Com dois anos de atraso e algumas intempéries no caminho, a 25ª Bienal corre o chapéu prometendo incentivos como retornoPor Deborah Rocha

Clima
Após uma profunda crise que levou à renúncia do curador Ivo Mesquita e ao adiamento da mostra de 2000 para este ano, a 25ª Bienal de São Paulo estará finalmente aberta ao público neste mês, no parque do Ibirapuera. A tarefa, porém, não pode ser dada como acabada. O clima entre seus dirigentes ainda é de expectativa. Carlos Bratke, presidente da fundação, luta contra o tempo para finalizar as reformas no Pavilhão da Bienal e para conseguir captar os recursos necessários para a realização do evento, orçado em R$ 18 milhões.

Pesadelo
?Meu maior problema agora é a ansiedade. Acordo no meio da noite pensando na Bienal e nestas poucas semanas que faltam para a sua abertura. Essa fase de captação de recursos gera uma ansiedade tremenda, pois a urgência da Bienal não é a mesma do patrocinador. Se eu não tivesse a verba do Ministério da Cultura para a preparação do evento seria desesperador. A captação é o único problema que estou tendo. Os problemas políticos foram resolvidos e agora posso afirmar que o Parque do Ibirapuera está em um equilíbrio bastante razoável?, explica Bratke em matéria publicada no jornal Valor.

Contribuições
O presidente conta com R$ 10 milhões já garantidos e suficientes, segundo ele, para a viabilização da Bienal. Entre este montante estão incluídos R$ 2,9 milhões liberados pelo Ministério da Cultura (MinC), que deve contribuir ainda com outros 4 milhões, R$ 1 milhão liberado pelo governo do Estado de São Paulo e R$ 1,2 milhão pela Prefeitura de São Paulo. Segundo o jornal Valor, ao todo, cerca de 50% do orçamento da Bienal provém de contribuições da prefeitura, do Estado e do governo federal por meio das secretarias e do MinC. A outra metade deverá sair de empresas públicas e da iniciativa privada.

Ofensiva
A estratégia de Bratke concentra-se agora em conseguir recursos para liberar a cobrança de ingressos e garantir um programa de ação social para 200 mil crianças e adolescentes. Para tal, explica o arquiteto à Folha de São Paulo, necessita de patrocínios no valor de, respectivamente, R$ 2 milhões e R$ 1,5 milhão. Ainda assim, faltariam à fundação R$ 4,5 milhões para o orçamento total de R$ 18 milhões, considerado ideal por Bratke. ?Com R$ 15 milhões dá para fazer uma boa Bienal, mas com R$ 18 milhões é possível realizar um projeto social melhor?, insiste Bratke.

Preocupada com o interesse das empresas, a Fundação Bienal desenvolveu um sistema de cotas de patrocínio, organizadas em valores que vão de R$ 500 mil (cota master) a R$ 150 mil (cota prata). Além da dedução nos impostos do valor investido, a fundação oferece maior visibilidade e veiculação da marca à empresa que optar pela cota mais alta. Dentro deste cenário, já estão confirmados nove patrocinadores entre outros dez ainda em negociação.

Tiro no pé
Leonardo Brant, consultor especializado em planejamento cultural a empresas, considera a ação desesperada da Bienal um tiro no pé. “É um erro estratégico da Bienal correr o chapéu em cima da hora do evento para captar recursos”, analisa Brant. “Outro erro de posicionamento é a campanha publicitária de captação de recursos que a Fundação está adotando, sobrepondo o incentivo fiscal ao valor sócio-cultural de um dos mais importantes eventos de artes visuais do mundo”. Além disso, afirma o consultor, isso deseduca a empresa patrocinadora, pois a campanha passa a impressão de que sem o incentivo o patrocínio deixa de ser interessante. “Um retrocesso, um desserviço ao mercado”, afirma.

Internacionalização
Mesmo assim, apesar dos tropeços e da falta de organização, a 25ª Bienal irá acontecer. Poderá ser vista entre os dias 23 de março e 2 de junho, no parque do Ibirapuera, sob o título geral Iconografias Metropolitanas. A exposição terá, pela primeira vez, um estrangeiro na curadoria, o alemão Alfons Hug, responsável pela extensa pesquisa sobre a arte contemporânea produzida nas grandes cidades.

O evento será organizado em um núcleo principal, com 12 mostras que incluem 11 cidades reais e uma imaginária, e um outro segmento denominado Representações Nacionais. Entre as cidades reais foram destacadas: São Paulo, Caracas, Novas York, Johannesburgo, Istambul, Pequim, Tóquio, Sidney, Londres, Berlim e Moscou, que serão representadas por cinco artistas cada. O outro segmento, as Representações Nacionais, apresentarão um artista para cada um dos 70 países escolhidos. ?A exposição tenta mostrar como o espírito que reina hoje, em meio à exclusão social, à poluição visual descontrolada, transforma-se em arte?, diz Hug à revista Bravo!. Ex-diretor do Instituto Goethe, em Brasília, Hug diz ser contra a arte fora dos museus. ?É indispensável a manutenção de um local de contemplação, que reúna uma massa crítica significativa, capaz de transmitir uma energia transformadora?, argumenta Hug.

O tema desta Bienal nos leva a refletir sobre o espaço de nossa própria existência. Local de formação e de expressão das identidades. Neste sentido, questões centrais da vida cotidiana deverão ser analisados nas quase 300 obras dos 190 artistas escolhidos por diversas partes do globo. Violência, anonimato, excesso de informação, banalizações, globalização, guerras e conflitos étnicos poderão estar entre estas questões. A começar pelas torres gêmeas construídas à entrada do prédio pelo arquiteto Mario Biselli. É esperar para ver.

Copyright 2002. Cultura e Mercado. Todos os direitos reservados.


editor

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *