Primavera dos Livros, feira que reúne 70 empresas do setor, deve movimentar até R$ 300 mil neste fim-de-semana; evento nasceu no Rio e deu origem a um movimento organizadoPor Silvio Crespo
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19/09/2003
Acontece neste fim-de-semana, de 19 a 21 de setembro, no Centro Cultural São Paulo, a Primavera dos Livros, feira que reúne editoras independentes para promover a sua inserção no ainda restrito mercado editorial brasileiro. ?O evento surgiu como uma ação de um grupo de pequenas editoras que se sentiam excluídas do mercado?, conta Angel Bojadsen, presidente da Liga Brasileira das Editoras (Libre), entidade que realiza a Primavera. ?Elas têm dificuldade de chegar no varejo. Em algumas livrarias, elas não conseguem colocar os seus livros?.
Em 2001, editoras independentes se reuniram e conseguiram convencer a prefeitura do Rio de Janeiro a financiar a primeira edição da Primavera. O sucesso de público e as aparições na mídia possibilitaram, no ano seguinte, a realização de outras duas edições, uma no Rio e outra em São Paulo, financiadas pelas respectivas secretarias municipais de Educação e Cultura. Este ano, a feira carioca acontecerá entre 16 e 19 de outubro.
Com a tendência de o evento se ampliar e se tornar regular e freqüente, foi necessária a criação de uma entidade para receber e administrar os recursos oferecidos pelas prefeituras. Hoje, a Libre reúne 70 editoras pequenas e médias, incluindo universitárias, do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
Nos últimos anos, apesar da estagnação do mercado, as editoras independentes estão se proliferando e conquistando seu espaço. Publicações da Estação Liberdade (propriedade do presidente da Libre) e da Cosac & Naif foram premiadas na última edição do Jabuti. Na edição paulistana da primavera, espera-se movimentar de R$ 250 mil a R$ 300 mil.
Leia abaixo trechos de entrevista com o presidente da Liga Brasileira das Editoras, Angel Bojadsen.
Cultura e Mercado ? Qual a situação atual das editoras pequenas e médias dentro do mercado?
Angel Bojadsen – A dificuldade é a mesma para todo mundo: o mercado está em recessão, há uma queda em relação ao ano passado. Este ano, junho e julho foram particularmente mais difíceis. O fato de as pequenas editoras aparecerem no mercado se deve à sua capacidade de organização. A Liga Brasileira de Editoras se organizou e no momento está com uma grande projeção na mídia devido às suas ações e ao potencial de suas editoras.
Cultura e Mercado – Quanto maior a tiragem, menor o custo do exemplar. Se as editoras pequenas e médias não conseguem produzir grandes tiragens, como elas estão conseguindo ocupar no mercado um espaço que era das grandes?
AB – Empresas pequenas têm muitos voluntários e muitos casos de auto-exploração: a pessoa quer criar uma editora porque adora livros e paga o preço por isso. Ela sabe que se fosse vender pão-de-queijo ganharia muito mais. Os salários nas editoras pequenas são muito baixos. Mas a gente consegue produzir um livro com a mesma qualidade ou até melhor que os das grandes editoras.
A gente não se entende só como vendedor de livros. Nós queremos agir culturalmente. A primavera tem eventos culturais, sobre as tendências na literatura, sobre a avaliação do governo Lula etc, etc. Como contrapartida ao financiamento das prefeituras, por exemplo, a gente oferece descontos de até 40%. Na verdade a gente está repassando ao público o patrocínio das secretarias de Cultura e Educação.
Cultura e Mercado – Na sua opinião, o setor editorial é organizado politicamente?
AB – A gente está se organizando de forma bastante acentuada agora. A gente reconhece que outros setores se organizaram primeiro. Os cineastas, por exemplo, tem um lobby muito maior junto aos governos. Inclusive porque a própria mídia muitas vezes acaba favorecendo-os. Agora, por exemplo, estava previsto que sairia uma matéria da Primavera em um jornal grande, mas acabou cedendo espaço para uma matéria sobre o Carandiru. Então tem isso: somos um pouquinho os últimos da fila. Cultura e Mercado – As novas tecnologias do mercado editorial, inclusive o uso da Internet, ajudam as pequenas e médias editoras?
AB – A tecnologia ajuda em parte, reduzindo custos no operacional, na divulgação, mas não é a solução. Não é porque a gente tem essa possibilidade que a gente vai deixar de fazer livro em papel. O livro eletrônico de fato de fato não pegou ainda ? e já tem uns 4 o 5 anos. O livro impresso no formato atual existe há cerca de 500 anos.
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