Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo cancelou toda a programação do espaço paulistano de arte contemporânea, que deverá se tornar uma sala de leituraPor Sílvio Crespo
31/03/2003
Um importante espaço paulistano de exposições e debates no campo da arte contemporânea, a Casa das Rosas cancelou toda a sua programação a partir do mês de abril. A ordem veio da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, que deve remanejar os funcionários da instituição para outros programas culturais do Governo do Estado. A resposta, seguindo a tradição da Casa de pioneirismo no uso das novas mídias, veio pelo meio eletrônico: um manifesto em defesa do espaço artístico circula por e-mail desde a semana passada.
A iniciativa de mobilização pela preservação do espaço cultural partiu não de funcionários, cujo destino ainda é incerto, mas de “pessoas que gostam da Casa das Rosas e estão preocupadas com o seu esvaziamento”, disse um dos autores do manifesto. O movimento é formado por artistas e freqüentadores, e não tem uma liderança. Ainda não foi contabilizado o número de assinaturas que o manifesto já reuniu.
Casa de leitura
A recém-empossada secretária da Cultura de São Paulo, Cláudia Costin, procurada por Cultura e Mercado, afirmou que só poderia falar à imprensa a partir do dia 1º de abril, quando vai anunciar oficialmente seus novos projetos. Segundo uma nota publicada no jornal O Estado de São Paulo, a secretária pretende transformar a entidade em um “espaço de leitura para jovens”.
Os autores do manifesto alegam que “na região da [Avenida] Paulista (onde se localiza a Casa das Rosas), a oferta de espaços dedicados à leitura é bastante farta, tendo como bons exemplos a Biblioteca do MASP, Biblioteca Maria Brás, Itaú Cultural, Centro Cultural São Paulo e Biblioteca Circulante Mario de Andrade, além de alguns espaços privados”.
Sem função
No dia 24 de fevereiro, o então diretor da Casa das Rosas, José Roberto Aguilar, deixou a entidade para assumir a delegacia regional de São Paulo do Ministério da Cultura, e desde então não foi substituído. De acordo com a assessora da diretoria, Márcia Azevedo, a secretária da Cultura não falou diretamente aos funcionários da Casa sobre o que será feito com o espaço. Disse apenas que “nós (funcionários) devemos procurar outra função na Secretaria ou então outro emprego”, conta Márcia, que afirma ter ficado sabendo dos planos da secretária apenas pelo jornal.
Diálogo inédito
De acordo com o manifesto, mais de 600 artistas plásticos expuseram na Casa das Rosas desde a sua inauguração, em 1995. Além disso, “mais de 200 grupos nas áreas de dança, música, teatro, vídeo e performances” já exibiram seus trabalhos no projeto Segundas-Rosas-Feiras. Ainda segundo os manifestantes, a entidade atua “em sintonia com as movimentações mais recentes na pesquisa em novas mídias, […] criando um diálogo até então inédito entre os acontecimentos nos espaços físicos e o ambiente virtual”. A Secretaria da Cultura deve anunciar no dia 1º o que será feito do acervo formado ao longo dos sete anos de funcionamento da Casa das Rosas, bem como os novos planos para o espaço.
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