Viajo amanhã para Florianópolis. Interessante como atualmente tudo parece me levar para o sul. E acho isso muito bom. Tenho muitos amigos queridos no sul. Gosto de um friozinho. Da boa comida e dos bons vinhos. Para desespero dos gaúchos, não curto muito o chimarrão e nem sou torcedor do Internacional ou do Grêmio, apesar de achar bacana a paixão e a rivalidade destas duas torcidas que arrisco dizer dividem Porto Alegre ao meio.
Mas como dizia inicialmente estou de malas prontas para “Floripa”. Lá estarei, a convite de Luiza Lins e Guto Lima, participando do 7 Encontro do Cinema Infantil que acontecerá dentro da programação da 10 Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis. Dois eventos que considero da maior importância no contexto do audiovisual brasileiro.
Sinto antecipadamente que voltarei de “Floripa” mais feliz e mais disposto a continuar lutando pelo fortalecimento e ampliação da produção audiovisual brasileira e dos espaços ocupados por esta produção no mercado interno. E ainda mais convicto de que para que isso realmente ocorra precisamos imediatamente dar mais atenção, implantar políticas públicas, formar pessoas, alavancar mais recursos, enfim, oferecer todas as condições necessárias para garantir uma significativa ampliação na produção de produtos audiovisuais destinados ao público infanto juvenil.
Esta é uma questão estratégica no contexto da revolução digital e das mudanças que esta revolução provoca nos processos pedagógicos e educacionais. Revolução que cria e amplia de forma dramática, acelerada e exponencial as demandas por produtos audiovisuais destinados a este público infanto juvenil. Revolução que, diante do atual quadro educacional brasileiro, se por um lado nos coloca diante de um quadro “dantesco” e quase desesperador, por outro nos oferece uma possibilidade única de superação e de fortalecimento do processo de construção de uma nação e civilização brasileira. De afirmação e reafirmação de nossas identidades e diversidades culturais. Da busca utópica de estabelecer um processo civilizatório justo e sustentável, com cor e gosto tupiniquim, capaz de definitivamente conquistar o mundo e colocar o Brasil no lugar que merece ocupar no cenário de um planeta mundializado.
E daí, de repente, mas não à toa, lembrei do quanto são importantes os conhecimentos tradicionais e as culturas populares dentro desse nosso processo civilizatório tropical/tupiniquim. E que minhas avós já me diziam (as duas) que é de pequeno que se torce o pepino. E que também e talvez de tanto escutar acabei acreditando na tese de que uma imagem vale mais do que mil palavras.
Aplicando à realidade o resultado desta mistura/miscigenação da sabedoria popular com o mais puro academicismo científico, me fica claro e inegável o fato de que se queremos mesmo construir uma grande nação, precisamos construir uma indústria audiovisual poderosa. E que para isso precisamos “educar” nossas crianças e nossos jovens oferecendo como suporte conteúdos que reafirmem e fortaleçam o sentimento de brasilidade e a auto-estima nacional. Precisamos formar e organizar o nosso público. E isso começa pela infância. Pelas nossas escolas e pela implantação de milhares de cineclubes conforme proposto pelo CNC – Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros.
Registro que tenho total consciência de que não será nada fácil enfrentar os desafios e superar os obstáculos que se colocam num cenário nacional que, repito, é “dantesco”. E num cenário mundial dominado por guerras e conflitos nos quais cada vez mais o audiovisual é utilizado pelas potências hegemônicas com principal arma de subjugação dos povos e nações, de manutenção de seus poderes de ocupação territorial, através do extermínio das identidades e diversidades culturais.
Enfim, continuo o mesmo. Continuo cineclubista e acreditando piamente que como já dizia Paulo Emílio Salles Gomes: “Qualquer filme brasileiro me diz muito mais do que qualquer filme americano”. E daí, como militante que sempre fui, sou e continuarei sendo, completo: “Tudo bem, em respeito à diversidade cultural, juro que até gosto(ava) do Nacional Kid, do Batman e da Mulher Maravilha. E nem acho que nossas crianças não possam assistir (e até gostar também) dos Transformers, dos Pokemóns e das Mulheres Gatos da vida. Mas digo que gostaria muito que eles pudessem assistir também nas TVs brasileiras a filmes e desenhos animados contando “estórias” sobre o saci perere, a curupira, o boto (e tanto faz se azul ou se rosa), dos nossos xamãs e nossos orixás, de como era gostoso o meu francês, o nosso pão de queixo, nosso acarajé e nossa jabuticaba (que lembro a todos é um produto genuinamente nacional). Pelo menos que pudessem escolher em igualdade de condições se gostam mais do Menino Maluquinho ou do tal de Harry Porter. Num contexto no qual a produção brasileira pudesse também ser tão “criativa” e ter a sua disposição a possibilidade de também usar e abusar dos tais “efeitos especiais”. Bem como dos recursos e salas de cinemas mobilizados para o “lançamento” comercial do “produto”.
Resumidamente. Nada contra o He Man. Mas prefiro a nossa força. Até porque por pura intransigência até hoje, com 52 anos de idade, não aprendi e me recuso a falar inglês. Talvez porque eles não saibam o que quer dizer saudades.
Estava com saudades de Florianópolis. Amanhã acabo com ela.
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