Nos dias 23 e 24 de outubro, um encontro entre duas figuras emblemáticas da cultura quilombola no Brasil, os cantadores de Vissungos (canto responsorial praticado em dialeto africano), Ivo Silvério, 77 anos, e Pedro de Alexina, 81 anos, reviveu a força da presença africana na região do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais.
Com pouco mais de 700 habitantes, o vilarejo de Milho Verde, localizado a 348 km da capital Belo Horizonte (MG), foi palco de uma pequena mostra de filmes que resgatam elementos da cultura daquele povo, como o curta Ausência, biografia sobre o falecido cantador Antônio Crispim Veríssimo, e o premiado documentário “Terra deu, terra come”, de Rodrigo Siqueira. O evento contou com apoio do Ministério da Cultura, por meio de articulação da secretaria Executiva a partir do programa Cine Mais Cultura.
“Quando recebemos o DVD do filme Terra Deu, Terra Come, não acreditamos, porque ele chegou justamente quando estávamos discutindo sobre a importância do repasse dos cantos vissungos”, lembra Bruno Campolina, assessor de projetos culturais do Instituto Milho Verde. “Vimos o senhor Pedro na contracapa, e pensamos: ‘Por que não promover um encontro entre os cantadores de Vissungos, no dia da exibição do filme? Seria inédito’”, conta.
Descendentes de escravos libertos e foragidos que fundaram as comunidades quilombolas na região, os dois mestres são os únicos guardiões das tradições deixadas por seus ancestrais, como as guardas de congado (festas realizadas pelos negros em homenagem a Nossa Senhora do Rosário) e os cantos Vissungos. Vencedor, este ano, do prêmio de melhor documentário do prestigiado festival É tudo verdade, o documentário Terra Deu, Terra Come, exibido no Centro Cultural do município, com a presença de autoridades, fala um pouco sobre essas tradições, a partir da figura do mestre Pedro de Alexia.
Agendado para acontecer entre os dias 27 e 28 de novembro, na comunidade quilombola de São João da Chapada, em Diamantina, o 2.o Encontro de Vissungos tem como objetivo não deixar que a chama dessa cultura tão importante para a formação do Brasil se apague. “Vimos o quanto foi importante o encontro entre os dois cantadores. Então, é de fundamental importância promover mais encontros entre estes dois cantadores e entre as pessoas das comunidades quilomobolas de São João da Chapada e de Milho Verde”, planeja Bruno Campolina, que quer ver reunido na mesma festa o maior número de representantes da comunidade quilombola da região. “Levaremos pessoas das do Baú e Ausente. Esses encontros são fundamentais para que os Cantos Vissungos não morram”, defende. Segundo informações do Instituto Milho Verde, existem atualmente 120 membros de comunidades quilombolas na região.
Na ativa desde 2000, o Instituto Milho Verde, também conhecido como Ponto de Cultura Cordão Cultural, já recebeu vários prêmios do Ministério da Cultura pelas importantes ações que visam resgatar e promover o fortalecimento da cultura quilombola na região do Vale do Jequitinhonha. Atualmente, o instituto vem estudando a possibilidade de criação, junto com o MinC, de um Centro de Referência da Cultura Tradicional, espaço que permitirá que a comunidade possa armazenar informações e registros sobre as guardas de congado, catopé e marujada, além dos cantos Vissungos.
* Com informações da Assessoria de Imprensa do Ministério da Cultura.