Leia a cobertura completa do ciclo de debates do seminário que reuniu cineastas e acadêmicos, jornalistas e produtores para discutir cinema e audiovisual sob um viés político e econômico.
O III Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual aconteceu entre os dias 9 e 14 de julho, no Teatro Castro Alves, em Salvador, e promoveu uma mostra com filmes inéditos no Brasil, seis debates com estudiosos e cineastas brasileiros e internacionais e um encontro de negócios. Além disso, o foyer do Teatro Castro Alves foi ocupado com projeções de peças audiovisuais, exposição de fotos, lançamentos e autógrafos de livros e por um sem-número de encontros e conversas que permitiram a troca de saberes preciosos para a realização cinematográfica e audiovisual no Brasil.
Idealizador e coordenador do Seminário Internacional de Cinema desde março de 2005, Walter Pinto Lima realizou, com a produção de Cássio Sader, por meio de sua produtora, a VPC Cinemavídeo, a terceira edição do Seminário, em parceria com a Universidade Federal da Bahia. Convicto de que um dos caminhos para a formação de platéias e profissionais passa pelo debate e pelo aprofundamento das discussões, Walter Lima acredita que “é importante refletir sobre o cinema, especialmente hoje em dia, em que a sétima arte sofre uma carência de ideologia, tanto de quem produz quanto de quem consome”. Satisfeito com o sucesso continuado e crescente do evento que lotou de cineastas, profissionais da área, professores e estudantes, aspirantes e sonhadores, todas as dependências do mais festejado teatro baiano, Walter anunciou que, em 2008, haverá uma mostra competitiva, inaugurando no âmbito do seminário a realização de um festival internacional de cinema.
Uma das faces mais prestigiadas do III Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual foram os debates que envolveram cineastas e teóricos, jornalistas e produtores. Na edição passada, o Teatro da Reitoria da UFBA ainda foi suficiente para um público que se multiplicou e, em alguns momentos, lotou a platéia do Castro Alves. Nesta terceira edição, o tema central foi “Poéticas e Políticas no Cinema Contemporâneo”, e seis eixos foram explorados. Um deles abordou a linguagem cinematográfica, discutida em “A Narrativa: de Griffth a Godard”, com a participação do cineasta espanhol Fernando Trueba – vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro com Sedução.
Outro eixo de discussão intitulou-se “Poética, Estética e Política do Filme”, no qual teóricos de universidades brasileiras, como Olgária Matos (USP) e Ivana Bentes (UFRJ) e do exterior, como o chileno Miguel Littin, trataram da importância do cinema na percepção humana. A mesa mais declaradamente política, entre tantas que a tiveram como eixo propositivo, seria “Cinema Político Contemporâneo”, que contaria com a participação de Tariq Ali, historiador, escritor e cineasta e do cineasta Mimmo Calopresti: o paquistanês não veio (a tempo de ter seu nome suprimido do programa impresso) e o italiano surpreendeu falando um dia antes (por precisar antecipar seu retorno à Itália), o diretor Cubano Daniel Diaz Torres, no entanto deu conta do recado.
Duas outras mesas levaram a discussão para um âmbito mais local. “Cinema Baiano: Ontem e Hoje”, foi o momento mais explosivo destes três anos de seminário: o cineasta baiano Edgard Navarro e o crítico de arte e professor da UFBA André Setaro trocaram farpas e desafetos que terminaram em impropérios dirigidos à platéia. A querela surgiu do debate que pretendia classificar a existência e a qualidade de um cinema autenticamente baiano de 1970 para cá. “Perspectivas para o audiovisual na Bahia e no Brasil”, para a qual não compareceu Leopoldo Nunes (diretor da ANCINE), contou com a baiana presença de Orlando Senna (Secretário do Audiovisual do MinC) que equacionou o financiamento para a construção de um pólo nacional de audiovisual na Bahia.
Para fechar o ciclo de discussões, a mesa “Imagem e Mídias Digitais” contou com a participação do cineasta pernambucano Cláudio Assis, de Amarelo Manga, que também exibiu na mostra o seu longa inédito Baixio das Bestas. Esta última mesa explorou aspectos os históricos e as perspectivas da divergência ótica e da convergência digital.
Assim, em três dias movimentados e repletos de informação, tratou-se de linguagens (narrativa e técnica), de ética, estética e política, de identidades locais e globais, de história e perspectivas, de economia e arte, de poesia e luz! Como confidenciou Miguel Littin em um dos corredores do evento: “é bom ver o sangue latino voltar a correr veloz em suas veias políticas”. Assim, o seminário contribuiu para o adensamento político do debate sobre a indústria cinematográfica, seja como veículo ideológico, seja sob aspectos de produção e exibição, ou mesmo como geradora de poderosa cadeia produtiva. Ressaltou, ainda, a transformação que a digitalização está propiciando ao universo audiovisual, que já tendia à formação de células produtivas isoladas, rompendo com o paradigma de cadeia de produção seriada, compartimentada por especialidades e questionando, na outra ponta, não na da produção, mas, na do consumo, se o resultado terá algum interesse mercadológico. A abrangência da abordagem do seminário, no entanto, não resultou difusa, tampouco fragmentada, ficou coesa em sua perspectiva de costurar valores essenciais que deverim andar mais juntos: ética, estética e política!
Outros cenários do evento
Com jeito de festival, a mostra de filmes exibiu outros longas e curtas-metragens nacionais e internacionais, inéditos na Bahia e no Brasil, entre eles Juventude em Marcha de Pedro Costa; Volevo solo vivere, de Mimmo Calopresti; Joy soy la Juani, de Bigas Luna; Santiago, de João Moreira Sales e A scanner darkly, de Richard Linklater.
Nos dias 12 e 13 de julho, no Hotel da Bahia, aconteceu o II Encontro de Produtores e Distribuidores, que é a parcela do evento direcionada para o mercado cinematográfico, buscando criar um ambiente propício para novos negócios audiovisuais. Ainda no Hotel da Bahia, o Seminário abrigou o I Encontro Locações Bahia, e o lançamento do Bahia Film Commission para discutir as perspectivas da indústria audiovisual e do turismo.
Leia, a seguir, a íntegra da cobertura que esta reportagem fez dos debates do Seminário a convite da organização do evento:
Narrativa, poética, estética e política abrem os debates
Com destaque para a antecipação da palestra do cineasta italiano Mimmo Calopresti, o primeiro dia do seminário discutiu a relação entre ética e estética no cinema.
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O cinema baiano de ontem e as querelas de hoje
Segundo dia de debates eclode discussão sobre o cinema baiano que vive equilibrando-se entra a memória de uma era de ouro e a produção decaída das últimas décadas.
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MinC equaciona projeto de pólo nacional de audiovisual na Bahia
Mudanças nas estruturas históricas do audiovisual no âmbito estadual e o conjunto dos esforços federais para a criação de um pólo nacional de audiovisual na Bahia são as temas centrais do último dia de debates do III Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual.
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O grão digital: estética e técnicas da transição
Cineastas debatem possibilidades do audiovisual em diversos tipos de mídias digitais e a convivência com a tradicional película. Qualidade, custos, portabilidade, vanguardas e tradição foram temas da última mesa do seminário.
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A “noite do delete”, ou quando a Ancinav reduziu-se a Ancine
O Secretário do Audiovusual do MinC falou sobre que fim levou a proposta da criação da Ancinav, a criação da Rede de TVs Públicas no Brasil, a digitalização da televisão, a classificação indicativa e a escolha do presidente Lula de fazer do audiovisual um setor estratégico em seu governo.
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CINECLUBES – Construindo cineclubes a partir de filmes |
Eduardo Carvalho