Diretor do Departamento de Cultura da Unesco na França analisa os efeitos perniciosos da globalização sobre o setor cultural, como a monopolização do comércio de bens simbólicosPor Sílvio Crespo
A relação entre cultura e globalização, caracterizada pela concentração do comércio de bens simbólicos em sete empresas de comunicação, é analisada pelo professor Edgar Montiel, chefe do Departamento de Cultura e Desenvolvimento da sede da Unesco na França. Na sua conferência, intitulada Construindo informações para a Cultura e o Desenvolvimento, apresentada no segundo dia do Seminário Políticas Culturais para o Desenvolvimento, Montiel descreveu ainda o trabalho da Unesco na França de promoção da cultura e do desenvolvimento.
Globalização e cultura
O palestrante classificou a revolução tecno-científica do século XX, que propiciou a globalização da economia, em quatro áreas: informática, comunicação, robótica e biotecnologia. Para ele, as duas primeiras exerceram forte influência sobre a cultura mundial, contribuindo para a formação de uma ?Nova Ordem Simbólica?.
Montiel descreveu com números o grande impacto da informática e dos meios de comunicação no mercado cultural e no comportamento do consumidor. De acordo com ele, a exportação de bens culturais aumentou de US$ 48 bilhões, em 1980, para US$ 180 bilhões em 2000. E a importação pulou dos mesmos US$ 48 bilhões para US$ 215 bilhões.
Concentração
?Neste mercado milionário, 50% da produção está concentrada em pouquíssimos países: Estados Unidos, Japão, China e países da Europa?, diz o professor. E dentro desses países, o comércio de bens culturais é monopolizado por alguns poucos grupos, como a América OnLine, a Time Warner e a Walt Disney.
Foi essa concentração que gerou a chamada Nova Ordem Simbólica, segundo Montiel. ?Vivemos cercados por símbolos ? marcas, estilos de vida, linguagens ? e isso causou um forte impacto nas nossas cabeças, uma verdadeira revolução no plano do comportamento e do hábito de consumo?, explica o conferencista.
Solução
No intuito de resolver ou ao menos amenizar esse problema, Montiel desenvolve alguns trabalhos pelo escritório da Unesco em Paris. Os programas desenvolvidos pela entidade, segundo o professor, procuram ?estimular a força criativa do consumidor, identificar formas de desenvolvimento econômico da cultura, criar micro e pequenas empresas culturais e fomentar estudos culturais?.
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