Certificação das obras de John Graz amplia discussão sobre a relação entre manutenção de acervos e movimentações de mercado

É bastante delicada a relação entre a preservação da obra de um artista plástico e a movimentação de suas criações no mercado. Fora dos museus e entidades oficiais, telas, desenhos, projetos e outros objetos artísticos estão em constante circulação através de variados processos de compra e venda, em espaços como as galerias ou através de leilões. Garantir que as obras comercializadas atribuídas a um determinado artista sejam de fato de sua autoria e assim manter um registro legítimo de sua trajetória é um considerável desafio para as instituições ligadas aos criadores.

As etapas deste processo – que visa salvaguardar não apenas a obra como a credibilidade de quem a comercializa e a segurança de quem a adquire – foram recentemente vivenciadas pela equipe do Instituto John Graz, em São Paulo, e são um exemplo das dificuldades enfrentadas por quem precisa criar estratégias para catalogar produtos artísticos. “Passamos a verificar uma série de obras não reconhecidas circulando e que, pela qualidade grosseira, prejudicavam o nome do artista. Optamos então por começar com um movimento de aproximação junto aos galeristas e leiloeiros. Apresentamos o Instituto e o trabalho de certificação que criamos, com a possibilidade real de garantir e atestar a originalidade das obras para quem vende e para quem compra”, explica Cláudia Taddei, Diretora Executiva do Instituto John Graz.

O artista plástico suíço John Graz, que adotou o Brasil como pátria em 1920, participou ativamente da Semana de Arte Moderna de 1922 e chegou a ser denominado como “o futurista” por Oswald de Andrade. Graz revolucionou ainda o conceito de arquitetura de interiores, sendo um dos precursores do design no Brasil. Produzindo até seu falecimento em 1980, aos 89 anos, deixou mais de dois mil registros entre telas, desenhos e projetos. A viúva de John, Annie Graz, decidiu em 2005 criar um Instituto para organizar este grande acervo e preservar a obra do artista que acompanhara por tantos anos. A valorização do trabalho de Graz ocorreu imediatamente após as primeiras ações do Instituto e gerou, automaticamente, o aumento de obras não legítimas no mercado.

Caminho de mão dupla

Para a criação de sua política de certificação, Cláudia e sua equipe pesquisaram ações da mesma natureza em instituições ligadas a outros grandes artistas. Completando a compreensão do mercado, sua estrutura e as ações que poderiam funcionar de maneira mais efetiva, entrou em cena Aloísio Cravo, experiente leiloeiro além de conhecedor da obra de Graz. “Para quem comercializa arte e quer manter sua credibilidade é muito importante ter a garantia da legitimidade da obra, o que nem sempre é algo tão simples. Na certificação dos trabalhos de John Graz, decidimos facilitar o processo, oferecendo gratuitamente verificação e registro, cobrando apenas pela a emissão de documentos de comprovação, quando requeridos. Desta forma, não existe nenhum grande obstáculo entre quem vende e o Instituto”, explica Aloísio Cravo. Já para o leiloeiro James Borges, mesmo a cobrança de uma taxa é justa diante da estrutura exigida para que os Institutos possam fazer o seu trabalho. “A estrutura por trás do processo de certificação de obras é geralmente complexa, assim como a manutenção do serviço. Como no caso do Instituto John Graz, muitas vezes a catalogação do acervo é um trabalho delicado, realizado pela família do criador. O cuidado com este patrimônio é o que possibilita aos outros atores do processo a percepção da trajetória do artista, em seus aspectos mais sutis. Por isso, o mercado também valoriza a certificação”, explica Borges.

Annie Graz e o curador Sérgio Pizzoli intensificam este trabalho visitando galerias e leilões em busca de possíveis obras ainda não certificadas – ou de fato não legítimas – atribuídas a John Graz. “É um trabalho árduo, sem dúvida. O ideal para mim seria se conseguíssemos localizar quem produz as cópias que muitas vezes circulam pelo mercado. É algo difícil, mas aos poucos estamos conseguindo preservar a obra de John, evitando que sua qualidade seja denegrida”, explica Annie Graz. “Este é um caminho de mão dupla uma vez que a certificação ajuda quem vende e também o acervo. Para os galeristas é um aval e um sinal da qualidade de seu trabalho e, para nós, um atalho para a catalogação”, completa Cláudia Taddei.

Embora faça uma etapa mais simples do processo – catalogando e não certificando oficialmente as obras da artista plástica Tomie Ohtake – O Instituto Tomie Ohtake é outro exemplo de atenção dada às movimentações mercadológicas pelas entidades responsáveis por cuidar do conjunto das criações de artistas renomados. “Para nós acaba sendo mais fácil porque a própria Tomie pode reconhecer as obras, o que inibe a ação de falsificadores. O desafio maior é acompanhar o paradeiro das criações, saber sua exata localização. Para isso, o caminho é manter-se aberto e preparado para um diálogo constante com o mercado”, explica Vitória Arruda, diretora de produção do Instituto.

Debora Pinto
s://www.institutojohngraz.org.br || s://www.institutotomieohtake.org.br


editor

1Comentário

  • Jose Roberto santarem, 3 de agosto de 2008 @ 22:41 Reply

    Gostaria de receber noticias do Serginho, pois fizemos teatro juntos muito tempo
    Mande noticias
    Abraços

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