Um breve olhar pelo histórico de Ana Terra, revela a sua vocação orientada pela crença nas ações coletivas, o mesmo tom e ritmo do Fórum de Dança de São Paulo, organização onde é coordenadora. Desde o início dos anos 80, sua trajetória de experiências em movimentos estudantis e sociais no período de redemocratização do Brasil, na formação do PT e na assessoria da Assembléia Legislativa de 83 a 86, além da formação em Ciências sociais, delinearam, ou “exigiram” de Ana Terra, esta articulação mais firme nas políticas da Dança, sobretudo, na luta pelos direitos, pela unificação e fortalecimento dos profissionais da área, acreditando, sempre, no sentido de coletividade. Em entrevista ao Cultura e Mercado, ela revela a essência, coincidente ou não, do Fórum de Dança de São Paulo e, da sua própria personalidade, tão convergentes quanto naturais em ambos.
Da intensa atuação política ficou o aprendizado da convivência com lideranças e intelectuais que construiram as bases para transformações importantes na sociedade brasileira, experiência finalizada em 86, quando Ana Terra se afastou da política partidária. “Naquele momento, já estava em processo de formação na dança contemporânea. Quando comecei a atuar profissionalmente em dança, acho que, lastros dessas experiências foram aparecendo de diferentes formas: na maneira de trabalhar artisticamente, através de projetos e em grupos que incluiam em seus procedimentos o trabalho colaborativo e até mesmo auto-gestionário, no encaminhamento de projetos aos poderes públicos”, dinâmica que definiu seus trabalhos na direção de abordagens corporais “com foco em procedimentos relacionados à noção do dançarino como intérprete-criador, como um sujeito do processo artístico”, explica.
Socióloga formada pela FFLCH – USP, mestre em artes e doutoranda em Educação pela UNICAMP, Ana Terra faz parte da comissão Executiva do Fórum Nacional de Dança e da coordenação do Fórum de Dança de São Paulo, organização que nasceu em 2001, com objetivo de unificar artistas da Dança nas suas mais diversas vertentes e reivindicar direitos e políticas para o setor. “Em 2001, diante dos ataques dos Conselhos de Educação Física à área de dança, junto a outros colegas da área, formamos o Fórum Nacional de Dança, para lutar em defesa da autonomia dos profissionais, por políticas para a dança, levando em conta sua diversidade”. Para ela, os primeiros anos foram primordiais para o amadurecimento do grupo como organização: “O Fórum de Dança São Paulo, em sua origem, foi um movimento de ação política, bastante centrado na defesa de direitos dos artistas e professores de dança, em especial, nas lutas contra as ingerências arbitrárias do sistema CONFEF-CREF (Conselho Federal e Estadual dos Profissionais da Educação Física) na área. Esse processo de lutas gerou um acúmulo de experiências”, disse Ana, que também é sócia da Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-Graduado em artes Cênicas. Atualmente, concentra-se na conversão do Fórum de Dança de São Paulo em Instituto Dança São Paulo, uma forma de responder com mais fidelidade às propostas atuais dos profissionais organizados. “Após um longo processo de reflexões frente às demandas que se apresentaram durante a realização do I e do II Encontro dos Professores de Dança, reconsideramos nossa pauta de ações, nossa própria identidade e vocação. O Instituto Dança São Paulo traduz essa nova fase. No momento, estamos voltados a ações capazes de levantar informações sobre as demandas dos profissionais da área, as quais deverão nortear ações de capacitação e elaboração de projetos de lei e para a definição de políticas públicas, em especial, para o ensino da dança. Ou seja, estamos talvez um pouco mais reclusos, procurando desenvolver um trabalho em profundidade, o qual, no próprio processo de elaboração deverá envolver uma ação de capacitação e organização política dos profissionais da dança.
Do debate pela regulamentação e reivindicação de políticas públicas para a Dança junto ao Fórum, surgiram as pequenas conquistas e os grandes avanços da Dança enquanto vertente específica da cultura brasileira. Ana Terra explica que o FDSP surgiu “junto a um processo de lutas maior, de caráter nacional, liderado pelo Fórum Nacional de Dança. Neste sentido, participamos ativamente das lutas na Câmara Federal, em defesa dos profissionais de dança contra as ações do sistema CONFEF-CREF. Em São Paulo, esse ano, estivemos duas vezes na Secretaria de Cultura do Estado, solicitando ao secretário o apoio á aprovação do PL 7370/02, que proíbe qualquer interferência dos referidos conselhos na área da dança e, reivindicando um posicionamento mais contundente em defesa dos profissionais da dança frente a essas questões”. Vencidos estes desafios, Ana Terra busca agora, junto ao Fórum, a conclusão de uma estratégia estrutural do setor da Dança no Estado. “Estamos aguardando um posicionamento final da Secretaria quanto a aprovação de um projeto que virá a ser nossa principal ação em 2005/2006: o mapeamento dos professores de dança (do ensino informal) do Estado de São Paulo. E, estamos buscando parcerias para esse projeto, o qual será extremamente relevante para a definição de políticas na área”, explica.
Esta crença no coletivo está presente ainda em outras atuações da socióloga, como nas palestras que vem ministrando em Universidades e outras instituições, onde busca transmitir sua visão da Dança e a Educação Somática, dos novos desafios do profissional da Dança no século XI, e do poder da sociedade organizada. Esta atitude estende-se, ainda, na busca por parcerias com instituições convergentes, como o Instituto Pensarte, uma alternativa para potencializar projetos e ações. “Acreditamos que essa parceria será extremamente significativa para nós, pois, o IP tem um acúmulo de experiências na incubação de organizações não-governamentais e projetos e está conectado em rede a outros movimentos nacionais e internacionais, o que poderá ampliar nossos horizontes. De nossa parte, acho que temos um percursso que poderá somar ao IP; nesse momento, nossas ações relacionadas ao mapeamento poderão trazer informações importantes quanto à reflexão de políticas culturais e educacionais, um dos focos do IP e dos demais Institutos que com ele, atuam em rede”.
Além deste mapeamento qualitativo dos professores-artistas da Dança do Estado de São Paulo, capaz de levantar informações sobre identidade profissional, sobre formação, problemáticas de atuação, dentre outras coisas, Ana Terra busca ampliar o alcance desta ação junto ao FDSP. “A partir desse trabalho, pretendemos conquistar: a publicação desses dados, a elaboração de um projeto de lei para o ensino da dança, capaz de nortear o ensino informal e a realização de projetos de capacitação para esses profissionais. Ela fala destes projetos com a certeza de quem conhece os caminhos, e de que eles são, naturalmente, os caminhos dos profissionais de Dança Contemporâneos, unidos e organizados.
Maira Botelho
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