(reflexões de um velho pensador e ativista da Cultura que decidiu se retirar em autoexílio)

A editalização da Cultura e das Artes vai matar a cultura em sentido emancipatório, acaba com qualquer possibilidade de colaboração, tornando todos concorrentes entre si. Edital não é política pública! Simples concurso, é apenas uma ferramenta para seleção de projetos, que deve ser utilizada em casos específicos, como porta de entrada, jamais como caminho único. A editalizacao como está posta, vira apenas e tão somente um meio para administrar a exclusão, bem ao gosto do capitalismo, que ao final seleciona alguns para criar a aparência de que todos podem conseguir, o que é uma grande mentira.

O trágico é que o atual MinC é o maior promotor desse neoliberalismo na Cultura, que se espalha pelo país. As repercussões no habitus da Cultura levarão anos para serem revertidas. Há outros meios para acesso a recursos públicos, muito mais eficazes e equitativos. O princípio da Universalidade sequer é debatido no momento atual, em que tudo virou uma mediocridade absoluta, como se regras de editais fossem a panacéia.

Mas, enfim, quem quer discutir a fundo essas questões?

Antes é necessário pedir autorizações para as Diretivas e Operativas (em linguajar de burocratas submissos) para depois realizar Oitivas (linguajar de delegacia). Se o povo da Cultura se submete a isso, esperar o quê em termos de mudança qualitativa? Fazer arte e cultura em perspectiva emancipatória é ser rebelde, criativo inventivo, insubmisso. Não é o que esta acontecendo, pelo contrário. Quem sabe no futuro, por hoje a batalha está perdida por falta de luta e horizontes. Quando corações e mentes se disciplinam e se conformam na pasmaceira da mediocridade, do hedonismo e do vazio, não há o que fazer.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do Cultura e Mercado

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Historiador, escritor e gestor de políticas públicas. Foi idealizador e gestor do programa Cultura Viva e dos Pontos de Cultura.

4Comentários

  • Douglas Ribeiro, 15 de setembro de 2023 @ 9:29 Reply

    Edital seria incrivelmente importante se fosse, debatido em escolas publicas diante de mentes virgens e criativas.
    Célio Turino,parabéns pelo texto.

  • Elis Alonso, 25 de setembro de 2023 @ 19:35 Reply

    Quais seriam as soluções dentro de um sistema como o atual.
    Pra mim temos que pensar em meios urgente em organizar os trabalhadores inclusive os da
    Cultura. E pra mim está claro outra coisa : não vai ser em torno de editais que vamos organizar. Há algo maior a ser feito e mais estratégico e radical! Ainda somos muito paternalistas!
    Entretanto, é inquestionável a consciência que temos (geral) é a luta institucional delegamos na mão dos representantes!
    Estamos a míngua!

  • ROBERTO OLIVEIRA, 6 de outubro de 2023 @ 17:40 Reply

    Muito boa reflexão, Célio.
    Inclusive no Canal do Teatro, na Live de Quinta vou falar sobre este assunto, entre outros, utilizando seu texto (entre outros) como base para reflexão.

  • Rita Cajaiba, 6 de novembro de 2023 @ 21:02 Reply

    Ah, caríssimo Célio. Que tristeza medonha ver o quão excludente esses editais. Seu pensamento organizado a respeito dessas medidas adotadas prevendo a distribuição de recursos público muito me representa. Muito obrigada.

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