Estar em cena é aplaudir quem faz e quem esta reconstruindo a história, a cultura, e as obras de arte desse século
Minha insatisfação, desassossego e busca permanente pela qualidade Artística e Cultural do País e do Mundo, lá se vai ao longo do tempo.
Mas nesse mundo contemporâneo, onde tudo é fragmentado e cada vez mais individual, me distancio buscando no coletivo, novos olhares, novos horizontes e percebo que algum movimento novo precisa soar.
Ainda não sei onde, mas sinto cheiro de cultura, aqui, ali, em algum lugar. Isso só porque num dia de céu azul, abro o jornal e leio um belo artigo do meu amigo, maestro Manoel Rasslan (MS), reconhecendo talentos e aplaudindo quem brilha. Maestro aplaudindo maestro! Bravo maestros! Assim me aproprio das palavras de Graciliano Ramos em um disco da Bethânia, “Felicidade é uma horinha de descuido” Que bom! Hoje me descuidei… Fiquei uma horinha feliz, só em ler uma boa e simples notícia no jornal. Nossa como anda difícil ler notícias boas no jornal. Mesmo vivenciando grandes catástrofes políticas, ambientais, culturais e ou sociais, precisamos de pelo menos uma horinha de descuido para saúde de nossas sobrevivências. Novos projetos culturais vêm surgindo, como, por exemplo, o Plano Nacional de Cultura, tomara! Será que vamos começar nós artistas, educadores, produtores, pesquisadores, e cidadãos, encontrar caminhos no processo de participação de decisão cultural e ao direito à expressão na diversidade, como fundamento de uma verdadeira democracia cultural social e política? Por exemplo, existe cena tão simples quanto o ato em assistir uma orquestra no parque?
Então, ver Artista aplaudindo artista não é estar em cena? Cidadãos aplaudindo cidadãos, não é estar em cena? Recuperar nossos sonhos, nossas esperanças, nossa liberdade, nossa naturalidade e espontaneidade são estar em cena? Dar bom dia no elevador, na padaria, é estar em cena? Afinal o que é estar em cena?
Será uma horinha de descuido, ver a vida como ela é? Entender o papel da cultura e sua real importância como indicadores de uma nova historia que começa a ser desenhada no inicio desse nosso século? Fez-me lembrar uma vez, perguntei ao um mestre: -Quando sei que uma obra de arte vai se tornar clássica? Ele me disse: – Quando ela for forte o suficiente para enfrentar as intempéries do tempo e permanecer límpida, bela e instigante. Será então a felicidade uma obra de arte rara nos dias de hoje? Como Manoel, Artur, Estela, estar em cena é aplaudir quem faz e quem está reconstruindo a história, a cultura, e as obras de arte desse século. Estar em cena é deixar as invejas brancas, cinzas, pretas, quantas cores forem, saírem de nossos corpos e reconhecermos a arte enquanto movimento orgânico e fundamental para o desenvolvimento cultural, mesmo que seja na Casa de Ensaio (CG), Paço das Artes (USP), Fundição Progresso (RJ), nos SESC, Cartucherrie de Arianne Mnoskine (Paris) no M&C (web). E ou em qualquer outro lugar, mas que nos emocione e nos faça feliz, mesmo que seja por uma horinha de descuido…
Lais Doria,
Artista pesquisadora
www.casadeensaio.org.br
CG, 11 de outubro de 2005
Lais Doria