Capoeira pode ser reconhecida como patrimônio cultural imaterial. Edital 2007 do programa Capoeira Viva será lançado nesta terça-feira, dia 9, em Salvador. O valor anunciado é de R$ 1,2 milhão.

Duramente perseguida no passado, a capoeira, mistura de dança, jogo e luta criada entre os negros escravos, começa a ser devidamente reconhecida. Durante a estréia do filme “Mestre Bimba – A Capoeira Iluminada”, de Luiz Fernando Goulart, o secretário executivo do Ministério da Cultura (MinC), Juca Ferreira, anunciou que está em análise o tombamento da capoeira como patrimônio cultural imaterial brasileiro. Na ocasião, afirmou ainda que um possível apoio da Unesco pode garantir internacionalmente esse reconhecimento. Nada mal, tendo em vista os anos de marginalização.

O secretário também tinha outro motivo para comemorar. Completava um ano de existência o programa Capoeira Viva, iniciativa do MinC em parceria com o Museu da República e patrocínio da Petrobrás. R$ 930 mil reais foram destinados para a produção de pesquisas, ações socioeducativas e recuperação de acervos documentais. “Queremos mudar a relação do Estado com a capoeira”, afirmou o secretário Juca Ferreira, em entrevista ao 100canais. A iniciativa visa premiar, por meio de repasse de recursos, indivíduos, organizações e instituições sem fins lucrativos, que atuem na promoção da capoeira.

O lançamento do edital 2007 do programa Capoeira Viva, será nesta terça-feira, 9, em Salvador. Segundo informações da assessoria de imprensa do MinC, o valor total da premiação será de até R$ 1,2 milhão. Na ocasião será lançado também o documentário “Brasil Paz no Mundo”. O filme, produzido com apoio do MinC, destaca, por meio de depoimentos de alunos e mestres, a importância da prática na integração das comunidades e a necessidade de políticas públicas voltadas à capoeira – presente hoje em mais de cem países. A obra registra ainda uma homenagem ao diplomata Sergio Vieira de Mello, morto em um atentado em 2003 no Iraque.

Inclusão social
Novas possibilidades de participação foram incluídas no último edital, como ações por meio de mídias digitais, eletrônicas e audiovisuais, filmes, vídeos, exposições, instalações, sites, entre outros. O objetivo, segundo o secretário do MinC, é valorizar essa expressão cultural como ferramenta de inclusão social. “Ela já é usada há muito tempo no resgate da sensação de pertencimento”, afirma. A “capoeiragem”, segundo ele, vai além do físico. “Sua dimensão cultural educa para a vida”, define.

Outras iniciativas estão em trâmite. Recentemente foi aprovado Projeto de Lei do deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), que reconhece a profissão de capoeirista. O texto considera como profissional aquele que participe em eventos públicos ou privados, mediante remuneração. No entanto, a proposta determina que todos sejam inscritos na Confederação Brasileira de Capoeira (CBC). Resta saber se essa determinação não resultaria numa desapropriação dos genuínos detentores desta arte.

Não é a primeira vez, aliás, que ela é alvo de debate político. Há alguns anos se cogitou tornar obrigatório a formação em educação física para o ensino da capoeira. Segundo Juca Ferreira, a idéia do MinC e do Iphan de fazer o registro como Patrimônio Cultural Imaterial é uma das formas de preservar esse saber sem desapropriá-lo dos seus verdadeiros donos. Processo que deve ser concluído até o fim do ano, garante o secretário.

Intercâmbio
Outra iniciativa anunciada é a realização de um festival internacional, a cada dois anos. “Será uma forma de reunir capoeiristas do mundo inteiro e de todo o Brasil para troca de experiências e discussão de novas políticas”, afirma Juca. A intenção é criar um evento permanente no calendário cultural do país, diz.

Para Rosângela Costa Araújo, a contramestra Janja, integrante do Conselho de Mestres do programa Capoeira Viva, o momento é propício para fazer avaliações, corrigir erros e replicar acertos. Historiadora e fundadora do Instituto Nzinga de Estudos da Capoeira Angola, ela reconhece os avanços promovidos pela iniciativa. “A repercussão desse programa tem ajudado o governo a atuar na composição de quadros que possam fornecer, de fato, informações mais precisas em nível mundial”. Mas ressalta, é necessário discutir sua continuidade.

Do ponto de vista dos capoeiristas, a avaliação é positiva, diz. “Sempre que se abre espaço para que a diversidade, e a complexidade desta arte se revele, ganhamos com isto”. Ela acrescenta que o número de trabalhos inscritos – que acredita ser maior nesta edição do programa – aponta a necessidade dos grupos, e também dos pesquisadores, de divulgarem suas interpretações, ações e transformações na paisagem social e cultural das cidades brasileiras. “Este programa consegue revelar experiências preciosas”, defende a historiadora e capoeirista.

Carlos Minuano – 100canais
Leia no próximo boletim do Cultura e Mercado, a capoeira na visão de seus principais protagonistas, ou seja, os mestres, e uma entrevista exclusiva com Luiz Fernando Goulart, diretor do filme “Mestre Bimba – A Capoeira Iluminada”.


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