Fragilidade da condição humana, constatada com perplexidade diante de uma situação de guerra – Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948). Concorrência desleal entre produtores globais e locais, colocando em risco a diversidade de expressões – Convenção da Unesco para a Diversidade Cultural (2007). Conflitos e suas possibilidades de administração no âmbito internacional foram tema do último encontro realizado pelo Laboratório de Políticas Culturais.
Partindo da idéia de que política compreende a administração dos conflitos de uma comunidade por ela mesma, ou por seus representantes, e que os conflitos surgem dos distintos interesses que a compõem, pretendemos estender a seguinte discussão a este espaço:
Durante o encontro, o consultor Daniel González, ex-diretor da Organização dos Estados Ibero-americanos nos alertou para o risco que corremos ao consumir conceitos de outras áreas do conhecimento sem mastigá-los, sem digestão. E colocou em xeque a própria idéia de diversidade cultural como uma simples importação da biologia. Transdisciplinaridades a parte.
Mas se corrermos esse risco, poderemos observar que na natureza a diversidade é garantida por uma espécie de equilíbrio natural. O desequilíbrio surge exclusivamente da atuação do ser humano – talvez surja apenas de sua observação, mas não vale a pena iniciar essa discussão agora. Fato é que o homem enxerga nesse desequilíbrio uma ameaça a si mesmo, pois sua sobrevivência e prosperidade dependem do equilíbrio do planeta. E cria politicas de proteção ao mico-leão-dourado, por exemplo. Política que, em última instância, é de proteção a si mesmo.
Muito provavelmente, é também de interesse do mico-leão-dourado sobreviver e prosperar. Mas, o mico-leão dourado não é contemplado pela declaração dos Direitos Humanos, nunca teve uma cadeira na ONU e, principalmente, não faz a mínima idéia de que a política de proteção criada para sua espécie é, na verdade, uma política de proteção a outra espécie que, apesar de se julgar superior, depende da sobrevivência de diversas outras espécies para sobreviver também.
No caso da cultura, há muita história política de 1948 para cá. O capítulo mais recente traz o Relatório UNCTAD sobre Economia Criativa (2008), proposta que visa promover produtos e serviços de valor simbólico – inclusive os provindos de expressões locais – como estratégia para o desenvolvimento. O termo “Diversidade Cultural” aparece diversas vezes no relatório, sustentando seu discurso.
É certo que a Convenção da Unesco pode servir a outros dispositivos globais, assim como por sua vez, a Convenção trilhou o caminho desbravado pela Declaração Universal dos Direitos Humanos lá atrás, no pós-guerra. Mas, afinal, é possível que as expressões locais possam se beneficiar e se apropriar destes dispositivos também?
2Comentários