Conheça o trabalho e as opiniões de Luiz Carlos Moreira, um dos nomes envolvidos no Movimento Arte Contra a Barbárie e diretor do Grupo Engenho Teatral
O Movimento Arte Contra a Barbárie se formou em 1998, quando um grupo de artistas ligados à cena teatral de São Paulo se juntou para fomentar a discussão e organizar ações pela construção de política culturais públicas. Procurando soluções ao invés de apenas reclamar da situação cultural no Brasil e abrindo seus debates a todos os interessados, são um exemplo claro e consistente de democracia dentro da cena cultural brasileira.
Um dos principais envolvidos nesse movimento (que não tem porta-vozes nem estrutura hierárquica ou jurídica) é Luiz Carlos Moreira, também diretor do Grupo Engenho Teatral. Ele explica alguns dos pontos principais que caracterizam o Arte. Um deles é ser contra a mercantilização da cultura. “Não é função da cultura gerar valor”. Outro ponto é fazer com que os envolvidos com a cultura se questionem a respeito do seu papel na sociedade e o que estão fazendo em relação a isso, sempre tendo como base princípios éticos.
O Arte Contra a Barbárie considera a cultura enquanto fenômeno artístico, manifestação de direitos humanos e questão prioritária de Estado, o que, segundo Moreira, implica em luta por políticas públicas de fomento e acesso à cultura, já que o Estado não vem dando conta dessa tarefa. “Quando se fala em políticas públicas, ela é confundida com leis de incentivo e ação de governo. Política mercadológica é confundida com política cultural”. Ele entende que não é o governo quem faz cultura, e sim os artistas e envolvidos na área. “Somos mão-de-obra a serviço do governo de plantão”.
O diretor explica que o Movimento não visa a articulação do setor cultural e artístico, e sim a discussão de idéias e o aprofundamento conceitual do pensamento, para gerar propostas concretas. Uma delas é o programa Prêmio Teatro Brasileiro, para o qual estão reinvindicando junto ao governo a proposição imediata.
Luiz Carlos explica o que entende por políticas culturais, que em sua visão devem contemplar três frentes: ações de governo, programas e fundos públicos. Ele diferencia os dois últimos, dizendo que os programas têm uma função estrutrurante. Um exemplo seria o Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo, que o Arte conseguiu fazer ser aprovado em 2001, e sobre o qual Moreira afirma que “aponta caminhos para a estruturação da produção. Não impõe, não se esgota em eventos”. Já os fundos públicos têm um caráter conjuntural, pois devem operar por meio de editais públicos e democráticos. Ainda na sua visão, os programas têm que ter sempre como objetivo final a sociedade, e não podem fazer democratismo, assistência social ou distribuição de renda.
Fazendo um retrospecto da atuação do Arte Contra a Barbárie desde sua fundação, há sete anos, Moreira diz que no início eles não se propunham a realizar ações políticas. Foi com o tempo que identificaram a necessidade de transformar o discurso e a manifestação de pensamentos em prática, da qual nasceu a formulação dos dois programas já propostos.
No seu entender, o Movimento se desviou quando quis acompanhar e se envolver na execução do Programa de Fomento. Ele considera que as organizações da área, como a APETESP, é que devem desempenhar esse papel, e conclui que o Arte acabou assumindo essa tarefa devido à falta de uma atuação maior dessas instituições. Diz que querem discutir o futuro e que o presente cabe às organizações.
Moreira critica a gestão de Gilberto Gil no Ministério da Cultura, no que se refere ao teatro. “Em três anos, não teve nada para o teatro. Nenhuma proposta, nenhum edital”. Deixando claro que essa posição é pessoal, e não representa a posição do Arte, afirma que “o Sistema Nacional de Cultura é uma tentativa de estruturar o Estado” e que “cria uma falsa participação estatal”. Considera que a leitura do programa revela que ele irá servir “para legitimar qualquer governo de plantão, dificultando e burocratizando a participação da sociedade na discussão”. Mas diz admirar o Gil que briga pelo aumento do orçamento do Minc e faz um mea culpa, dizendo que essa luta foi defendida de maneira solitária pelo Ministro e que o setor cultural foi omisso na questão.
Moreira dirige o Grupo Engenho Teatral desde sua fundação em 1979, e conta que eles vêm atuando na periferia de São Paulo desde 1993. Construíram um teatro móvel de 200 lugares, que a cada dois anos se muda para uma região diferente da cidade. Atualmente, estão na Zona Leste. A cada ano, é realizada uma média de 150 espetáculos. O grupo, que compõe uma organização sem fins lucrativos, se volta para o público que normalmente não tem acesso à produção teatral, em uma preocupação com a sociedade que também se faz presente no envolvimento do diretor com o Arte Contra a Barbárie.
www.engenhoteatral.com.br
André Fonseca