O Seminário Internacional em Economia da Cultura, promovido pela Fundação Joaquim Nabuco, ocorre em momento de fundamental importância do debate sobre a cultura e a necessidade de promoção e proteção de sua diversidade.

Os estudos econômicos da cultura não são nenhuma novidade para aqueles que formulam políticas públicas para o setor. No princípio do século XX, alguns economistas norte-americanos começaram a indagar sobre os processos de criação, produção, distribuição e consumo de bens e serviços culturais. A partir de então, outros estudos realizados em diversas partes do mundo, passaram a investigar e a constatar que a cultura não era só rentável para o setor privado, mas também para o conjunto de suas atividades, produtos e serviços e representava uma fonte de recursos para as próprias finanças do Estado.

O Seminário Internacional em Economia da Cultura, promovido pela Fundação Joaquim Nabuco, ocorre em momento de fundamental importância do debate sobre a cultura e a necessidade de promoção e proteção de sua diversidade. Fato é que os estudos científicos ou pesquisas realizadas para o setor tratam os valores de relações em números, forma possível de decodificação da economia sobre a cultura.

Conforme pesquisa de Cristina Lins (IBGE), a necessidade de aprofundamento do conhecimento do setor cultural já se impôs, a partir dos anos de 1970, nos Estados Unidos e em outros países-membros da UNESCO. A França, um dos primeiros a incluir a cultura no plano de metas nacional, instalou o Departamento de Estudos de Prospectivas e Estatísticas (DEPS) do Ministério da Cultura, dedicado especificamente à produção e sistematização de dados e estudos sobre o setor cultural, com estreita vinculação ao instituto de estatística nacional. No entanto, segundo ela, a inconsistência dos dados dificulta a apuração e análise dos números.

Não poderia ser por menos. O principal desafio atual é o de incorporar no campo da cultura as recentes formas de manifestações que surgem sem cessar, associadas ao aparecimento de novas infra-estruturas e tecnologias dos meios de informação e comunicação, os quais introduzem novos hábitos sociais geradores de novas necessidades, transformando a cultura em um sistema de constante renovação e complexidade.

No caso brasileiro, a investigação sobre questões na área de cultura não é recente do ponto de vista da produção de estatísticas culturais, visto que já na década de 1980 começaram a surgir estudos acadêmicos sobre o tema, porém de forma irregular e dispersa. “No Brasil, no âmbito da cultura, não se discutia como em outras áreas sobre a necessidade de se realizar uma pesquisa para sistematizar informações e construir uma base de dados consistente sobre a nossa cultura. Só agora as discussões sobre a institucionalização do campo de estudos nesta área estão começando a se concretizar e apontam a importância em compreender e explicar as diferentes dimensões da cultura”.

Segundo Ana Carla Fonseca Reis (Instituto Pensarte), de modo geral, as pesquisas desenvolvidas em economia da cultura contemplam a análise de parte ou da totalidade das cadeias de valor de produtos e serviços culturais e, por decorrência, estudam seus fluxos de produção, distribuição e demanda.

“Diante das reconhecidas falhas do mercado cultural, em especial devido à existência de gargalos de financiamento à produção, de concentração da distribuição e das dificuldades de acesso, torna-se imprescindível criar instrumentos de incentivo à participação privada no setor cultural, como forma de ladrilhar os caminhos da política de desenvolvimento”, entende Ana Carla.

O economista Fernando Schüler, professor do curso de pós-graduação em economia da cultura (UFRG), fala até mesmo que os modelos de gestão da cultura no Brasil, deixando ao estado a regulação do setor, são falidos. Schüler reclama ainda sobre “malha cultural estatal burocrática sem orçamentos” e de um “mercado de repartições públicas federais”.

Um dia, economistas escreveram que A Cultura Importa e citaram Karl Marx: “Se a história do desenvolvimento econômico nos ensina alguma coisa é que quase toda diferença está na cultura”. Marx, com certeza, não se referia apenas aos seus contemporâneos, mas a um entendimento histórico norteado por sua visão dialética que lhe propunha o papel de centralidade da cultura para a compreensão de qualquer tipo de desenvolvimento, mas, fundamentalmente, a do econômico.

A simples inversão do sentido deste vetor que propulsiona o desenvolvimento leva à compreensão mais íntima da irremediável simbiose que une visceralmente a economia à cultura, numa relação de subordinação. Ainda que não se tenha criado a régua que medisse a imensurável riqueza que emana da cornucópia da produção simbólica, é certo que ela já se provou mais promissora do que a produção material para esta sociedade ávida por consumo. Com a escassez crescente de recursos, com o aquecimento global, com a ampliação da visão sistêmica que leva ao equilíbrio, toda esta voracidade consumista terá que ser diluída e canalizada para os setores não dependentes do emprego em larga escala de mais e mais matéria física. Assim, será adotada a lógica de que é melhor ter em casa apenas um aparelho de DVD a tocar muitos e diversos filmes, do que ter vários aparelhos (entre DVDplayers, computadores etc.), para reproduzir sempre os mesmos filmes feitos e distribuídos sob medida para gerar muitos lucros, estes sim bastante mensuráveis!

Ainda que a economia aproprie-se de tudo, com sua voracidade em mensurar a existência sob as sólidas bases dos números, a cultura é quem determina qual é esta existência que se pode traduzir, inclusive, por números.

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