Prefeitura de SP anuncia Virada como maior evento cultural do país, com público entre 3,5 e 4 milhões de expectadores. E fez o milagre da multiplicação do real: investiu R$ 6,8 mi e obteve R$ 90 mi de retorno
O release oficial proclama: “com um público estimado entre 3,5 e 4 milhões de pessoas, a Virada Cultural já se tornou o maior evento cultural do país e o maior do gênero do mundo. Com um aporte de R$ 90 milhões à economia local, o festival consolida-se como grande evento da cidade de São Paulo. Não houve registros relevantes de ocorrência policial”, o grande fantasma da edição passada.
Recheado de elogios e frases de efeito do prefeito-candidato Gilberto Kassab, o material distribuído à imprensa comprova a pujança da Virada, que cresce um pouco mais a cada ano e ganha novos espaços.
Na edição passada, foram cinco grandes palcos no Centro. Neste ano, aumentou para 26 – dos quais, 24 tiveram programação nas 24 horas da festa. “As pessoas responderam bem à Virada de 2007 e sentimos que havia espaço físico para ampliá-la”, ressalta o secretário de Cultura do município, Carlos Augusto Calil. “Nunca houve tanta gente no centro de São Paulo”, comemora o secretário.
O coordenador da Virada Cultural, José Mauro Gnaspini, também celebrou a presença dos paulistanos e visitantes nas ruas da Cidade. “Foi sensacional, mesmo nos locais onde não funcionavam palcos ou atrações programadas havia pessoas caminhando, sentadas em bares ou restaurantes. Fechamos o Centro, tiramos os automóveis e a Cidade voltou a ser como era. As pessoas redescobriram o Centro, que virou um grande boulevard”.
Parte significativa dos 4 milhões de pessoas que passaram pela Virada é formada por turistas, que vêm sobretudo das cidades do entorno metropolitano e do interior do Estado. Dada a grande oferta de atrações de qualidade, o evento chama cada vez mais atenção de outras regiões do país e até do exterior. Este ano, SPTuris trouxe 120 operadores de turismo, do Brasil e América do Sul, para conhecerem o evento, que já se transforma num importante produto turístico da cidade, a exemplo da Fórmula 1 e da Parada GLBT.
Apesar da grande movimentação econômica, a Virada Cultural não recebe nenhum tipo de patrocínio privado. “Foi uma decisão que tomamos, de que a Virada é um evento da cidade e de todos os cidadãos”, afirma Caio Carvalho, presidente da SPTuris. Ele explica que o montante de R$ 90 milhões é calculado a partir das sondagens feitas na edição passada, quando foram pesquisados os gastos per capita e o tempo de permanência dos turistas na cidade em função do evento. “A Virada representa muito bem o posicionamento de São Paulo no Brasil e no Exterior como o grande pólo cultural da América Latina, além de reforçar o estilo diverso de uma cidade que pulsa 24 horas por dia”, afirma.
A Fórmula 1 e a Parada GLBT são os dois eventos mais lucrativos da cidade e movimentam um montante de R$ 200 milhões e R$ 150 milhões, respectivamente. Também superlativos são os números da SP Fashion Week (R$ 85 milhões), do Salão do Automóvel (R$ 55 milhões) e do Carnaval (R$ 40 milhões), que esquentam o setor de turismo na cidade, com grande ocupação da grade hoteleira.
E o release antecipa o tom de campanha eleitoral: “o governador José Serra marcou sua passagem pela madrugada na Virada Cultural com um enorme sorriso de orgulho, afinal foi ele o criador do evento”.
O diretor regional do SESC São Paulo, Danilo Santos de Miranda, observou que “o paulistano se faz presente nos mais diversos espaços culturais quando tem as condições para isso, tais como transporte, segurança e uma programação de qualidade à sua disposição. Mais uma vez, a Cultura demonstra sua força como agente motivador da participação social, da economia e da educação para a cidadania. A rede SESC integrou-se plenamente neste espírito, atraindo um publico de 55 mil pessoas até as 10 horas da manhã de domingo”.
Ao final, só faltou o release explicar o segredo da mágica: como um investimento de R$ 6,8 milhões transforma-se em R$ 90 millhões de retorno?
Leonardo Brant