Reunidos no IV Mercado Cultural, diretores de instituições internacionais discutem relação do mercado e de grandes blocos comerciais com a culturaPor Deborah Rocha e Célia Gilio

A terceira conferência promovida pelo Mercado Cultural, no dia 6 de dezembro, contou com a presença dos conferencistas Mario Spinoza, do Fundo Nacional para a Cultura, Mario Alves, de Portugal, Luis Armando Soto, diretor do Observatório de Políticas Culturais do Minc da Colômbia e Horácio Lecona, Diretor do Fideicomiso México – EUA para a Cultura e Artes.

Fundo para a Cultura
Com o objetivo de apoiar os indivíduos e não somente os projetos, o Fundo Nacional para a Cultura funciona há 13 anos financiando artistas e projetos através de concursos. Dos 100 projetos apresentados somente 17 receberam ajuda do Fundo por estarem dentro das qualificações da comissão. ?Isso prova que a questão da má qualidade dos projetos apresentados é um problema da América Latina?, diz Spinoza. Segundo ele, o mundo está divido em dois blocos: os que têm aspirações artísticas e os que têm aspirações mercadológicas. ?A meta é que esses dois ?blocos? possam se comunicar?.

Relação de mercado
O projeto foi primeiro idealizado com a criação do Portal das Américas, iniciativa que visa à criação de um espaço cultural que inclua o Canadá, EUA e América Latina, onde as pessoas possam pensar e discutir as artes cênicas e o mercado. Spinoza cita o exemplo da relação entre México e EUA e diz que, por sua posição estratégica e sua relação histórica, os dois países têm uma relação conturbada, porém intensa. Os EUA, por sua vez, tem o interesse nos 20 milhões de mexicanos que residem nos EUA como mercado.

Por fim, Spinoza defende a construção de uma relação de mercado à longo prazo. ?O interesse é de construir novas alternativas, como criação de projetos comuns e circulação de projetos latino-americanos, exemplifica.

Portugal
Mario Alves, diretor de uma ?Ong Cultural?, como ele mesmo define, iniciou a conferência informando sobre a dificuldade que Portugal apresenta em se relacionar com a Europa. Criticou o Mercado Cultural por não ter a presença do setor público e disse que os municípios devem estar presentes em qualquer encontro sobre cultura. Para ele, a participação dos municípios em Portugal é uma forma de viabilizar a circulação dos bens culturais. ?O principal difusor das artes em Portugal são os municípios?, comenta.

Para Alves, deve haver a integração de três setores fundamentais: Cultura, Meio ambiente e Esportes. Seu objetivo é criar uma estrutura de circulação permanente e a criação de um evento como um ?encontro luso-brasileiro de arte e cultura?.

Idéias em comum
Horácio Lecona diz que primeiro passo é saber que organizar é pensar e compartilhar idéias, entender a necessidade do outro. Segundo ele, o trabalho artístico é fundamental desde que resulte em trabalho de qualidade para o público. Quanto ao mercado, é necessário saber quais suas necessidades, seu potencial. Para ele, analisá-lo pela ótica do mercado globalizado significa ?definir os produtores como oferta e os artistas como demanda?.

Segundo Lecona, o objetivo de um encontro como esse é o mesmo do Portal das Américas, ?interação para promover uma melhor comunicação entre os artistas, as comunidades, entre o México e os EUA?, que vá além do político, comercial e migratório. Encontrar na mesa de diálogo entre os dois países a cultura. ?Isso facilitará a negociação e ajudará diminuir os estereótipos que existem entre esses vizinhos?, conclui.

Estado e bens culturais
?Os grandes interlocutores das políticas culturais são: instituições, arquivos, museus, em primeiro lugar, e os artistas e o público em segundo?, inicia Luiz Armando Soto. ?Fica a impressão que para eles (artistas e público) os espaços são mais importantes do que os bens culturais?.

O diretor cita a Lei Geral do Livro, criada em 1993 na Colômbia, com o intuito de fomentar o crescimento econômico da indústria editorial. Hoje, porém, produz-se mais livros, mas o número de leitores não aumentou. ?Quando o Estado fomenta a indústria cultural, ele deve ter dois propósitos: o primeiro que deve ter uma repercussão social, o segundo é quanto ao acesso dos bens culturais?, afirma Soto.

Cultura na Alca
Sobre a Alca, diz que sua preocupação é que sejam tomadas decisões sem que a cultura esteja em lugar primordial. Para ele, atualmente, apenas a propriedade intelectual merece destaque nas reuniões. Na Colômbia, por exemplo, existe uma pesquisa realizada a cada três anos sobre economia da cultura; em 1999 nove indústrias culturais geraram 0,09% do PIB.

Outro dado constatado é que aproximadamente 99% dos municípios na Colômbia não possuem sala de cinema.Tanto o cinema como o livro, continuam sem acesso a milhões de latino-americanos. Como alternativa, esclarece Soto, foi criada a ?maleta do cine colombiano?, que distribui para os municípios um pacote com oito filmes. ?Isso fez com que milhões de pessoas assistissem a um filme colombiano pela primeira vez. O cinema latino-americano ainda é coisa de festival?, diz.

?O desafio das políticas culturais é o de garantir a circulação e a produção, o acesso dos bens, facilitar o intercâmbio entre os países e garantir a diversidade?, finaliza. Soto espera que na Alca os bens culturais não sejam tratados como simples comércio.

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