O setor cultural amanheceu – se é que dormiu – em polvorosa após uma desastrosa entrevista da Secretária Especial de Cultura do Ministério do Turismo, a atriz Regina Duarte, até então “sumida”.
A Secretária vinha sendo cobrada pela classe artística, produtores e gestores culturais de maneira geral, pois, após 2 meses de gestão, não havia se pronunciado sobre suas propostas, tampouco se manifestado sobre a morte de expoentes artistas nacionais, ou sequer apresentado um plano de trabalho. Portanto, vinha sendo considerada “sumida”, o que para a classe era grave, especialmente dada a crise profunda que os profissionais do setor atravessam com a Covid-19.
A entrevista concedida à rede CNN ontem, quinta-feira, 07 de maio de 2020, foi interrompida pela secretária – com o que ela própria intitulou como “chilique” – depois de se recusar a ouvir sua colega de trabalho Maitê Proença, em um vídeo em que a questionava sobre o que a Secretaria estaria desenvolvendo e porquê Regina não se manifestava publicamente. Antes da interrupção, depois de cerca de 30 minutos de entrevista, Regina já havia minimizado a ditadura no Brasil, assim como as mortes por coronavírus, ironizado a postura dos jornalistas sobre as mortes de artistas consagrados e confessado que sequer sabia o que era IN (Instrução Normativa – instrumento básico regulador dos procedimentos para utilização do incentivo fiscal à cultura) até assumir o cargo. Mais uma vez enalteceu o presidente, riu de novo da sua fala na posse sobre o “pum do palhaço” – trazida à tona absolutamente fora do contexto da entrevista – e se mostrou satisfeita com a iniciativa de ajuda aos trabalhadores em geral com o auxílio emergencial de R$ 600 que, segundo ela, inclui os trabalhadores da cultura. Para apresentar o que fez em 2 meses de gestão, recorreu à leitura de um papel em que resumia os feitos da Secretaria até o momento: exclusivamente vinculados aos proponentes da Lei Federal de Incentivo à Cultura, mecanismo que atende apenas a uma parcela do segmento cultural.
O resultado foi uma comoção geral, não apenas do setor cultural. É provável que a Secretária hoje esteja arrependida de não ter continuado sumida. Até seus apoiadores e incentivadores se colocaram indignados e postaram reações em todas as redes sociais e veículos de imprensa. Regina perdeu o apoio, mas é pouco provável que perca o cargo, uma vez que seu discurso continua alinhado à política geral do governo atual.
Dentre as muitas manifestações de instituições e expoentes do setor cultural, uma das mais compartilhadas nas redes, pela capacidade de síntese e lucidez em sua crítica, além da representatividade, foi a de Ursula Vidal (link abaixo), presidenta do Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Estaduais de Cultura.
Como numa novela tragicômica sem fim, a cultura segue aguardando as cenas dos próximos capítulos.
Posicionamento da Presidenta do Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Estaduais de Cultura:
https://www.instagram.com/tv/B_6OR5KhfmZ/?igshid=16mffajmsg28p
Íntegra da entrevista de Regina Duarte: