Com a alta do dólar, Souza Cruz abandona também outros investimentos culturais, como o Carlton Arts e o Free Zone. A produtora promete realizar o Festival com outros patrocinadores em 2003Por Sílvio Crespo
A desvalorização do real afasta do mercado cultural mais um importante patrocinador. Depois de a Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais) ter suspendido o patrocínio da ópera O Guarani, de Carlos Gomes, devido à instabilidade da moeda, agora chegou a vez da empresa Souza Cruz cortar seus investimentos culturais. O Free Jazz Festival foi definitivamente cancelado.
Em nota divulgada à imprensa, a Souza Cruz afirma não ter condições de realizar o evento, até então previsto para o último trimestre deste ano, devido ?à instabilidade e imprevisibilidade da variação do dólar?.
Chave de ouro
Esta seria a última edição do evento, já que partir de 2003 ficará legalmente proibido o patrocínio cultural e esportivo pela indústria do tabaco. Para a produtora do Free Jazz, Monique Gardenberg, os custos do Festival, que sempre foram altos, tornaram-se altos demais. Os fretes, as passagens e os hotéis, pagos com a moeda americana, tiveram seus preços sensivelmente dilatados.
Além disso, o montante da Souza Cruz disponível para o patrocínio tendia a diminuir. ?Ao mesmo tempo em que queríamos fechar com chave de ouro, víamos a nossa verba reduzida a cada dia?, lamenta a produtora, no jornal ?O Globo On line?. A princípio, era previsto um gasto total de R$ 16 milhões para trazer atrações como a banda Radiohead, o cantor Van Morrison e a família Marsalis.
Edição de 2003
Idealizado pela Dueto Produções, o Free Jazz Festival teve sua primeira edição em 1985. A partir de então, era realizado anualmente, tendo cancelado apenas a edição de 1990, devido a fatores desencadeados pelo Plano Collor.
Mas apesar da decisão da Souza Cruz, Gardenberg ainda não desistiu: a partir de agora, ela, junto com seu sócio Carlos Martins, correm atrás de novos patrocinadores para realizar o evento em 2003. ?Este ano é inviável, mas, no ano que vem, tenho certeza de que teremos a continuação desse evento?, diz a produtora ao jornal O Tempo.
Maria-vai-com-as-outras
A proibição do investimento em cultura pela indústria do tabaco é alvo de crítica de Toy Lima, curador do Chivas Jazz Festival, evento anual de música popular. ?Não podemos ser maria-vai-com-as-outras e pegar as legislações norte-americana e francesa para aplicar aqui; o Brasil precisa de cultura, não pode se dar o luxo de abrir mão de festivais como o Free Jazz?, argumenta Lima em ?O Tempo?. ?O trabalho da Monique Golgberg e da Souza Cruz deu um novo formato aos patrocínios culturais no Brasil?, completa o curador.
Carlton Arts e Free Zone
O Carlton Arts, que trouxe ao Brasil no ano passado artistas radicais de vanguarda, como o compositor alemão Karlheinz Stockhausen, pioneiro da música eletrônica erudita, também foi cancelado pela direção da Souza Cruz, segundo matéria da Globonews.com. O Free Zone, outro evento artístico patrocinado pela empresa, teve este ano uma versão reduzida.
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