Pesquisa do Ipea constata que o investimento social de empresas privadas no Brasil chegou a R$4,7 bi em 2000; dinheiro é destinado majoritariamente à educaçãoPor Fausto Rego

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Mais de metade das empresas do Brasil realiza algum trabalho social, em um investimento agregado que chegou a R$ 4,7 bilhões em 2000. As informações são da pesquisa Ação Social das Empresas, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), cujos resultados nacionais acabam de ser divulgados. O trabalho foi iniciado há dois anos e realizado por regiões, com os dados preliminares sendo anunciados gradativamente, à medida que se fechava a apuração de cada etapa.

Os números finais mostram que cerca de 465 mil empresas brasileiras ? ou seja, 59% do total ? desenvolvem iniciativas de caráter social. A análise é apenas quantitativa, não identificando, portanto, em que tipo de atividades é feito esse investimento, que corresponde a 0,4% do Produto Interno Bruto nacional. “Mas fizemos uma pesquisa qualitativa com empresas com mais de 500 empregados no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Belo Horizonte e percebemos que esse dinheiro é destinado majoritariamente à área de educação. Podemos dizer que, nas grandes empresas do Sudeste, de 60% a 90% desse investimento vai para a área de educação”, afirma a socióloga Anna Maria Peliano, coordenadora-geral da pesquisa, que não levou em conta as ações sociais promovidas pelas empresas para seus funcionários, tampouco aquelas resultantes de obrigações legais ou contribuições compulsórias para entidades como o Serviço Social do Comércio ou o Serviço Social da Indústria.

Benefícios não compensam
Embora a participação das grandes corporações seja a mais destacada ? 88% delas fazem esse tipo de investimento ?, é expressiva a contribuição das demais ? 54% das que têm até dez empregados e 69% daquelas com até cem funcionários. Iniciativas voltadas para as crianças são as preferidas pelo empresariado (62%). E o mais interessante: a pesquisa revela que a ação das empresas não se move pela contrapartida dos benefícios fiscais obtidos com essas iniciativas. Na verdade, a motivação maior é mesmo a filantropia (76%).

“Os benefícios fiscais são muito pequenos e não compensam, ou não se aplicam às atividades que as empresas desenvolvem”, explica Anna Maria Peliano. “O fato é que os benefícios fiscais não têm influência significativa nos recursos privados que são injetados em ações sociais”. A coordenadora acredita que mais dinheiro poderia ser aplicado em projetos sociais, desde que a política de incentivos fosse revista. “Essa participação poderia crescer se houvesse incentivos que alavancassem a aplicação de mais recursos. Não somente dedução de impostos, mas outras iniciativas”.

Que tipo de iniciativas? Anna Peliano revela que uma das propostas comentadas no meio empresarial é a do tratamento diferenciado nas privatizações. “As condições de investimento social poderiam ser um diferencial para a escolha de uma empresa vencedora em um processo de licitação”, diz.

Pressão popular
O Sudeste é a região com maior número de empresas desenvolvendo projetos sociais (67%). Nas demais regiões, o percentual é um pouco menor, mas sempre acima de 50%. A participação dos empregados nas ações desenvolvidas ainda é pequena, mas, de acordo com a pesquisadora, tende a crescer. “Essa decisão de obter a participação dos funcionários ainda está na direção das empresas. São os diretores que decidem onde vão investir e como vão investir”, diz.

Para ela, as empresas começam a demonstrar interesse em elaborar estratégias nesse sentido. “Isso tudo é muito recente, mas quem já tem esse tipo de iniciativa percebe que o resultado é bastante positivo. O funcionário se envolve mais, demonstra interesse, se estimula e, muitas vezes, poderá repercutir esse projeto na comunidade onde mora”.

Anna Peliano afirma que o grande crescimento da participação das empresas na ação social se deu a partir dos anos 90, particularmente na segunda metade da década, com as empresas partindo para criar institutos e fundações. “Houve um interesse grande, provocado em parte pelas campanhas da Ação da Cidadania, pelo trabalho do Betinho [o sociólogo Herbert de Souza, coordenador da campanha Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida], mas também devido a uma grande pressão popular para que as empresas assumissem esse papel”.

Muitas delas decidiram criar suas próprias fundações ou seus institutos. Mas nem sempre esse é o melhor caminho. “Existe uma série de organizações com projetos já consolidados e que necessitam de recursos. Então é preciso que as empresas observem qual a melhor alternativa. Em geral, o que se percebe é que elas preferem um caminho misto”, constata a coordenadora.

Mais investimentos
A pesquisa Ação Social das Empresas é o primeiro estudo a refletir com tamanha abrangência a atuação da iniciativa privada brasileira na área social e deve se constituir em um ponto de referência para o governo, a sociedade civil e para as próprias empresas. As perspectivas para o futuro próximo são otimistas: representantes de 39% das empresas analisadas admitiram que pretendem ampliar seus investimentos sociais em breve.

“O importante é que haja uma aproximação cada vez maior entre os três setores, porque essa parceria é boa para todos”, conclui Anna.


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