento das primeiras políticas públicas do segmento audiovisual deste século ao estabelecer os princípios gerais da Política Nacional de Cinema, assim como ao criar o Conselho Superior de Cinema (CSC) e a Ancine, e, também, instituir o Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Cinema Nacional (Prodecine) e os Fundos de Financiamento da Indústria Cinematográfica (Funcine) e, por fim, alterar a legislação sobre a Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional (Condecine), entre outras providências.
Na MP 2.228-1/2001, no artigo 6º, que trata dos objetivos da Ancine, a temática do regionalismo destaca-se nos incisos V e VI. No primeiro, um dos objetivos da Agência está promoção da articulação dos vários elos da cadeia produtiva da indústria cinematográfica nacional e, no segundo, a Ancine visa estimular a diversidade da produção cinematográfica e videofonográfica nacional e o fortalecimento da produção independente e as produções regionais, com vistas ao incremento de sua oferta e à melhoria permanente de seus padrões de qualidade.
Ou seja, a Ancine, desde a sua criação, se propõe articular a produção, distribuição, exibição, que são fases da cadeia produtiva do cinema e audiovisual, como também a preservação, formação, difusão, pesquisa, entre outros. E também almeja um estímulo à diversidade da produção audiovisual brasileira, por meio do empoderamento das empresas nacionais independentes e das produções nas diferentes unidades da federação, para que se alcance um nível de oferta e qualidade no segmento audiovisual em comparação aos grandes eixos e núcleos produtivos do Brasil, como Rio e São Paulo.
Já na Lei 12.485/2011, comumente chamada de Lei da TV Paga, considerada a última grande lei que abrange o segmento do audiovisual brasileiro, que dispõe sobre a comunicação de acesso condicionado, alterando a MP 2.228-1/2001 e as Leis 11.437/2006, 9.472/1997, 8.977/1995 e 5.070/1966, também se encontra a preocupação com a regionalização do conteúdo audiovisual para o setor de radiodifusão, especialmente no artigo 3º, que trata dos princípios que a lei da TV Paga será guiada, e especificamente nos incisos II, IV e V, que versam sobre a promoção da diversidade cultural e das fontes de informação, produção e programação; do estímulo da produção independente e regional; e o estimulo ao desenvolvimento social e econômico do país, respectivamente.
Outro importante aspecto legal encontrado na Lei da TV Paga está no art. 27, que dispõe sobre as receitas da Condecine, ao afirmar veementemente no inciso I que no mínimo 30% deverão ser destinadas a produtoras brasileiras estabelecidas nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, nos critérios e condições estabelecidos pela Ancine, que deverão incluir, entre outros, o local da produção da obra audiovisual, a residência de artistas e técnicos envolvidos na produção e a contratação, na região, de serviços técnicos a ela vinculados; e no inciso II, que no mínimo 10% deverão ser destinadas ao fomento da produção de conteúdo audiovisual independente veiculado primeiramente nos canais comunitários, universitários e de programadoras brasileiras independentes de que trata a lei que dispõe sobre a comunicação audiovisual de acesso condicionado.
Além destas duas importantes leis (MP 2.228-1/2001 e 12.485/2011) que tratam do cinema e audiovisual, em agosto de 2013, o governo federal anunciou o Plano de Diretrizes e Metas para o Audiovisual (PDM), aprovado pelo Conselho Superior de Cinema em 2012, que estabelece a estratégia para o desenvolvimento da indústria do cinema e audiovisual do Brasil até 2020. Assim, o PDM terá a função de guia para as ações do poder público para o setor, a partir de um diagnóstico da situação atual, para que assim se definam as diretrizes para o fortalecimento da indústria, especialmente na ocupação do mercado interno e na inserção internacional dos conteúdos nacionais.
O Plano de Diretrizes e Metas para o Audiovisual é fruto de um entendimento que o Estado, os agentes econômicos do mercado audiovisual brasileiro e a sociedade civil definam juntos suas prioridades para o setor, seguindo uma diretriz geral que entende que a cadeia econômica do audiovisual seja competitiva e inovadora e, também, comprometida a com a diversidade cultural e ao acesso da população aos conteúdos e obras audiovisuais.
Segundo a Ancine, é apresentada como os principais desafios do PDM a criação de uma estratégia de desenvolvimento que tenha como base a expansão do mercado interno; a universalização do acesso aos serviços audiovisuais, por meio de uma expansão uniforme e desconcentrada, voltada para um mercado de massas; e a transformação do Brasil em centro produtor e programador de conteúdos audiovisuais. A premissa é que a produção e circulação de conteúdos brasileiros devem constituir uma atividade econômica sustentável, competitiva e acessível a população.
Contudo, em julho deste ano, o governo federal anunciou o grandioso Programa Brasil de Todas as Telas, de cerca de 1 bilhão e 200 milhões de reais, destinados a transformar o Brasil num relevante centro produtor e programador de conteúdo audiovisual, utilizando recursos do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), o programa conjuga diferentes modalidades de operação financeira, articula parcerias público privadas e propõe novos modelos de negócios.
Segundo a Ancine, o objetivo primaz do programa é estimular o desenvolvimento dos agentes econômicos e promover o acesso de um número cada vez maior de brasileiros aos conteúdos produzidos pelos talentos nacionais, em todas as plataformas de exibição. Trata-se do maior programa de desenvolvimento do setor audiovisual já construído no Brasil, formulado pela Agência em parceria com o Ministério da Cultura, e com a colaboração do setor audiovisual por meio de seus representantes no Comitê Gestor do FSA.
O Programa Brasil de Todas as Telas tem por base o Plano de Diretrizes e Metas para o Audiovisual e se estruturou a partir de quatro eixos de ação (clique aqui para ver).
Assim, as perspectivas para a regionalização das políticas públicas e ações do governo federal para o audiovisual perpassam pela regionalização do investimento do FSA, por meio de indutores regionais no Norte, Nordeste e Centro-Oeste; pela suplementação de editais regionais de estados e municípios; pela produção de conteúdos audiovisuais para emissoras públicas de televisão; pela formação profissional por meio do Pronatec e; pelos laboratórios regionais de desenvolvimento de roteiros.
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