Convidado especial do Seminário Internacional Educação e Cultura, organizado pelo Sesc SP, filósofo e ensaísta de cultura francês deixa pistas para a educação do futuro. ?Uma reforma radical da educação é necessária?Por Deborah Rocha

Educação e Cultura
O Sesc de São Paulo, em parceria com a Unesco, está realizando nesta semana o ?Seminário Internacional Educação e Cultura?, que teve início no dia 20 de agosto e estende-se até o dia 23. Como convidado especial, figurando como uma espécie de curador do evento, está Edgar Morin, filósofo francês e ensaísta de cultura, autor de, entre outros, ?O Método?, ?Comunicação de Massa no Século XX? e ?A Religação dos Saberes?. Morin deu início a um ciclo de conferências, apresentações artísticas e debates, introduzindo a questão que dá nome ao seminário em um discurso bastante aplaudido pela platéia.

Camaleão viciado
?A palavra cultura é um camaleão muito viciado, que muda de sentido sem que nós apercebamos?, diz Morin. O filósofo inicia seu diálogo discorrendo sobre os três sentidos da palavra ?cultura?: o antropológico, o histórico e social e o que toma corpo no terreno midiático da chamada ?cultura de massa?. O sentido antropológico, segundo Morin, é aquele que não é inato, hereditário, aquele que se deve aprender, ser adquirido e transmitido. Um sentido amplo que ?vale por tudo o que é humano?, equivalendo à nossa segunda natureza. Esta, como por exemplo a linguagem, necessita, imprescindivelmente, da educação para ser adquirida. Cultura e educação são, portanto, nas palavras de Morin, ações indissociáveis.

O sentido social e histórico é, em contrapartida, aquele constituído por um conjunto de valores, crenças, mitos, proibições, etc., que se reproduzem em cada indivíduo, mantendo assim a complexidade social. Este tem um caráter particular e singular em oposição ao caráter amplo e geral do sentido antropológico. Morin fala, desta forma, da noção complexa que existe em cada cultura, pois ela deve ser igualmente aberta e fechada. Ou seja, trabalhar no sentido da preservação de suas raízes e ao mesmo tempo adquirir novos elementos através do contato com as diferentes culturas.

Século XX
O filósofo, então, adentra no século XX das sociedades ocidentais modernas, período em que desenvolveu-se o terceiro sentido da palavra cultura. Segundo Morin, esta é a cultura dos espíritos ?cultivados?, a cultura das ?humanidades?, abrangendo as artes, as letras, a filosofia e as línguas, como o grego, latim e hebreu. Em um segundo momento, porém, diz Morin, desenvolveu-se uma cultura científica, de natureza diversa, oposta à primeira por tratar não de problemas fundamentais, éticos, globais e existenciais, mas de disciplinas especializadas, desvinculadas e ?que esfacelam o saber em uma multiplicidade de fragmentos?. Esta cultura exprimi-se, com o desenvolvimento das mídias, na ?cultura de massa?.

Cisão
Segundo Morin, não há mais comunicação nesta nova cultura, os saberes não se refletem e fica difícil a visão do todo. O ser humano foi suprimido em meio ao processo de divórcio entre cultura humanista e científica. E este é, para Morin, um dos maiores problemas culturais do nosso tempo que estende-se ou inicia-se com uma profunda carência educacional. Morin, então, questiona: como ligar estas duas culturas? Os indicadores desta resposta parecem estar contemplados em sete saberes fundamentais existentes em nossas universidades, os quais ele menciona em seu livro ?Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro?. Morin, porém, deixa as pistas de sua experiência para que todos, ativamente, empenhem-se também nesta tarefa, transmitindo educação e criando culturas.

Mídia
Neste ponto de sua fala, Morin faz uma ressalva com relação à cultura midiática. Segundo ele, esta não é apenas medíocre, tem, ao contrário, suas potencialidades. Cita as novelas brasileiras que, apesar de mistificar os problemas humanos, de alguma forma, dialoga com eles e com nossas necessidades mundanas.

Reforma radical
Dando continuidade à questão dos sete saberes, Morin urgencia uma reforma radical na educação e uma resposta da cultura que vá além do conflito. O filósofo destaca, neste sentido, a importância da cultura das humanidades, como literatura, música, cinema e teatro, para ?educar a viver poeticamente?. Segundo ele, estas artes ?falam? a linguagem da alma humana e nos faz participar do universo de maneira consciente.

Em conclusão, Morin diz que a globalização e a questão da planetarização da cultura científica, paradigmas que tendem à homogeneização, são também um problema cultural e não apenas econômico. A incapacidade de se usufruir a grande quantidade de cultura produzida nos tempos atuais urgencia uma educação revolucionada que diz respeito aos problemas humanos fundamentais, que diz respeito, portanto, a cada um de nós.

Serviço
O Seminário Educação e Cultura está sendo realizado no Sesc Vila Mariana até sexta-feira desta semana, dia 23 de agosto, das 10h às 17h30.Rua Pelotas, 141 ? Vila MarianaMais informações: www.sescsp.org.br

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