O livro “Cultura da Convergência”, de Henry Jenkins, mexeu muito com a minha cabeça nos últimos tempos e vem resignificando toda a pesquisa relacionada ao Ctrl-V. Entendo “YouTube e a Revolução Digital”, de Jean Burgess e Joshua Green, como uma espécie de adendo ao livro de Jenkins, porém focado no fenômeno YouTube.
Os pesquisadores, ligados ao Consórcio Cultura da Convergência (C3) do MIT, dissecam o significado e os efeitos do YouTube para as sociedades contemporâneas. A partir de uma análise histórica, os autores apresentam o processo de mudança da relação entre espectador e os meios de comunicação audiovisual, apropriando-se de maneira rápida e definitiva essa nova cultura da convergência.
O livro revela o mundo de negócios por trás da ferramenta, tanto no passado recente quanto em suas possibilidades de futuro. Mostra também uma incerteza, modelos de negócios ainda não consolidados, mas com potencial enorme para o fortalecimento das democracias e a promoção da diversidade cultural. O livro traz ainda a relação do YouTube como os grandes conglomerados de mídia, que aprenderam a respeitá-lo e temê-lo. Alguns o têm como aliado, outros como inimigo.
Como o YouTube ressignificou de maneira definitiva o direito autoral, numa queda de braço que só está começando, entre interese público e privado na circulação do conhecimento. Nesse sentido, o fenômeno reafirma as teses de Lawrence Lessig, de Free Culture (Cultura Livre).
O resultado é um livro gostoso de ler, cheio de descobertas e mistérios não revelados, que vamos descobrindo navegando e produzindo conteúdo para o site de videos online. Um presente da editora Aleph para os leitores brasileiros. E mais um presente do Ricardo Giassetti, que tem me ajudado bastante na introdução do fascinante universo da Cultura da Convergência, pra mim.
A possibilidade de conciliação entre os processos colaborativos, relacionados à conquista de espaços de cidadania cultural, atrelado aos novos patamares e oportunidades de negócio, é fundamental para todos que lidam com o setor cultural.
Indico fortemente a leitura de “Cultura da Convergência” e, depois, “YouTube e a Revolução Digital”.
Saiba mais.
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Cultura livre, Leonardo, é uma medusa. São muitas as questões que estão em torno disso. Se houver um avanço nos direitos do autor em nome do acesso, teremos que derrubar muitas outras cercas criadas junto com o direito de propriedade. Essa ideia de expansão dos assentamentos por um tipo de ferramenta de mão única, ou seja, aonde não há nenhuma forma de sobrevivência do artista, não tem chance de sobreviver. teremos que chegar ao nível gritante de desumanização da criação artística e a natural descaracterização do conceito artístico no já manjado conceito, "se tudo é arte, nada é arte".
É possível, no entanto, que os fundamentos da democracia se consolidem dentro de instituições que protegem os artistas, como o ainda anacrônico Ecad e sua famosa caixa preta, que não suportará por muito tempo a situação em que os artistas ficam passivos aguardando as informações ainda muito turvas.
Acho que o futuro pode mesmo fazer com que os grandes sempre nos vigiem, mas creio também que a sociedade crie seus hackers e devolva ao povo, só que antes de disponibilizados a todos, o efeito nos ser benéfico. Vamos aguardar.
puxa vida, comentário agora tem que vir acompanhado da tradução...será que é o efeito Gilberto Gil eheheh...por favor Carlão, vc poderia exemplificar ou explicar o que pretende dizer em:
Essa ideia de expansão dos assentamentos por um tipo de ferramenta de mão única, ou seja, aonde não há nenhuma forma de sobrevivência do artista, não tem chance de sobreviver. teremos que chegar ao nível gritante de desumanização da criação artística e a natural descaracterização do conceito artístico no já manjado conceito, “se tudo é arte, nada é arte”.
Primeiro isso, depois vamos tratar do Ecad. Não me parece anacrônico porque teremos recolhimentos nos espetáculos ao vivo e nas transmissões, acho que o Ecad tem um papel...e está melhorando, está sempre melhorando. O ECAD é caro isso sim, um elemento de incentivo a corrupção, se fosse mais barato todo mundo pagava direitinho, ninguém quer ser marginal. Seja marginal seja herói foi naquele tempo, todo mundo quer melhorar de vida, se possível ficar rico, e é a isso que a sociedade tem que dar resposta, oportunidades...sem perseguições e fantasmas...o mundo pode ser melhor.
mas vamos deixar isso pra depois eu sugiro, queria antes entender o companheiro aí, se não for inconveniente, numa boa.
Leonardo, gostaria de agradecer a resenha tão gentil.
Vale dizer que há dois artigos complementares nesse livro, um do Jenkins e outro do John Hartley. Ambos discutem os primórdios que desembocaram na "invenção do YT" e o segundo, uma lição, sobre como o YT pode ser uma forte ferramenta de formação educacional. Para mim, traduzir esse livro foi uma surpresa, afinal trata-se de uma pesquisa acadêmica que ganhou o mercado editorial por sua forma e conteúdo tão singulares.
Vale também uma rápida observação ao que Carlos Henrique Machado Freitas coloca, em seguida questionado por Gil Lopes:
Acredito que um dos atributos necessários aos artistas nesse novo mercado em formação – inclusive no sentido criativo – é a busca por novas formas de capitalização sobre sua propriedade intelectual.
Um de nossos grandes desafios hoje em dia é planejar e executar essas alternativas, como estamos fazendo para o Centenário Adoniran Barbosa.
A acomodação e a mesmice da produção de entretenimento e cultura em geral será abalada muito mais profundamente no decorrer dos próximos anos. Aqueles que estiverem melhor preparados, conhecedores das inovações e plataformas disponíveis, certamente não terão do que reclamar quanto a valoriza$$ão de sua arte.
O segredo deve ser manter-se fora dessa frase citada pelo Carlos Henrique "se tudo é arte, nada é arte." Que o diga Duchamp.
A felicidade de uma real democracia (social, cultural...) é a possibilidade de acesso e alternativas. O que fazemos com elas e como nos destacamos é responsabilidade de cada um.
Abraços,
Giassetti
O problema é a mistificação da técnica, já passamos por isso nos videoclips. Quando a MTV se instalou finalmente entre nós dizia que não passava clip nacional porque...não havia. Quando houve, era a qualidade. Lembro de um clip do Cacá Diegues rejeitado pela MTV, dá pra acreditar? Sem ambiente exibidor fica difícil.
A gente ouve muito falar em "novo modelo de negócio", é incrível isso pra todo lado. Quando o meio digital começou a ser enfrentado no mercado desenvolvido tivemos vários casos, como o Radiohead usando na sua campanha de marketing o anúncio da disponibilização gratuita, O Nine inch Nails com site especial, etc...quando a gente vai estudar o que estão fazendo nada é tão antigo e convencional. Promoção, produtos diferenciados, preços diferenciados...tudo marketing. Nada superou a necessidade de monetizar a circulação dos arquivos via a cobrança da participação dos provedores na questão, nada superou a luta contra a pirataria. 10 anos e o tal "modelo de negócio"é puro papo de jornalista, os mesmos que acham que o ITUNES não está entre nós porque as gravadoras são bossais e os artistas não se entendem...mistificação. Na verdade a pirataria é o tendão, sem um ambiente que proteja a circulação não há desenvolvimento possível. Mas aí o que acontece? A turma do contra começa a berrar que estamos querendo repressão, ditadura, deus mercado...enfim...é o atraso.
Capitalizar o capital? Monetizar, fazer a feira, o comércio...pra isso tem que haver repressão a distribuição gratuita do roubo, ou no mínimo vergonha de quem pratica, inadequação social, falta de respeito a cidadania.
Ricardo, pode explicar melhor esta passagem?
"Acredito que um dos atributos necessários aos artistas nesse novo mercado em formação – inclusive no sentido criativo – é a busca por novas formas de capitalização sobre sua propriedade intelectual."
Aqui abaixo, Ricardo, não acabamos caindo no campo da subjetividade extrema?
"Aqueles que estiverem melhor preparados, conhecedores das inovações e plataformas disponíveis, certamente não terão do que reclamar quanto a valoriza$$ão de sua arte".
Gil, sua observação é pertinente, mas existem fatores a serem controlados, "Catch 22" pra todos os lados. Por exemplo, lembre-se de como o Matallica foi demonizado pelos próprios fãs quando se levantou contra o Napster. Como fica a imagem do artista que diz que o fã que tanto ama seu trabalho é um criminoso? Não estou tomando partido – principalmente porque essa fase que vivemos é um nevoeiro dos mais espessos –, apenas dispondo informações que cada artista, produtor, gravadora etc, podem usar para tomar as atitudes que acham ser necessárias.
O ambiente digital é de livre circulação de informação. Não por vontade dos usuários ou produtores de conteúdo, mas como uma de suas qualidades intrínsecas.
Antes – séculos a fio –, a informação era restrita a poucos. Veio o Guttemberg, veio a radiofusão, veio a web... Se a humanidade se diferencia por criar soluções diante de obstáculos e assim evolui, estou certo de que dentro em pouco a poeira assentará e novos problemas surgirão pedindo que nossa inteligência coletiva os resolva.
Basta ter calma, mas continuar trabalhando.
Oi Carlos,
Os dois trechos que você destacou se complementam:
– Novas formas de capitalização. Para ser bem simples e direto, se você é músico e antes ganhava a vida exclusivamente com direitos autorais sobre a venda de seus CDs, é melhor você começar a fazer shows, se divulgar melhor para o mercado publicitário, criar novos produtos relacionados ao seu trabalho. Não há nada de ruim ou vergonhoso nisso, de modo geral. Claro que com essas novas ferramentas digitais de criação, divulgação e, principalmente, distribuição, suas alternativas podem ser bem mais amplas.
– Valoriza$$ão. Hoje, um garoto com um PC no proprio quarto pode compor hits e sufocar o lançamento do último CD dos Rolling Stones. Isso é ruim ou é liberdade de expressão (do autor) e de escolha (da audiência)? O mundo ficou mais competitivo e franco, talvez até desleal para nós que não somos da Geração Z... mas a vida está aí para ser enfrentada e vivida. Veja os exemplos de Malu Magalhães e Arctic Monkeys, ou o caso da chinesa que ficou milionária fazendo design de páginas para bandas no MySpace.
A 'subjetividade extrema [pero no mucho]' deve ser uma constante nessas discussões. Afinal, o nevoeiro persiste.
abs,
E Deus nos deu a Terra para nossa livre circulação, e as frutas para nos alimentar, nos deu a água. Me lembro quando criança no meio da pelada a gente corria e batia na porta qualquer e pedia água: água não se nega a ninguém...bons tempos. Nosso mundo foi precificado, cresceu, tem muita gente, todo mundo quer ter casa, comida e água. A argumentação da livre circulação avançando sobre a propriedade privada na nova plataforma serve ao que? Porque defendemos essa apropriação na Internet? Quais são os resultados que conseguimos defendendo isso? O que ganhamos e onde perdemos? O Metallica se manifestou e...o Metallica é tudo! EStá mais forte do que nunca enchendo os estádios do mundo inteiro, inclusive por aqui...os fans? Os fans acompanham seus artistas, o que houve foi uma tentativa frustrada de impedir o avanço natural do meio, que é a precificação dos serviços, o Sistema ainda faz sentido, felizmente para uns e infelizmente para outros. Metallica demonizado é redundância, eheheh...Bono Vox finalmente num brilhante artigo globalizado aponta os terríveis malefícios que a pirataria promove sobretudo na difusão dos novos artistas. Hoje está mais clara a necessidade de corrigir essa prática que é em resumo, a necessidade de defender o sistema capitalista que vivemos e sua capacidade de produção de riquezas. Tem que se dar os nomes aos bois como dizia a vovó, com lealdade para não enganar nem ferir ninguém. E mais que tudo: isso hoje é de esquerda para os que querem jargão ideológico. Isso hoje é pra acabar com a fome. Do jeito que está estamos perdendo, e muito. Estamos perdendo nosso bem cultural mais afirmado, nossa maior expressão cultural, estamos perdendo o mercado para a música brasileira, estamos sem capacidade de reprodução e difusão da música brasileira, e não tem avanço tecnológico que pague isso, vamos atrás dele.
Livre circulação de informação sem ganho pra ninguém, neste caso, fico com o que disse Gil Lopes: até a água que era pecado negar, hoje é uma eresia para os que defendem, sobretudo, o direito de propriedade. A questão metálica que ficou antipatizada perante seus fãs, acho uma observação bastante frágil. Sempre achamos o galego portuga, o dono da venda, um antipático, um ladrão. Locador e locatário não é relação de amizade ou simpatia.
Quanto à fazer show, de forma geral, a grande maioria dos músicos sempre sobreviveu com essa possibilidade, mesmo que sejam poucos os contratantes que pagam, podendo ou não, o preço real de tabela.
Outra questão, é vergonhosa a condição das grandes corporações descontarem nos cachês do músico o que lhes é cobrado pelo Ecad. Enfim, o myspace é uma mostra de que outras mídias estarão aí para diluir, como eu disse tempos atrás, a capacidade e o poder de impactar um produto. São muitas as crises dentro dessa crise. Jornais, revistas e TVs não estão conseguindo renovar seus públicos, pois eles estão envelhecendo e, consequentemente, consumindo menos. O perfil do consumidor que está vindo por aí é outro. Os veículos de comunicação que ele utiliza e utilizará nos próximos dez anos será muito mais amplo.
A hegemonia dos veículos tradicionais está acabando. Hoje mesmo li que o New York Times reconhece que os blogs são a grande ferramenta do novo jornalismo. Por outro lado, sabemos que mais de um milhão de blogs, por dia, são criados. É muito difícil fazer uma análise de cada ponto e seus desconhecidos e infinitos desdobramentos.
Quem fizer aposta em qualquer coisa agora, como alvo, com certeza errará, ou pelo menos, acertará um único ponto desse fragmentado universo publicitário que também marcará as novas relações comerciais.
Mas de uma coisa tenho certeza, Ricardo, se a proteção às obras dos artistas cair, outros direitos de imagem, inclusive de logomarcas, também vão dançar. Por que aí ninguém aceitará a pirataria legalizada.
Antes de ter acesso à informação, o homem tem que ter direito à terra, à água, à casa. De posse de tudo isso, todos, aí sim, terão direito a qualquer informação, inclusive à patente de todo e quelquer medicamento. Nada caberá em torno de alguma coisa que se pareça com reserva de mercado.
pirataria legalizada não existe...quando é legal deixou de ser pirata. A menos que se refira a exploração do homem pelo homem como uma pirataria e o sistema legal como o exercício de uma dominação. A menos que se queira acabar com a democracia que estabelece a soberania dos direitos executivos, legislativos e judiciários...a menos em suma que se queira fazer uma revolução que acabe com o sistema vigente...aí portanto o assunto será outro, teremos que pensar como seria a tal sociedade e os meios que temos para concebê-la...papo para daqui a 150 anos...mas...é válido...enquanto isso proponho que a gente vá discutindo o que nos aflige.