Biblioteca Mário de Andrade divulga obras que foram furtadas do acervo, em mais um caso que revela a fragilidade da proteção do patrimônio cultural brasileiro
A biblioteca municipal Mário de Andrade, em São Paulo, comunicou o furto de obras raras de seu acervo.
O diretor da biblioteca, Luis Francisco Carvalho Filho, afirmou que não é possível saber quando o furto ocorreu, pois acredita que as obras foram levadas em ocasiões diferentes. Estima-se que os furtos tiveram início em 2000. Como nenhum sinal de arrombamento foi encontrado na biblioteca, a principal suspeita é de que os furtos tenham ocorrido com a conivência de funcionários. Apenas três pessoas tinham acesso às chaves da sala onde estavam as obras.
O desaparecimento das obras foi descoberto pelo próprio diretor, quando iria mostrar o acervo a uma curadora.
Incerteza quanto às obras furtadas – Já foram constatados o sumiço de 42 gravuras do artista francês Debret (1768-1848), 58 gravuras do alemão Rugendas (1802-1858), três litografias de Burmeister, a série “Souvenirs do Rio de Janeiro”, com 12 gravuras Johann Jacob Steinmann e o livro de orações “Hore intemerate Beate Marie Virginis”, edição de 1501.
Mas como o acervo não estava devidamente catalogado, ainda não se sabe se outras obras podem se somar a essa relação.
Investigação – O caso será investigado pelo delegado Mário Jordão, que em 2004 encontrou uma quadrilha que furtava livros raros de bibliotecas do país. Em uma entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, ele informou que os sebos respondem pela receptação das obras furtadas e que dois caminhos possíveis no combate a esse tipo de crime são a digitalização e a filmagem da consulta aos livros raros.
Uma modernização nas instalações da biblioteca, incluindo um sistema de segurança, já estava previsto para ter início em novembro.
Mil obras desaparecidas no país – Os furtos a obras de arte na Mário de Andrade se somam a uma série de outros que vêm ocorrendo recentemente no Brasil. Em junho, 87 obras de Debret e uma coleção de 227 estudos do pintor Lúcio de Albuquerque foram furtadas do Arquivo Geral da Cidade, no Rio de Janeiro.
Em fevereiro, quatro homens armados invadiram o museu Chácara do Céu, também no Rio, e levaram as quatro telas mais valiosas do acervo, de Salvador Dalí, Pablo Picasso, Henri Matisse e Claude Monet. No mesmo mês, o Museu da Cidade (Rio) teve onze peças levadas por dois homens armados.
E em 2005, a Biblioteca Nacional teve furtadas 150 fotografias do século 19, de enorme valor histórico.
Segundo o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), cerca de mil obras de arte estão desaparecidas no país. 53% delas estavam no Rio de Janeiro, o que pode ser explicado pelo fato de esse estado concentrar obras do Império e da República.
O maior obstáculo contra a proteção do patrimônio histórico e cultural brasileiro é a falta de catalogação nos museus e de inventários com o total das peças que precisam ser protegidas no país e com as obras desaparecidas. A falta de verbas públicas torna essas iniacitivas dependentes de patrocínios.