Além de espetáculos, mostras e oficinas, evento amplia debate em torno das políticas públicas para a área; “A hora é agora”, diz a crítica de dança Helena KatzPor Deborah Rocha
Em Fortaleza*
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10/11/2003
Algumas flores brotaram no árido solo cearense nesta última semana durante a 4ª Bienal de Dança do Ceará. E não foram apenas movimentos coreografados que floresceram -pois a dança não se limita a isso-, mas também idéias, opiniões e atitudes. E estas, principalmente, em relação a outro movimento -de universo diferente, mas de igual importância: a organização da classe em torno de uma política pública para a área. O evento, que encerrou ontem à noite sua programação em Fortaleza, com o aguardado espetáculo ?May B?, da coreógrafa francesa Maguy Marin, possibilitou um intercâmbio, no mínimo, estimulante neste sentido em duas de suas mesas-redondas. A primeira delas focalizou a questão da ?Produção e Circulação em Dança?, com a participação de Sérgio Sobreira, da Fundação Cultural do Estado da Bahia, Dora Leão, produtora-executiva do Núcleo Artérias Nova Dança, e Valéria Pinheiro, diretora e coreógrafa da Cia. Vatá; e a segunda, o tema das ?Políticas Públicas para a Dança?, com a presença da professora e crítica de dança Helena Katz.
Terra à vista
?O momento não poderia ser mais oportuno?. A frase de Ernesto Gadelha, curador da Bienal e mediador da primeira mesa-redonda parece ter sido o mote das discussões; mais tarde repetida também por Helena Katz. ?Não houve no Brasil momento mais propício do que agora para se pensar políticas públicas?, sublinhou a crítica de dança, referindo-se à reestruturação do Ministério da Cultura, implementada este ano pelo governo. Mas além das perspectivas para o país como um todo, o Ceará tem particularmente uma razão a mais para a ?animação?: no mesmo dia da abertura do evento foi anunciado pela Secretaria de Cultura do Estado o primeiro edital para a área da dança, com foco em pesquisa, produção e circulação.
Organização local
Longe de ser a solução para os problemas da dança no Ceará, a iniciativa, quando comparada ao estado de São Paulo, que ainda aguarda o anúncio de seu edital de circulação, pode, sim, ser considarada uma conquista. Porém, o que será necessário daqui para frente, como reiterou Helena Katz, é uma organização coletiva em torno do estabelecimento de ações continuadas, para que então se possa pensar em que política pública se quer para a dança. ?Isso só acontece se houver organização local. Não pode vir de cima para baixo?, disse. Valéria Pinheiro, diretora e coreógrafa da Cia. Vatá, do Ceará, a partir da sua experiência como ?artista que tenta circular?, falou também do quanto acredita na organização. ?Se não tiver força e vontade de abrir espaço, esquece o dinheiro do edital?, adianta.
Mas apesar de todas as adversidades e da pouca visibilidade que o estado tem no cenário nacional da dança, seu ritmo já produz ressonâncias no país e, o que é mais importante, para além da relação com o turismo. Neste sentido, a 4ª Bienal de Dança do Ceará vem confirmar, se não um movimento sólido e bem estruturado, ao menos um estado de latência ansioso por tomar corpo, especialmente, no que se refere à dança contemporânea local.
Circulação
Desta forma, seguindo a proposta de circulação das companhias (ao menos) dentro do próprio estado, a programação do evento segue a partir de hoje, e pela primeira vez, para o interior do Ceará. Começando por Sobral, onde se apresentam o Balé da Cidade de São Paulo e a Companhia Vatá, a Bienal passa, no dia 12, por Quixadá, que receberá a Companhia de Danças Populares de Tuparetama e o Balé da Cidade de São Paulo. No sábado, dia 15, segue para Paracuru, onde se apresenta a Companhia Vatá e a Companhia de Danças de Paracuru, e encerra com a Companhia Vatá, no domingo, dia 16, em Icapuí. E o percurso não para por aí; é longo o atalho em direção ao profissionalismo da dança no estado. Mas o Ceará vai bem, dança bem, e o que é melhor: quer dançar.
* Deborah Rocha viajou a convite da organização da 4ª Bienal de Dança do Ceará.
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