“Se não mudarmos de direção, acabaremos onde estamos indo”
Provérbio chinês

Pertenço a uma instituição ligada a Estudos do Futuro, que difunde a idéia que ele não pode ser previsto, mas podemos estudar as tendências, esboçar os cenários desejados e então definir as estratégias para criar o futuro que se deseja.

Nesta construção do futuro a Cultura tem um papel essencial. Cultura que significa mais do que produção artística ou bagagem intelectual. Minha definição tem sido: “cultura é tudo aquilo que constrói e transforma mentalidades e hábitos” e, portanto constrói e transforma sociedades e grupos.

É por isso que ela é fundamental: todo processo de mudança necessita antes uma mudança cultural, ou seja, de mentalidade, jeito de fazer. Assim, a cultura é estratégica: não é a cerejinha que enfeita o bolo, mas é o bolo em si. O escritor José Saramago diz que a Cultura é como a atmosfera: não a percebemos pois estamos imersos nela.

Focando mais: as tendências mostram que, no século XXI,  a cultura e as indústrias criativas são o grande diferencial para os negócios e o mais importante elemento para alavancar o desenvolvimento. Como fazer então para que nossa riqueza potencial se transforme em riqueza econômica e social ? Começando por promover mudanças de mentalidade.

Primeira: a percepção do imenso papel e poder transformador da cultura não existe nem no setor cultural nem nos outros setores da sociedade. Também o conceito de desenvolvimento deve ir além do econômico: é o processo de ampliação de escolhas que só é possível quando as várias dimensões da cultura são percebidas e contempladas.

Mudança de mentalidade ao valorizar o que é próprio. Existe uma estreita relação entre auto-estima e desenvolvimento, mas, infelizmente, nossa herança de colonizado faz com que sempre valorizemos o que é de fora. Verificamos que a valorização da cultura local chegou até o discurso mas ainda não acontece na prática.

Num processo de globalização, manter a brasilidade – com toda a sua diversidade cultural – é também questão de sobrevivência. A preservação ambiental garante a sobrevivência do planeta e a preservação cultural a da humanidade.

A questão da brasilidade é fundamental como valor não apenas nos negócios da cultura – aqueles diretamente ligados ao setor – como no riquíssimo campo da culturalização dos negócios – aquele que surge no contato entre cultura e outros setores. Em ambos encontramos muitas oportunidades, desde que estejamos dispostos a empreender de fato, o que pressupõe inovação, pesquisa e risco calculado.

Para que o ambiente seja propício e fértil outra mudança de mentalidade é necessária: sair das conhecidas práticas de “politicagem “ para as da verdadeira política, aquela que tem mecanismos para que os setores possam de fato ter representatividade e participação nos processos decisórios.

Mudanças culturais acontecem no dia a dia de cada pessoa e instituição, no momento em que escolhemos e priorizamos. Por isso são as mais difíceis . Por isso também as mais possíveis: dependem de nós. E se não tivermos consciência de que, mais do que vítimas, somos todos co-autores deste processo, continuaremos na direção que estamos indo… Que chega a um lugar e futuro que não desejamos nem merecemos.

Lala Deheinzelin


Diretora-presidente da Enthusiasmo Cultural, coordenadora do Global Committee on Creative Economy e diretora de cooperação internacional do Instituto Pensarte.

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