Propõe-se, aqui, uma análise da importância da cultura não industrializada, mas sim, daquela que valoriza a individualização da pessoa, que segmenta e realça a importância da participação e ação do indivíduo no contexto social em que vive. Tal participação aumenta de importância uma vez que NAISBITT (1980) evidencia que a década de 90 é marcada por um repensar do indivíduo, que se volta mais para si mesmo, se valoriza mais e detém mais poder em função da democratização das informações, propiciadas pelo desenvolvimento tecnológico.
Assim, acumulando informações e participando dos efeitos da inovação tecnológica- popularização das TV?s a cabo, vídeo-cassetes – o indivíduo já não se expõe tanto à mídia de massa, podendo optar pelos canais que ofereçam programações que lhe interessam. Já não está à mercê da indústria cultural.
Nesse contexto, o indivíduo encontra-se mais livre para refletir, para explorar o que significa ser humano. Conforme NAISBITT (1980: 78):
Do ponto de vista antropológico, HERSKOVITS (1952: 29) define cultura como sendo “o conjunto complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes e quaisquer capacidades e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade”.
PINTO (1986: 6,7) faz uma análise detalhada do conceito acima, fragmenta-o, e, trabalhando cada uma de suas dimensões, definindo de forma precisa arte e indústria da cultura, que são termos os quais serão utilizados no decorrer deste trabalho. Para ele, arte é o conjunto das formas de expressão de que se serve o homem, como a música, a dança, a literatura, o teatro, etc, através da qual, pode-se captar a visão do mundo, de uma sociedade num determinado momento histórico. E indústria da cultura é um conjunto de relações dinâmicas entre os homens e seu meio natural, relações essas que se manifestam mediante o emprego de técnicas, onde as distâncias medidas em anos e meses foram sendo reduzidas a dias, horas e minutos, até o espaço ser praticamente “eliminado” na “aldeia global“.
No entanto, os teóricos da indústria da cultura tratam cultura como sendo “o resultado ou efeito de cultivar os conhecimentos humanos e de afirmá-los por meio do exercício das faculdades intelectuais do homem” (TORRES, 1941: 13). Essa é uma visão elitista da cultura que faz com que os indivíduos imaginem “cultura” como sendo algo intocável, isto é, algo que se encontra acima das possibilidades de alcance do homem comum.
Optou-se, então, por trabalhar o conceito de cultura sob a ótica de HERSKOVITS (1952) juntamente com a de PINTO (1986), pois acredita-se que o indivíduo na atualidade torna-se mais crítico e exige ser participante e não apenas telespectador do mundo em que vive. Assim,
É necessário que os responsáveis pela comunicação empresarial saibam identificar o público da empresa, o estilo de vida que possuem, para assim, utilizar destes mecanismos de comunicação baseado na segmentação de mercado.
O crescimento dessa segmentação é uma realidade e já é comum a existência de grupos que saem de círculos “underground” da cidade rumo ao mercado nacional, um exemplo marcante é a repercussão da Companhia de Dança Burra, indicada para o Prêmio Mambembe/95.
Esses grupos chamados “underground” não se preocupam em fazer média com a mídia, têm um conjunto contundente de idéias, obras e práticas que removendo mundos de diferenças dão sabor único à cultura da cidade e mais , têm um público consumidor cativo.
É aqui que entra a eficiência em identificar semelhanças de públicos e características que esses grupos artísticos possuem que as empresas gostariam de ter atrelada a sua imagem corporativa. Como por exemplo, uma empresa que deseje passar uma imagem de equilíbrio e segurança pode promover grupos de dança clássica, enquanto que empresas que desejem uma imagem de modernidade e flexibilidade poderão fazer opção por grupos mais de vanguarda, e daí por diante.
Assim, além de tornar mais eficaz a comunicação com seu público as empresas estarão reforçando sua imagem corporativa valorizando a identidade de cada povo e suas diversidades.
Assim, podemos perceber que a valorização das artes pode ser vantajosa para as empresas, grupos artísticos e ainda pode se revelar um importante ítem da economia dos municípios.
Fatos que nos permitem constatar o aumento da importância das atividades ligadas às artes no mundo são impressionantes. Conforme cita NAISBITT (1980):
- “Estima-se que o Playhouse Square Center, de Cleveland, onde ficam três teatros, gera uma receita adicional de US$ 35 milhões para a economia da cidade.
- Um estudo da Câmara de Comércio de Los Angeles mostrou que o impacto econômico das artes na cidade totalizou mais de US$ 5 bilhões.
- Na Grã-Bretanha, as artes são uma indústria de US$ 17 bilhões, do mesmo tamanho que a indústria automobilística britânica, e 27% da renda total do turismo pode ser diretamente atribuída às artes.”
No Brasil, a importância das artes para a economia dos Municípios pode exemplificada no caso de Ouro Preto, uma cidade de Minas Gerais, que no mês de realização do Festival de Inverno – um evento que reúne artistas de todo o mundo, promovendo debates, grupos de discussão, oficinas de arte, teatro, música, dança, etc. tem uma arrecadação de ISSQN ???3 (três)??? vezes superior aos outros meses do ano. Isso sem contar o fato de que todas as pensões e hotéis da cidade têm suas lotações esgotadas, devido à recepção dos artistas, estudiosos e de um outro tipo de público, o que busca entretenimento. Há, então, um aumento do nível de emprego em função do aumento do fluxo de pessoas. Assim, os restaurantes e lojas contratam mais pessoal para que possa atender de maneira satisfatória esses clientes que estão em busca de diversão, e assim, estão mais propensos ao consumo.
Há, também, a existência de um mercado latente que estimula novos empreendimentos nos setores que oferecem suporte à arte e ao turismo. Durante o festival, muitos bares e restaurantes servem de galeria para exposição dos trabalhos dos artistas, fazendo que o pessoal seja treinado para atender a mais essa demanda da clientela, podemos citar alguns exemplos a mais como empresas de proteção de obras de arte, empresas de som, palco e iluminação, o agenciamento profissional e várias outras vão surgindo e aumentando a arrecadação e o nível de emprego dos municípios.
NAISBITT (1980) exemplifica, tendo como contexto sua esfera norte-americana:
- O número de pintores, escritores e dançarinos aumentou em cerca de 80% na última década – três vezes mais rapidamente do que a taxa de crescimento de todas as ocupações e bem acima da taxa de crescimento de outros profissionais qualificados.
- Entre 1960 e 1980, a força de trabalho dos Estados Unidos aumentou 43%, enquanto o número de artistas, escritores e profissionais da área de entretenimento explodiu em 144%.
- Mesmo durante a década de 80, quando os Estados Unidos criaram novos empregos a um ritmo sem paralelo – 16 milhões entre 1983 e 1988 -, as ocupações nas carreiras artísticas tiveram uma aceleração maior do que o crescimento total do número de empregos.”
Tendo em vista o acima exposto nos perguntamos? Até onde o governo deverá interferir e possibilitar o incremento das atividades artísticas? E de que forma essa interferência deve ser feita? Ou os governos devem deixar que esse processo seja consequência da melhoria do sistema educacional e que a sociedade, por si só, o transforme? Serão necessárias ações de política cultural? E o que vem a ser uma política cultural ? No artigo do próximo mês estaremos discutindo estas questões.
Segundo Adriana Banana, líder da Companhia de Dança Burra “underground é o básico, o essencial que mora no subterrâneo do ser humano. É tudo aquilo que não é aceito dentro de uma sociedade comercializadora de produtos e emoções, mercantilizadora dos subterfúgios profundos da alma em troca de poder, dinheiro, domínio político. Pode ser uma postura, mas também é uma situação social, como os posseiros, favelas, etc.”
BIBLIOGRAFIA
ADORNO, T, H. A Indústria Cultural, in Comunicação e Indústria
Cultural, Gabriel Cohn, Companhia Editora Nacional, São Paulo.1978.
BLUMER, H. “Elementary Collective Behavior” in A. McClung Lee, New
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1964.
CARDOSO, F.H. Discurso no Teatro Nacional de Brasília em 5/11/95, in
Folha de São Paulo de 19 de novembro de 1995.
Estado de Minas, Segunda Seção, pág. 8, 17/09/95.
HERSKOVITS, M. El Hombre Y Sus Obras. México in Fondo de Cultura
Económica, 1952.
MILANESI, L. O Paraíso Via Embratel. Paz e Terra, Rio de Janeiro. 1985.
NAISBITT, J. & ABURDENE, Patrícia. Megatrends 2000 – Dez Novas
Simone Marília Lisboa é consultora e administradora de empresas. Mestre em Marketing e Planejamento Estratégico pela Universidade Federal de Minas Gerais, autora do livro “Razão e Paixão dos Mercados”, técnica licenciada da Secretaria Municipal de Cultura de Belo Horizonte e diretora da Faculdade PROMOVE de Sete Lagoas. E-mail: smlisboa@uai.com.br – Fone: (31) 772-3770
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Simone Lisboa