O que é nosso? Para os membros do sarau semanal no bar do Zé Batidão, na região do M’Boi Mirim, Zona Sul de São Paulo, é a voz, o poder produzir a e ter retorno de seu trabalho com a cultura.

O grito-título deste fórum, vindo do sarau da Cooperifa, é o mote para o fórum desta semana. O que é nosso? Para os membros do sarau semanal no bar do Zé Batidão, na região do M’Boi Mirim, Zona Sul de São Paulo, é a voz, o poder produzir a e ter retorno de seu trabalho com a cultura.

Independente de ideologias – apesar da participação de movimentos anticapitalistas e de simpatizantes de diversas tendências e partidos da esquerda, o espaço é aberto para a produção a partir de qualquer tema e prisma, dos trabalhos que louvam o amor aos que se atém a temas sociais e étnicos – é um dos espaços em que se articulam e crescem as políticas de um novo espaço público – a periferia organizada. Não que seja a primeira vez. Movimento anarquista, Movimento Operário, guerrilha urbana, Hip Hop, entre outros, já se organizaram, em torno de seus ideais e de suas metodologias. Mas hoje a periferia é outra.

É e não é, pois aos olhos da mídia ainda é o berço da violência, da pobreza e das mazelas da cidade. Para este movimento, porém, é um lugar de um “povo lindo”, de um “povo inteligente”. Essa organização, dinamizada em torno de um sarau que na semana retrasada completou seis anos de existência, e começou numa mesa de outro bar, surgiu em pontos isolados. Os núcleos de produção audiovisual, em sua maioria, surgiram da ação de ONGs, responsáveis por cursos de formação técnica em sua maioria. Os músicos se juntaram em torno de festivais e casas de shows, cada qual por seu estilo. E os poetas encontraram os saraus, as editoras marginais e espaços semelhantes.

Hoje essa produção fervilha, e começa a discutir uma estética própria, manifestos e uma questão entre o básico e o primordial: por quê e para quem devemos fazer arte, cultura, movimento. Talvez ainda de forma menos politizada que o hip hop, até por não ter como pano de fundo a questão étnica em sua origem, mas críticos, à Indústria Cultural, à divisão social do trabalho, à exclusão do ensino público superior e às mazelas da educação básica.

Mas como produzir cultura na periferia, no sertão, sem dinheiro e contatos? E qual o motivo de, em 2007, estas questões serem ainda entraves para o desenvolvimento de economias baseadas na produção cultural local? Vale a questão para a periferia da Zona Sul de São Paulo, com seus quatro milhões de habitantes (ou bem uns sete, considerados os municípios vizinhos, que compõe uma única malha de ruas, água, eletricidade, ensino – estadual e superior – entre outras questões). Vale também para os municípios pequenos, onde a Televisão varreu costumes, os cinemas, quando os há, só passam blockbusters, e poucos grupos de música são conhecidos em suas próprias localidades.

Talvez seja o caso de considerarmos a própria presença da Indústria Cultural, ou de levarmos em conta que vale mais a pena, hoje, produzir ou mesmo importar para os centros de consumo – geralmente os bairros mais abastados. Não que não se produza produtos culturais para a população de baixa renda, mas esta produção se dá hoje muito mais no Rádio e na Televisão, que por sua vez vendem audiência. Livros? É algo que, na maioria das editoras, nem se fala. Revistas e jornais? Poucos, a grande maioria segmentada no hip hop, na imprensa marrom ou ligados ao comércio local.

Como tomam forma e se manifestam, então, os saberes populares e as manifestações culturais (por acaso garantidos na constituição)? Por meio de ações individuais, que vão de festas populares e da simples organização de amigos, em torno de uma roda de samba, pagode ou gênero afins, e passam pela atuação da sociedade civil organizada – sociedades de amigos de bairro, ONGs, associações comerciais – e pelas políticas públicas ou de atuações diretas do Estado, que geralmente influenciam, dinamizando, as atuações dos outros dois “setores”.

As políticas públicas têm, por sua vez, uma função dupla de regulação e fomento. Se pensada a partir de uma noção de utilidade pública e de direito público ao acesso aos meios de produção, distribuição e consumo da cultura, arrisca-se a ser democrática.

Dois exemplos, sob a gestão de grupos políticos hoje opostos (ainda?): o programa Cultura Viva, de onde emergiram os Pontos de Cultura, casas de cultura regionalizadas, pulverizadas nos grotões, como uma espécie de Fome Zero, a aproximar todas as políticas de fomento à cultura Federais; e o VAI, iniciativa da Prefeitura de São Paulo, responsável hoje pelo fomento a diversos grupos de produção, em especial aqueles localizados nas periferias do município e que geram rendas para jovens ou são geridos por jovens.

Em tempos de Mais Cultura, começa-se a discutir uma ampliação do conceito de Ponto de Cultura, como toda instituição que tenha por objetivo primeiro a produção de cultura na comunidade, seja com fins de manutenção a um patrimônio imaterial ou material, seja com fins social-econômicos, seja mesmo por paixão e farra. De um outro lado, diversos grupos criticam a ausência de governos e o desregramento do setor. Na tangente, uma questão primeira: qual é, afinal, a importância de pautar a cultura como central à economia e ao desenvolvimento locais, seja num pequeno município ou numa Hidra como São Paulo? Que políticas públicas podem fomentar a cultura nestes ambientes, e quais são realmente úteis para eles? Vamos à discussão?

Os Editores – Cultura e Mercado


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