“A transformação social e a participação contraposta à passividade são coisas da cultura! Como podemos abandonar esta área como se ela pudesse ser separada das demais?”Desde a sua fundação, o Partido dos Trabalhadores traz um ingrediente diferenciador para a história da política brasileira: uma nova cultura política. Onde se parte da não aceitação de um determinismo cultural em que os trabalhadores devem ficar sendo representados ou substituídos na cena política, dando lugar a especialistas da política partidária.

Conjuntamente com esta qualidade, desde o primeiro momento desta aparição política na cena brasileira e internacional, os trabalhadores da cultura tomaram parte neste processo. Uma marca constitutiva da construção do PT foi a adesão destes atores nas festas públicas, nos palanques, enfim, em qualquer aparição da estrela que nos marca, também apareciam – a aparecem – estes transformadores dos imaginários.

Este processo coletivo e solidário proporcionou uma irrigação no interior partidário, forjando uma construção que levou em conta as subjetividades e, sobretudo, as imensas diversidades culturais desta nossa nação – o quê, muito antes de serem pensadas enquanto dificuldades, foram sempre consideradas riquezas para nós.Assim, podemos afirmar que mais do que uma transformação no cenário político-partidário, o PT implementou uma mudança cultural neste nosso país.

Ora, quando o próprio Fórum Social Mundial, maior processo internacional de construção de uma contra-hegemonia frente ao G8 e sua globalização homogeneizante, incorpora nesta sua terceira edição a cultura enquanto um dos cinco eixos estruturantes, como podemos minimizar a importância das políticas nesta área a serem implementadas pelo governo Lula?

O Fórum reconhece que é impossível haver uma transformação mundial, um enfrentamento às forças neoliberais, sem que as questões culturais estejam contempladas em primeiríssimo plano. Não se erradica a fome sem cultura! Pelo simples fato de que esta erradicação não passa, por nossa compreensão mais cara, pela simples distribuição de alimentos a quem tem fome. Nós acreditamos que é o poder de mobilização dos atingidos que pode mudar o curso das coisas. E mais: que este poder de mobilização é impossível de ser constituído sem a noção de pertença, de sentir-se parte de um coletivo, de uma etnia, de uma história.

Este poder agregador, que faz as pessoalidades fortalecerem-se nos coletivos, é coisa da cultura! A crença nos projetos a serem estabelecidos e construídos coletivamente é coisa da cultura! A transformação social, a participação contraposta à passividade, é coisa da cultura!

Como podemos, agora que nosso sonho materializa-se através desta histórica conquista, onde a utopia perseguida ao longo da história, por personagens tão caros, quanto Florestan Fernandes, Mario Pedrosa, Oswald de Andrade, Henfil, Gonzaguinha, e tantos e tantos outros, abandonar esta área como se ela pudesse ser separada de outras áreas priorizadas?

Não podemos! Esta é a resposta adequada. Seria incompreensível e dificultoso considerar agora a área cultural enquanto uma área de importância menor.Nossa tradição e, o que importa ainda mais, nosso futuro, dizem o inverso: não acreditamos em transformações culturais sem que se altere o conjunto de valores sociais e simbólicos de nossa sociedade.

Recuperar a auto-estima brasileira é coisa da cultura! Promover a rica diversidade que faz do Brasil o Brasil é coisa da cultura! E a cultura, ah, a cultura: a cultura é coisa do PT! Pelo menos, esta cultura a qual nos referimos, aquela democrática, transformadora e imprescindível para um processo global de transformação nacional e de forte poder de reconhecimento internacional. É disto que estamos falando.Por uma política petista no Ministério da Cultura, para transformar, para consolidar um processo que é resultante de lutas, de sonhos, de símbolos e de imaginários.


Ben Berardi é vice-presidente da Rede Cultural Mundial

Copyright 2002. Cultura e Mercado. Todos os direitos reservados.

Ben Berardi


editor

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *