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As novas energias da cultura brasileira


Inovação! Este deve ser, para um conjunto de políticas, o principal programa nacional de estratégia para a cultura. E inovar, no nosso caso, é amarrar os investimentos públicos ou privados com a identidade nacional, é demonstrar uma postura de fundamentos novos, nossos, independentes, afinados com a realidade brasileira.

O Brasil, precisa se preparar bem e se descolar do exaurido conceito de desenvolvimento cultural herdado da idéia proferida, dos modelos e fórmulas de fora do país.

Para renovar é preciso coragem, realidade, filosofia e embasamento, pois sem estes atributos continuaremos como meros repetidores de um misto de mazelas de épocas distintas do Brasil com reféns dos nossos erros históricos.

Informações, conceitos, narrativas características, e racionalizadas ideias trarão uma outra dimensão ao ambiente cultural brasileiro. Pensar a nossa história sem biocos, fantasias e mitos correspondentes à idéia da pressão competitiva universal, focada na ilusão da revolução comercial, extraída dos moldes europeus e sua compulsão sistêmica em competir para expandir.

O sistema brasileiro de economia criativa tem que optar por outra sinergia, pela inovação. Tem que buscar novas energias, limpas, colaborativas, ecumênicas já desenhadas pela nossa natureza de cooperação e responsabilidade, um engajamento a uma pauta oficial de percepção calorosa focada no humano. É a partir do nosso sentimento que será postulada uma nova realidade, fruto da nossa identidade e tendência de formular pontes e links enriquecidos pela racionalidade produtiva e não pelo fisiologismo do lucro acumulativo.

Soberania potencial é uma poética conduta moral e não uma trincheira xenófoba. Penalizar a nacionalização dos nossos passos foi um dos maiores erros cometidos pelos universalistas de raciocínio fundamentalista que não deixavam brecha para o Brasil se emancipar em suas políticas de fomento. Uma economia nacional de cultura tem que buscar novos caminhos. A ambição expansiva não nos seduz. Não queremos a dimensão do monopólio universal.

Queremos e podemos sim, através da cultura, construir um modelo de busca por um não império uníssono e unilateral. Nosso tecido social e, consequentemente cultural foi trançado com outros sentidos. A cultura tem que ser a portadora de um outro olhar do Brasil para si próprio.

Os extremistas do futuro devem abandonar o vício universalista perpetrado em seus distúrbios psicológicos e perceber a magnitude dos atuais desafios domésticos, estes sim nos garantirão uma estrutura externa com outro assento dentro do contexto global.

A nós não cabe mais o abandono da personalidade pela busca de uma brecha ou de uma mínima quota no cenário internacional. O Brasil ferve culturalmente em praticamente todo o seu território e tem um potencial único no mundo. Por isso ele deve ser o anfitrião de uma nova ordem cultural global e não arrastar uma agenda que cria conflitos dentro do ambiente cultural brasileiro.

A ação conjunta de artistas, assessorada pelos gestores que pretendem liderar esforços no sentido de construir o tom de mudança devem ser um dos principais pilares dela. A essência que caracteriza este pensamento é maior que a pandemia civilizatória que discursa em tom apelativo sem sequer construir uma agenda concreta.

O Novo momento da economia brasileira exige um novo momento da economia criativa, um tópico de discussão pública crescente e produzida pela própria arte.

A restrição dos bordões recorrentes de supressão às nossas realidades, saqueou os espaços que deveriam ser comuns e, com isso produziu uma anti-dinâmica estrutural nas novas e velhas formulações das políticas econômicas para o setor. Patinamos em pontos essenciais de circulação da produção cultural, por acreditar numa ordem seletiva mitificada pela idéia de publico alvo.

Temos que ser livres para programar um ajuste entre produção e circulação.
Não podemos admitir que portas sejam fechadas pela leviandade e ignorância sistematizada.

Para que a economia da cultura seja livre e criativa, jamais poderá se opor à demanda do país. Só há perspectiva de desenvolvimento com liberdade. Os biombos seletivos são, além de excludentes, catástrofes para a saúde de qualquer política de desenvolvimento. O conceito de autoridades culturais deste país tem que ser menos erudito e mais pragmático. O cadastramento neste quesito inverte a receita e conduz ao afastamento dos comandos as nossas realidades.

A agenda tem que ser elaborada com um texto apaixonado de campanha, de romance inspirado no homem brasileiro, de personagens flagrados no nosso universo histórico de grandes personalidades brasileiras como Mário de Andrade, Florestan Fernandes, Manoel Bandeira, Milton Santos, Monteiro Lobato, Villa Lobos, Cândido Portinari, Celso furtado, Darcy Ribeiro, Paulo Freire, Ariano Suassuna, Machado de Assis, Guimarães Rosa etc., etc.

A atual visão institucional de cultura tem um componente psicológico que bloqueia as pretensões da dinâmica virtuosa. O crivo da solidariedade da confiança nacional é diluído pela triagem seqüencial, uma cartilha robusta de tecnicalidades fugazes que se instalam na inércia e impedem o avanço natural da inovação do fluxo contemporâneo da produção artística.

Superar o aparato bélico, o transe “intelectual” instaurados para construir a sobrevalorização nacional, e contrapor o volume de blindagem protecionista das classes dominantes, é uma tarefa complexa que envolve engenharia, inteligência, apoio do governo e da sociedade civil, ancorados, sobretudo na vontade de mudança do setor cultural.

Se forem as instituições que determinarão o rumo das políticas, será delas também a postura de abandonar a idéia de fabricação do consenso, pois já sabem que é um caminho estéreo, mesmo não entendendo exatamente os motivos dessa falência.

A revolução cultural já está nas ruas há muito tempo, não é um movimento isolado, estético, conceitual, é algo bem mais profundo, é uma energia limpa e renovável, orgânica que é desperdiçada pelos tratados sociais de cúpula no gigantismo anacrônico do Estado e do setor privado. Com a quebra da indústria do lucro em larga escala, as instituições privadas ou se adequam às realidades ou submergirão.

O que devemos analisar é que não houve domínio da nossa cultura em todos esses anos do supermercado cultural, o que houve foi o domínio de um espaço criado para proporcionar lucros à indústria do entretenimento. Essa quebrou e não tem sobressalente. A integração é um caminho sem volta, ou entendemos isso o mais rápido possível ou vamos continuar a caminhar no paralelo, povo de um lado, instituições do outro.

As instituições brasileiras têm que abandonar a idéia fracionada, a ilusão especialista, a ordem superior, o apelo pedagógico, a distinção social, o aparato catedrático, a rigidez conservadora, a atitude miúda. Precisamos, antes de um pacto federativo, pensar e sentir a federação.

Carlos Henrique Machado Freitas

Bandolinista, compositor e pesquisador.

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