Em visita ao Brasil, presidente da BMG fala sobre como a pirataria e os serviços de distribuição ?online? estão levando as gravadoras a buscarem novas soluções Novos competidores
Matéria publicada no jornal Valor, de 27 de maio, aponta para a formação de uma dificuldade no mercado da música: a competição com a pirataria e com os serviços de distribuição ?online?. Segundo a matéria, a indústria fonográfica vive um paradoxo pois os lucros das gravadoras estão em queda, e a demanda por música, por outro lado, aumentou. O fato deve-se ao Napster e à pirataria que estão levando as gravadoras a mudarem o foco de suas operações. “Não temos mais que pensar apenas em vender CDs. Temos que pensar em vender música”, disse Rolf Schmidt-Holtz, “chairman” da BMG em Nova York, em visita ao Brasil.
Não por acaso, o grupo de mídia alemão Bertelsmann, proprietário da BMG, adquiriu, há dez dias, o Napster, serviço de distribuição de música online. “Acho saudável. O Naspter nos mostrou que há uma grande demanda de consumidores por esse tipo de serviço”, afirma Schmidt-Holtz ao Valor. “Mas a indústria da música tem que proteger os direitos autorais dos artistas. Por isso, foi necessário processar a empresa (antes da compra)”, continua.
Prejuízos
A matéria traz dados da Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI), que mostra que o mercado mundial de música teve uma queda de 5% em seus lucros no ano passado e de 6,5% nas unidades vendidas. Já a Associação da Indústria Fonográfica (Riaa) avalia que a indústria perde US$ 15 bilhões por ano apenas com a pirataria. Estima-se também que o prejuízo causado pelo Napster foi de US$ 10 bilhões. O mercado, hoje ocupado pelo Kazaa e Morpheus, não é nada desprezível com mais de 5 milhões de downloads por semana.
Estratégias
Segundo a matéria, ainda não é certo o uso que o grupo Bertelsman fará da tecnologia do Napster, mas é possível que continuem permitindo a baixa de arquivos de música com pagamento. “O consumidor quer música disponível, barata e facilmente portátil”, diz o “chairman” ao jornal. Mas para além do Napster, programas de arquivos e drives de gravação de CD-R também facilitaram a composição dos discos personalizados e das coletâneas, o que tem ganho muito espaço no “mercado negro” da música. “Os consumidores estão dizendo: ‘Nós queremos comprar música, não CD’. Como uma indústria, temos de achar formas de reduzir esse intervalo entre nossos produtos e o consumidor”, diz Michael Smelie, chefe de operações da BMG em Nova York. A distribuição online é apenas mais uma das armas da gravadora para recuperar-se. “Abraçamos qualquer meio de distribuição de música, como DVD e televisão, ambos em expansão”, diz Schmidt-Holtz. Para ele, o DVD junta duas linguagens de forma eficiente. “É importante comparar o poder da música com o poder da imagem. Os DVDs não vão engolir o CD. As pessoas vão comprar os dois”, acredita. Mais do que no produto DVD, Schmidt-Holtz aposta na parceria música-TV.
“Creio que a conexão da TV será mais forte do que era no passado. Programas como ‘Operação Triunfo’ e ‘Pop Island’ (‘reality shows’ similares ao ‘Fama’, da Rede Globo, e ‘Pop Stars’, do SBT) mostraram uma força enorme”, observa o presidente. “A BMG vendeu o maior número de ‘singles’ da sua história na Grã-Bretanha por causa desses programas”, completa Smelie. No Brasil, o programa “Fama” terá duas gravadoras para seus novos astros e estrelas, a BMG/Ariola e a Som Livre. O “Pop Stars” ficou com a Sony Music.Para Smelie, essas ações vão aproximar a indústria fonográfica do consumidor e reduzir a pirataria. “Mas necessitamos de uma combinação que envolve aspectos legais, tecnológicos e de mercado”, avisa. De fato, a Associação Protetora dos Direitos Intelectuais Fonográficos (APDIF) avalia ter investido cerca de US$ 15 milhões para deter o problema e o sucesso é imperceptível.
Direito autoral
Do ponto de vista tecnológico, várias empresas estão criando ferramentas para impedir a reprodução. “Elas não são perfeitas, mas dificultam a cópia”, explica Smelie. A gravadora está fazendo um lobby para que os países tenham uma legislação que assegure o direito autoral e nisso o Brasil ocupa posição de destaque. Além de estar ao lado da China e do México como os país com maior pirataria, também tem ganho terreno como exportador de CDs. “A pirataria é global, mas a exportação é uma característica daqui”, diz Smelie.
De olho em novidades
Apesar da pirataria, Schmidt-Holtz, avalia que o mercado brasileiro tem um grande potencial e que os músicos nacionais são bem recebidos em outros países. “Nos EUA, a aposta é a música popular”, diz Smelie. Com um mercado em crise, de olho nas novas formas de distribuição e com uma aposta em astros oriundos da televisão, os executivos não têm tempo para pensar no combalido segmento da música clássica, que no Brasil responde por apenas 0,5% das vendas. “É inexistente”, diz Smelie. Violinista, Schmidt-Holtz diz que seu gosto pessoal não influencia em suas decisões estratégicas. “Será que posso sobreviver a algo que ninguém quer?”, pergunta. “O que se faz é verificar se é possível que discos clássicos sejam confeccionados e, pelo menos, não haja perda de dinheiro. É isso o que se chama negócio”, conclui Schmidt-Holtz.
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