Acordei hoje às 5h45 para festejar o ano novo tibetano num templo budista. Sou ateu, desconfiado. Não sou de doutrinas, mas sou de crenças. De todas as crenças. Sou filho de Ogum, frequentei umbanda, convivo diariamente com judeus, católicos e várias outras religiões. A única experiência divina que eu tive na vida foi numa sessão de Ayahuasca. Corri de lá no primeiro encontro…

Tenho lido muito sobre filosofia budista (por influência da minha mulher), que vem acrescentando muito e reforçando os ensinamentos que recebi de Lia Diskin, da Associação Palas Athena. Com ela conheci Gandhi, que tem me ajudado a caminhar por entre as pedras quentes que eu mesmo coloquei em meu caminho.

Fiz um contato profundo com a filosofia e as práticas de Gandhi. aprendi o Ahmisa, cuja tradução possível é a “não violência”, que se reflete, nas palavras de Lia, em “cultura da convivência”. Esse aprendizado resultou numa mudança profunda, radical em minha vida. Deixei de comer em excesso (principalmente carne), vendi meus carros, saí da ciranda financeira em que vivia, desliguei os celulares por 6 meses, parei meu projeto de sucesso profissional, baseado em lógicas e dinâmicas que não me interessam mais.

Abandonei o mundo corporativo, de onde tirei meu ganha pão durante 12 anos. Recomecei do zero. Passei a dedicar meu tempo e minha energia para desenvolver negócios culturais sustentáveis. Criei um centro de estudos, com parceiros de mercado, para auxiliar a expor alguns desses modelos e metodologias, desenvolvidos nesse tempo todo à frente de processos culturais, patrocínio, políticas e pesquisas. Estou tentando gerar um novo plano de sustentabilidade para mim mesmo, baseados nessas crenças e vivências. Não está fácil, mas sigo em frente, mais leve e muito mais feliz.

Gosto de política. Vivo e respiro política. Política pra mim é proposta, articulação e gestão. Eu sou das ideias (não necessariamente das minhas) e conexões. Sou principalmente do diálogo. Não faço gestão das minhas ideias, nem das dos outros. Num mundo de redes e telas, o discurso articulado pode significar ação, projeto de poder. Não vejo sentido em utilizar esse poder como faz a mídia tradicional. Não quero formar opinião, me aliar com interesses políticos e corporativos.

Quero utilizar este espaço para dialogar. Mesmo porque o poder não é meu, nem seu, nem de ninguém. É de todos nós, como bem disse Rodrigo Savazoni em uma das nossas recentes discussões. Estou cercado de gente que me aconselha e garante que meus escorregões não coloquem esse diálogo em perigo. Sinto que o momento atual é desses, por isso venho pedir sua atenção para este extenso texto em primeira pessoa.

Sou do mercado. Aprendi a me virar logo cedo. Trabalho desde os 14, criei minha primeira empresa aos 21. Mas não atuo em nome dele. Não tenho a menor intenção em fazer do mercado a plataforma da minha atuação. Meu aprendizado é para mudar a lógica desse mercado e não para reforçá-la.

Não sou da academia. Sou pesquisador independente, porque gosto de observar, pesquisar, elaborar pensamentos e dialogar com todos, não só os da academia. Não só os do mercado, não só os do governo, não só os da redes (esse não é um privilégio, tampouco uma escolha, de todos).

Quero cooperar, construir coletivamente. Criar espirais, fazer uma discussão que gere outra discussão.  Econtrei uma maneira de dizer isso e acho que pode funcionar. Avaliem e vejam se a metodologia proposta a seguir é pertinente:

Cultura e Mercado conversa com uma comunidade de mais de 100 mil pessoas, que acessam mensalmente o site. Temos mais de 7 mil artigos sobre política cultural e mercado, de todas as cores e credos. Os fatos recentes relacionados à sucessão governamental me fizeram dar conta de que estou à frente do mais potente canal de discussão sobre mercado e polítcas culturais do Brasil. Isso é consequência de 10 anos de trabalho ininterrupto, contra forças políticas e de mercado, mas a favor de uma demanda que não é minha, nem sua, é da sociedade. Por isso, este canal não pode ser escravo dos erros e acertos de seu editor. Cultura e Mercado precisa saber colocar em prática uma discussão que leve em conta:

1) A relevância do legado deixado por Gilberto Gil e Juca Ferreira. Não cabe a este veículo fazer qualquer contestação à importantíssima contribuição dos dois à nação brasileira. Tenho segurança das boas intenções de Juca, em especial. Tenho certeza que ele fez o devia ter feito. Eu não conheço alguém que fizesse melhor o que Juca Ferreira fez pelo Brasil. Foi o homem certo na hora certa.

2) A Lei Rouanet é indefensável. Não queremos um mecanismo que garanta os direitos do patrocinadores mas não garanta a autonomia dos artistas. O Procultura está no lugar certo e tudo o que foi feito até hoje é válido e importante para uma discussão ampla e transparente sobre o destino do mais importante mecanismo de financiamento à cultura do país. O trabalho feito até aqui não pode ser jogado no lixo. Vamos avançar, promover debates públicos e convocar deputados e senadores para um novo modelo de financiamento que corresponda ao atual momento da produção cultrual brasileira (PCult?!).

3) A atual Lei de Direito Autoral e o ECAD precisam avançar e aprimorar. O atual parâmetro não está à altura dos desafios das sociedades contemporâneas, de convergência das mídias e das oportunidades políticas (no sentido da cidadania e da participação), de reflexão e de mercado. Todos devem participar dessa discussão. Os movimentos por cultura livre e também os de cultura proprietária. A verdade não está com nenhum dos lados, está com o diálogo dos dois.

Precisamos levar em consideração o papel de Dilma Rousseff como líder absoluta de uma nova política cultural, que avance além dos limites até aqui conquistados. Precisamos mais diálogo, mais gestão e mais responsabilidade fiscal. Isso não é uma crítica, é apenas a constatação da necessidade de avançar nos pontos fracos e manter os pontos fortes. Para isso Dilma foi eleita.

A política cultural que está sendo proposta e costurada com a sociedade é de coautoria de Dilma e de Lula. Eles criaram as Praças do PAC, por achar que elas são importantes veículos de inserção das populações que ascendem socialmente de crescerem culturalmente.

O primeiro ato de Dilma no Congresso é o combate à pirataria. Ela quer chamar outros agentes, inclusive do mercado, a construir a política cultural. A escolha de Ana de Hollanda não é gratuita. Ela quer falar com os artistas, que são cada vez mais autônomos, donos do seu próprio destino. Muitos deles apoiaram Dilma na campanha e fizeram a ela reivindicações. Querem participar mais da vida política e ajudar a construir  as políticas culturais do país. Não podem se colocar como obstáculo a ela.

O discurso de Ana de Hollanda é esclarecedor nesse sentido. Clama por uma maior aproximação dos artistas: “é hora de olhar para quem está criando”. Isso não exclui ninguém, nenhum projeto. Apenas inclui. Atacar Ana de Hollanda é atacar Dilma. Por isso, a própria Dilma recomendou a troca de Emir Sader na presidência da Casa Rui.

Cultura Digital é prioridade no governo Dilma. Não é por acaso que ela deu função estratégica para a pasta da Cultura no Plano Nacional de Banda Larga. Precisamos ajudar a construir este projeto. Eu me coloco à inteira disposição. Não quero fazer isso como um abestalhado, quero fazer críticas, contribuir, dialogar. Mas não vou sair a campo para destruir um projeto que nem começou. Isso seria infantil, inoportuno diante do desafio que nos espera.

A condição do MinC, institucionalmente falando, é muito frágil. Já era frágil quando funcionava em torno da Lei Rouanet. Ficou mais frágil ainda diante de desafios maiores e mais complexos. Juca Ferreira deixou isso muito claro ao apontar esse como o principal desafio de sua sucessora. Compreender as profundidades e os efeitos do arsenal de problemas que cai no colo dos atuais gestores não é tarefa fácil. É preciso mais do que 100 dias para isso.

Eu não acredito que os interesses do ECAD ou de qualquer outra organização privada vá prevalecer no MinC. Tenho certeza que Dilma Rousseff, gestora pública implacável que é, não deixaria Ana de Hollanda um dia a mais no cargo se tivesse dúvida disso.

Escrevo tudo aqui na primeira pessoa, mas minha intenção é retirar a pessoa da discussão, é limpar esse personalismo, criar uma forma de estabelecer conexões mais amplas e dialógicas. Por isso, quero falar também em nome de Fabio Maciel (não pedi autorização para falar em seu nome, mas tenho certeza que posso fazê-lo), presidente do Instituto Pensarte. Quem conhece Fabio sabe que falar em seu nome é falar sério. Quem não conhece, devia conhecer. Falo também em nome de Ricardo Albuquerque, atual vice-presidente do Pensarte, alguém com 40 anos de militância na esquerda. Ricardo me ouve e dedica seu tempo a me orientar em horas como esta. É a pessoa que eu mais recorro para discutir meus erros e acertos diante do Cultura e Mercado. Não posso deixar de citar Px Silveira e Fábio Cesnik (que fundou o Instituto Pensarte comigo) e tantos outros membros de uma rede articulada com anos e anos de luta dedicados às políticas culturais.

Uma luta articulada com inúmeros agentes, que pensam de forma diversa e complementar à minha, mas é inegável que estamos todos no mesmo barco. Alguns companheiros dessa luta estão agora no Ministério da Cultura e ajudaram a contruir a política que hoje está de pé, articulada sob as lideranças de Gilberto Gil e Juca Ferreira. Vitor Ortiz, Marco Acco, Sergio Mamberti, Henilton Menezes, Antonio Grassi, Ana Paula Santana, Glauber Piva, Americo Córdula e a própria Ana de Hollanda, todos eles fizeram parte da gestão anterior e estão em novas funções, para dar cabo de novos desafios.

Mas há também companheiros de grande capacidade profisisonal, que ajudaram a construir, pensar e articular a atual política. Quero dar destaque especial a Marta Porto, que já comandou a Unesco no RJ e deu contribuição decisiva ao programa de Lula em 2003 e a programas governamentais como o Cultura Viva (o documento de formulação do programa leva um texto de sua autoria). Foi Marta, por exemplo,  quem me conectou com Lia Diskin, indicando meu escritório para dar consultoria à Associação Palas Athena.

Marta chamou Cesar Piva, com quem já trabalhou na Unesco, para auxiliar no difícil mas instigante propósito de juntar Cidadania com Diversidade Cultural. Cesar é um dos mais importantes tecelões da delicada teia dos Pontos de Cultura. Seu trabalho foi fundamental para costurar o programa Cultura Viva por dentro, além de auxiliar na construção de uma rede de produtores audiovisuais das mais potentes. Está envolvido também na criação da RAIA – Rede Audiovisual Ibero Americana.

O governo Dilma tem nas mãos gestores de primeira grandeza. Pessoas compromissadas com o futuro da nação e capazes de gerir uma política cultural totalmente dialógica, em rede. Não uma rede sectária, de pensamento único. Uma rede que expõe conflitos de interesses, contrapõe diferentes visões de mundo e inclui movimentos sociais, partidos, academia, os demais entes da federação e o mercado.

O movimento agora é de conversação. Cultura e Mercado mudou para atender ao atual momento. A coluna PROVOCAÇÕES passa a se chamar PONTO DE PARTIDA, que desde a semana passada é uma coluna escrita e também um webcast da TVCeM, um canal audiovisual do Cultura e Mercado, presente no YouTube. Queremos a participação, as ideias e as críticas de todos os membros dessa rede para auxiliar e pressionar o Estado a andar junto com a sociedade.

Os recentes ataques a Ana de Hollanda (embora queiram atingir outras instâncias de poder) são ataques diretos ao governo Dilma (consequentemente ataques diretos ao ex-presidente Lula). Em nome de um projeto amplo e participativo, precisamos confiar nas escolhas da presidente e auxiliar a construção do novo projeto de política cultural do Brasil, que não pertence ao governo. É de todos nós. É da sociedade brasileira.


Pesquisador cultural e empreendedor criativo. Criador do Cultura e Mercado e fundador do Cemec, é presidente do Instituto Pensarte. Autor dos livros O Poder da Cultura (Peirópolis, 2009) e Mercado Cultural (Escrituras, 2001), entre outros: www.brant.com.br

14Comentários

  • Dani Torres, 6 de março de 2011 @ 9:46 Reply

    Não sei se te entendi completamente (risos) mas dou força a uma maior impessoalidade do Cultura e Mercado. Mas não acho que classificaria o caminhar até aqui como erros. Suas provocações foram fundamentais para levantar questionamentos e debates muito importantes que começaram aqui. Necessárias. Necessários.
    No entanto, acompanho o custo alto que isso traz… Acho ousado e corajoso (mentiria se não dissesse que sempre achei muito arriscado). Enfim, mesmo que se entendam como erros, é errando que se aprende, melhora, aperfeiçoa e que se muda.
    Sorte e sucesso sempre!

  • julio saggin, 6 de março de 2011 @ 11:49 Reply

    Leonardo,

    Se me permite: Sou membro da BSGI (Brasil Soka Gakkai Internacional), uma organização humanista com base na filosofia budista de Nitiren Daishonin. O principio budista é um, como o cristão o é e o de todas as outras religiões também são, ou deveriam ser. Não conheço tanto de religiões!

    Sempre venho me alimentar de informação e conhecimento do mercado cultural, no Cultura e Mercado. Aroveito para agradecê-lo por disponibilizar muitas informações relevantes ao meu trabalho e principalmente pensamento politico.

    Parabenizo sua atitude corajosa, em reconhecer o momento de mudança, em sair da zona de conforto! “O que importa é o coração”.

    As citações dão a dimensão do sentimento de gratidão, que independentemente do assunto, da área de atuação, são essenciais ao crescimento pessoal e profissional! Acredito que todos deveriam praticar isso! rs Citar seus mestres, apoiadores, interlocutores, todos que de certa forma participaram e contribuiram para o desenvolvimento de um pensamento ideológico, ou de uma forma de trabalho.

    Vamos em frente.

  • Luana Schabib, 6 de março de 2011 @ 13:00 Reply

    Leo, só a internet tem espaço para este debate – coisa que a mídia tradicional não oferece (quando oferece espaço para comentários, vira aquele espaço sem leis, onde as vozes ficam soltas). O CeM é democracia digital, é um espaço de todos, onde todas opiniões tem espaço. E isso é ter coragem e predisposição para um debate maior.

    Provocação é provocação. E as suas provocações sempre acrescentam. Um debate é feito de vários pontos de vista, que constroem caminhos e soluções. Vai que vai, seja provocando, seja colocando um ponto de partida. O debate não está em risco, está tomando grandes proporções porque o tema é quente, porque quem faz cultura participa mais das discussões políticas. O caminho é este.

  • Eduardo Antunes, 6 de março de 2011 @ 13:31 Reply

    Já que a proposta é mudança. A minha primeira sugestão é que a CULTURA deveria ser colocada como um bem fundamental e constitutivo da nossa evolução de seres irracionais para racionais, portanto acima de decisões pessoais e político partidária. Só teremos uma verdadeira “política cultural” quando esta for instituída e controlada pelos agentes culturais, que funcione com metas e propósitos sem nenhuma interferência dos representantes políticos. O Ministério da Cultura não deveria representar a vontade e o governo de uma pessoa, presidentes passam, partidos mudam, políticos só pensam em colher dividendos e a “CULTURA NÃO SE COLHE, SE VIVE”. Como pessoas interessadas em “PENSAR UM MUNDO MELHOR”, vamos deixar de agir como “manadas”, isto de “nunca antes na história deste país” é só um “bordão”, no sentido mais pejorativo do termo, vamos crescer intelectualmente, admitirmos a nossa falta de capacidade e procurarmos fazer sempre o melhor, com humildade, afinal somos humanos!
    Basta ver o orçamento do Ministério da Cultura, que apesar de ser extremamente pequeno ainda sofrerá cortes. A “política e principalmente o político” é prioridade, o povo apenas um detalhe e a cultura um quase nada!

  • Telmo Padilha Cesar, 6 de março de 2011 @ 14:07 Reply

    Caro Leonardo

    Sou do terceiro setor e sobrevivo da “cultura” e dos outros dois setores.
    Recebo, leio e acompanho os seus escritos. Sempre intensos e recheados de profundas reflexões que certamente são frutos de sua vivência e experiência.
    De tudo, tiro conclusões óbvias e a pior delas é a ausência da chamada sociedade que se recusa terminantemente a se expor. Dividida em trincheiras e grupos que se segmentam de forma egoísta, esquecendo que do “geral” se tira benefícios para o “particular”.
    Quero me colocar e me coloco ao seu lado em nome do “melhor”.
    Este desabafo, este auto-retrato, este auto-decreto e estas confissões que publicas, o tornam, sem dúvida, fonte de inspiração.
    “A sociedade somos nós”. Uma frase que poucos governos gostam de ouvir.
    É dela a obrigação de propor, de gritar, de reivindicar, de fiscalizar mas também de participar ativamente nos processos que definem políticas para o todo.
    Do governo se espera “ouvidos” e ações.
    Do mercado a compreensão necessária para o máximo de socialização do “lucro”, investimento óbvio no seu próprio alvo.

    Como terminas: “vamos em frente”. Acredite estou neste plural.

  • Rafael Trombetta, 6 de março de 2011 @ 18:04 Reply

    Leonardo! Acompanho a muito tempo tuas andanças e as do Cultura e Mercado. Na atual situação de imbricamento das recentes decisões do MinC não tenho certezas absolutas e nem verdades incontestes, apenas aferições que indicam que mudanças sempre ocorrem, tanto na busca de valores e no diálogo. Espero mesmo a continuidade das ações iniciadas outrora e fortaleço a corrente para que continues teu trabalho de lançar sementes neste terreno de difícil arado, mas que nos alimenta e ajuda outros a terem sonhos, que não são os que mercadologicamente o mercado insere na cabeça de muitos.

    Estou na corrente desta maré, onde coloquei minhas naus para navegar na cultura e a três anos subsisto editando, elaborando planejamentos para projetos, e agora neste ano, realmente estou vendo o farol que visualizei na concepção desta jornada. E assim espero continuar, obtendo uma melhor qualidade de vida e como consequência, esta qualidade também para os que me rodeiam, ou seja, o Todo.

    Namaste!

  • Marcos Rocha, 7 de março de 2011 @ 19:03 Reply

    Senhor Leonardo,

    Depois de todo esse discurso inicial contemplativo, quase místico, que do meio para o fim declinou, como era de se esperar, para uma defesa, uma apologia da atual gestão do MINC, seu escrito não poderia ter terminado de modo mais lamentável, mais falacioso, mais enganador a minha opinião. Quiseste realmente dizer aquilo que disseste no início do último parágrafo? Não queres reavaliar sua posição? Acreditas realmente nesse discurso que enunciaste? Inocência política acredito que não seja. Resta a tentativa deliberada de ludibriar, confundir o leitor e minimizar, empobrecer o debate político mais amplo.

  • Leonardo Brant, 7 de março de 2011 @ 19:35 Reply

    Obrigado pelas declarações de apoio e também pelas críticas. Não quero fazer apologia a coisa alguma, muito menos a mim mesmo. Quis apenas me libertar dos vários mantos que eu mesmo me impus, mas sobretudo aos que me atribuem. Não estou em busca da redenção, não me arrependo de nada que fiz. Venho apenas apresentar que o momento exige transparência, descortinamento, mas sobretudo serenidade e vontade de dialogar. Aqui é um lugar para isso. Não é o único. Podemos e devemos utilizar todos os outros.
    Estou cansado de trabalhar na base de acusações. Quero compreender mais e colocar o meu potencial de articular ideias e pessoas a serviço de algo construtivo. Vou me policiar para isso. Sinto que o momento histórico pede isso. Não tenho medo de declarar o meu apoio. Conheço algumas pessoas chamadas para conduzir esse processo. Eu não participo dele, mas sei que será conduzido por gente que tem história e compromisso com a cultura, há muito tempo, tanto tempo quanto eu. Ou mais. E tem condição técnica privilegiada, com uma qualidade muito acima do que estamos acostumados. Diante disso, o mínimo que posso fazer é colocar minha cara pra bater, assumir minha posição. Ela não é contra ninguém, é a favor de uma política cultural inovadora e dialógica. Acredito na possibilidade de avanço. E vou batalhar para construir esses espaços de diálogo e construção coletiva. Não pra mim, pessoalmente. Sinceramente eu não quero e não preciso disso.
    Abs, LB

  • Carlos Henrique Machado, 7 de março de 2011 @ 19:52 Reply

    “Os recentes ataques a Ana de Hollanda (embora queiram atingir outras instâncias de poder) são ataques diretos ao governo Dilma (consequentemente ataques diretos ao ex-presidente Lula). Em nome de um projeto amplo e participativo, precisamos confiar nas escolhas da presidente e auxiliar a construção do novo projeto de política cultural do Brasil, que não pertence ao governo. É de todos nós. É da sociedade brasileira”.(Leonardo Brant)

    Leonardo, desculpe-me, mas carregar tochas para iluminar os caminhos de Ana de Hollanda com este discurso, é dizer que ela não tem independência, é dizer que ela não tem condições de ser uma ministra de Estado. Não sei quantas vezes você chamou Lula de populista e fanfarrão, Dilma então! De inépta, poste e por aí vai. Então, você quer jogar no mesmo balaio em defesa de Ana de Hollanda, Dilma e Lula como pano de fundo político?

    Tem uma coisa Leonardo, que tenho observado e acho admirável nos maiores críticos de Ana de Hollanda, ninguém coloca em xeque a artista, compositora e nem confrontam em suas críticas seu irmão e seu pai. As críticas a ela são cirúrgicas e objetivas na questão do Ecad, dos pontos de cultura e etc., da SID. Cada uma dessas questões levantadas as pessoas colocam a inversão de valores que ela trouxe com a sua gestão. Então Leonar, ficamos combinados, acho legítima a sua ardente defesa a Ana de Hollanda, isso é parte da democracia, mas mantenha o sendo de justiça e liberdade e observe que ninguém usou método o sentimento pessoal em nenhum escrito contra a ministra. Não podemos cair em tal mistificação, em teorias de que atacar os erros brutais de Ana de Hollanda significa atacar Lula e Dilma. Até porque Ana tem recebido as maiores e mais bem urdidas críticas dentro do PT, partido de Lula e de Dilma e não de Ana de Hollanda.

  • Leonardo Brant, 7 de março de 2011 @ 21:01 Reply

    Carlos, não sou contra as críticas. Elas precisam existir. Quero ser o veículo dessas críticas. Mas não posso ficar tranquilo quando existe uma campanha para derrubar a ministra. Saí a campo para defender a governabilidade da ministra e não a pessoa da Ana de Hollanda. Só que nesse processo eu desafinei, usei um tom abaixo. E estou tentando recuperar a afinação para continuar a entoar a nossa canção. Abs, LB

  • Ivana Bentes, 8 de março de 2011 @ 15:36 Reply

    O texto do Rodrigo Savazoni em resposta as acusações do Leonardo Brant é importante para neutralizar essa estranha estratégia de tirar a credibilidade e criminalizar o Movimento dos Pontos de Cultura e da Cultura Digital como “opositores” de Dilma ou do MinC ou como “inadimplentes” ou como partidários de fulano ou de beltrano ou como “incapazes de se sustentar” e “sem resultados concretos”, “amadores” e tudo que estamos vendo ser vocalizado por ai.

    Não somos “opositores” do MinC nem de Dilma somos os construtores e protagonistas dessa política pública que agora defendemos de forma apaixonada: O Plano Nacional de Cultura e o Programa Cultura Viva, um dos maiores legados da era Lula e de protagonismo da cultura neste país.

    Sabemos que o buraco é + embaixo. Os problemas de gestão são um problema do Estado Brasileiro, incapaz de botar a grana na mão de quem faz cultura. O Estado brasileiro foi pensado para botar dinheiro na mão das empreiteiras, grandes corporações, produtoras estabelecidas. Não é um problema só do MinC.

    Acho importantissimo a gente deixar claro que os Pontos e Pontões de Cultura Digital ficaram mais de UM ano calados, contigenciados, sem receber o recurso ganho em EDITAL (ainda não pago, aliás!) no MinC em FIDELIDADE AO PROJETO POLITICO DE LULA E DILMA. Em respeito ao Plano Nacional de Cultura e todos os AVANÇOS alcançados Se isso viesse a tona nas eleições era um prato feito para a Mídia.

    O mov. dos Pontos de Cultura teve essa dignidade e essa maturidade. Esse texto do Leonardo Brant (a quem Savazoni responde) e outros parecem plantados para desqualificar e DIVIDIR o movimento dos Pontos e da Cultura Digital.

    Digo mais, acredito que esse tipo de estratégia (CRIAR SUSPEIÇAO de todos com todos) vocaliza neste momento o que alguns gostariam de fazer mas não podem fazer abertamente: jogar os Pontos, Pontões e mov Cultura Digital aos leões!

    Tirar a discussão do debate POLITICO para o debate criminal, legal, minar…

    Isso não é fazer POLITICA é usar as piores estratégias da pior Midia! Vamos discutir o Plano Nacional de Cultura, construido e proposto pela sociedade brasileira. D Vamos discutir os 8 naos de avanços que precisam ser consolidados.

    Ivana Bentes

  • Leonardo Brant, 8 de março de 2011 @ 17:01 Reply

    Olá Ivana, muito obrigado por sua participação. Saiba que eu admiro seu trabalho e suas ideias.
    Concordo com você que a construção do argumento em meu artigo “Quem tem medo de Ana de Hollanda?” deixa uma brecha para uma falsa premissa, de que todos que criticam a nova ministra estão envolvidos em uma campanha fascista chamada #foraanadehollanda. Isso não é verdade. Mesmo assim não me arrependo de ter escrito aquele texto, pois foi uma maneira de equalizar o debate, todo baseado num princípio de terra arrasada. Ele foi claramente emocional, imbuído de um espírito de luta. Não há uma construção de argumento, no sentido que vc aponta (de pensar estrategicamente para agir em nome de determinados interesses escondidos).
    Conheço o trabalho da Marta Porto há pelo menos 15 anos, envolvidos com a luta em torno das políticas culturais, aqui e no exterior. Hoje vejo um ataque gratuito e perverso a ela, como se não fosse capaz de compreender a complexidade dos problemas envolvendo os Pontos de Cultura. Como se a Marta não fosse uma das pessoas mais capazes do Brasil para resolvê-los. Só que é um debate injusto, pois a secretária ainda não foi empossada, não pode sequer falar em nome do governo federal. E antes mesmo de tomar posse se depara com uma campanha difamatória, cheia de factóides, de frases prontas, construídas e disseminadas nas redes como se fossem verdade. Contra esse movimento baixo, valeu a minha defesa, que atingiu inúmeras pessoas que nada tinham a ver com essa campanha. Este meu novo artigo é uma tentativa de me desculpar pelos excessos, de cessar fogo e compreender melhor as diversas nuances que envolve o movimento contra Anda de Hollanda. E uma abertura de espaço para aqueles que desejam aguardar, dar tempo para compor a equipe, compreender o tamanho do buraco. E sobretudo dialogar. Não acho que vale a pena encontrar o culpado pelo tamanho do buraco e tenho conversado com os membros do novo MinC, que estão 100% focados em avançar, olhar adiante. Mas a situação que se impõe exige tempo, pois a situação é muito frágilizantes e remonta alguns anos. Não é justo colocar nas costas de Ana de Hollanda, só porque ela deseja rever a discussão sobre direito autoral (o que é mais do que justo, já que existe uma parcela da população que se sente excluída do debate – isso é fato comprovado), a responsabilidade por um problema que se arrasta há anos e anos. A ministra em nenhum momento se esquivou dessa responsabilidade e não está tentando jogá-la nas costas de ninguém. Ela apenas pediu tempo para montar a equipe, compreender os problemas e resolvê-los. Um tempo mais do que razoável.
    Quanto à pauta propositiva, você está no lugar que mais faz isso no Brasil, sem modéstia alguma. Acompanho praticamente todos os sites culturais, acadêmicos, do mercado, dos movimentos sociais, de norte a sul deste país. Não conheço nenhum outro que promova uma discussão propositiva sobre política cultural de maneira tão insistente, há tanto tempo e com tanta penetração nos lugares mais longínquos do país. Vamos comemorar 10 anos ininterruptos no ar. Um debate livre, democrático, com gente de todas as cores e gostos. O que mais fiz nos últimos dias foi buscar gente que pensa diferente de mim para publicar artigos aqui (inclusive o seu sobre continuidade dos Pontos). Posso ser acusado de tudo, menos de conduzir o debate.
    Em fevereiro contabilizamos 6 milhões e meio de páginas impressas (cliques no site), por mais de 100 mil pessoas. Não estamos falando sozinhos, estamos dialogando, direta ou indiretamente, com praticamente todo mundo que vive de cultura no Brasil.
    O momento era extremo e exigiu um movimento brusco de minha parte. Não é a primeira nem será a última vez que faço isso. Se há uma certa irresponsabilidade nesse tipo de atitude (e há, cofesso), cometo-a com leveza, com a certeza de que, mesmo errando (e erro bastante), faço com clareza de propósito e de espírito. E conto com a participação de uma enorme rede para balizar meus atos irresponsáveis, chamando a atenção, auxiliando, xingando, trazendo-me de volta para o chão, colocando-me novamente em meu humilde lugar, onde sempre devo estar.
    Isso daqui não é mídia. Aqui eu falo por mim. Se você tiver o que falar, fale por você que eu garanto a publicação. Eu não censuro discussões, não falo meias palavras, por isso não agrado muita gente. E não estou aqui para agradar. Estou aqui para dialogar.
    Por isso, agradeço muito as suas palavras. Sua vinda aqui neste espaço só faz aumentar minha admiração por você, por seu engajamento e compromisso com a cultura brasileira. O espaço está sempre aberto.
    Um grande abraço, LB

  • Aline Carvalho, 8 de março de 2011 @ 23:07 Reply

    Ola Brant,

    O Cultura e Mercado tem sido pano de fundo para importantes discussoes sobre a politica cultural brasileira, e te parabenizo pelo teu trabalho.
    Entretanto, continuo nao concordando com o seguinte ponto do teu post, o qual gostaria de esclarecer:

    “Os recentes ataques a Ana de Hollanda (embora queiram atingir outras instâncias de poder) são ataques diretos ao governo Dilma (consequentemente ataques diretos ao ex-presidente Lula)”.

    Em primeiro lugar, o que você se refere por “ataque” eu entendo como “reaçao”. Afinal, foi o movimento da cultura digital que escreveu em pleno natal/reveillon uma carta de boas vindas à nova Ministra, nos colocando à disposiçao para o dialogo, com importantes pontos do atual debate e um belo repositorio de referêcias para a nova ministra se informar

    Na realidade, quem saiu atacando foi ela, retirando a licença CC do site – o que ovocê mesmo avaliou como inoportuno – e dando inicio a uma novela de embates e mal entendidos (levando, concordo, a um desgaste desnecessario em 60 dias de gestao)

    Segundo, dizer que atacar a Dilma é, consequentemente, atacar o Lula é uma retorica no minimo falaciosa. Inclusive o que esta sendo reivindicado sao politicas e reflexoes construidas no proprio governo Lula. Para além das conjunturas mais ou menos complexas que levaram a Hollanda ao cargo,os “poucos e barulhentos” que votaram na Dilma pela continuidade das politicas da gestao anterior (no caso, na cultura), estao apenas reivindicando o que foi parte da promessa de campanha, sob a desconfiança de ter comprado gato por lebre.

    Concordo que a atual equipe do MinC tem consideravel historico e bagagem e que é relativamente cedo para tirar certas conclusoes. Apenas estamos alertas para certos atos (ou omissoes) simbolicas, que as vezes falam mais do que açoes concretas.

    Vamos ver se agora o ano começa de verdade e podemos de fato iniciar o tal “dialogo com toda a sociedade brasileira” ao qual a Ministra tanto se refere. Afinal, todo carnaval tem seu fim…

    Abraço,
    Aline Carvalho

  • Luiz Carlos Garrocho, 11 de março de 2011 @ 15:45 Reply

    Leonardo,

    Concordo com o Carlos Henrique:as críticas em relação à nova gestão do Minc não têm por alvo a pessoa ou a artistas ana de Hollanda. Primeiramente, falo por mim, que desde a primeira hora, com as primeiras entrevistas e discurso, percebi que havia mudança. Você pode ver no texto que publiquei no meu blog, Olho-de-Corvo: “Política cultural: redes ou centralidade?” (sss://bit.ly/h3XLYe)e noutro, que até citei um artigo seu: “Indústria criativa não é panacéia: os equívocos do Minc” (sss://bit.ly/hXi5Nv). Em nenhum momento curtimos o ataque pessoal.

    No entanto, quem trouxe a instabilidade foram as opiniões e atitudes da própria ministra. Isso é inegável. E até o presente momento, não há nada que indique o contrário.

    Entendo o seu entusiasmo pela nova gestão do Minc. E acredito mesmo que a questão não é de dar ou não dar crédito para uma ministra que se inicia. A questão é uma só: como fica a continuidade em políticas públicas para a cultura?

    Sabemos o quanto a cultura é frágil nesse sentido, apesar dos esforços e conquistas da última gestão. Nesse aspecto, até houve um grande avanço: o Plano Nacional de Cultura, os fóruns e debates, os Pontos de Cultura. São ações que pedem continuidade. Os Pontos de Cultura certamente não sofreram grandes modificações, mas não se pode dizer muito sobre o restante.

    Há um corte conceitual sendo operado em relação à ultima gestão. Isto está claro e colocado com todas as letras. Inclusive, muito bem celebrado por alguns artistas, produtores etc. Então, é um direito, o nosso, de questionar a continuidade. De perguntar se irão prevalecer as consultas especializadas, jogando fora todo o mecanismo de consulta popular, de participação dos agentes culturais desse país!

    Quem tem que se sustentar, se defender, se mobilizar, é justamente a ministra. Nossa função é de cobrança. Ninguém questiona a capacidade da nova gestão. Certamente que ela irá funcionar. Porém, trata-se de outra coisa: para quem e para quais forças irá funcionar a nova gestão?

    Pelo que estamos vendo, irá funcionar contra as conquistas da última gestão! Até segundo aviso…

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