Grupo de jovens percorrerá os estados amazônicos durante dez meses propondo um reflorestamento literário infanto-juvenilPor Deborah Rocha

Uma luz na floresta
Com data de decolagem marcada para o Dia Internacional da Mulher, a expedição Vaga-Lume, apresentada em matéria da Folha de São Paulo, partiu em direção à Amazônia com o objetivo de implantar 22 bibliotecas voltadas para crianças e adolescentes. As responsáveis pelo rico projeto são as jovens Laís Fleury, Maria Teresa Meninberg e Sylvia Guimarães, que passarão dez meses percorrendo as beiradas do estado.

O útil e o agradável
Segundo a Folha, a corajosa idéia começou a ser formulada em 1999 quando as três conheceram-se por acaso em visitas turísticas a Pernambuco e Inglaterra. A vontade de unir a paixão por viagens ao desejo de contribuir com a sociedade foi tornando-se cada vez mais viável no ano seguinte em meio a longas conversas com professores, líderes de organizações não-governamentais (ONGs), sociólogos e educadores. ?Não queríamos apenas passar pelos lugares. A idéia era deixar algo com eles?, explica Maria Teresa à Folha em um pequeno escritório em São Paulo, sede do Vaga-Lume.

Um deserto brasileiro
A escolha do local a ser trabalhado seguiu o critério da escassez de livros. Desta forma, a Amazônia tornou-se rapidamente a principal candidata. O estado é o maior deserto literário do país e, segundo dados do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas do Ministério da Cultura, não possui mais de 400 bibliotecas públicas – entre as já escassas 4.000 operantes – para os seus 4,9 milhões de km2. Além disso, algumas partes da Amazônia têm apenas oito instituições literárias em atividade. ?Algumas comunidades que visitamos até têm bibliotecas, mas elas são muito precárias?, analisa Laís Fleury, uma das ?vaga-lumes?, em entrevista à Folha.

Seleção dos candidatos
Traçado o destino, as atenções voltaram-se então para três objetivos: mapeamento das comunidades carentes, elaboração de lista de títulos e obtenção de patrocínios. A consultoria de escritoras como Ruth Rocha foi fundamental para a elaboração das listas de títulos e povoados a serem escolhidos. Para a primeira lista foram selecionadas 320 obras, entre Monteiro Lobato e Clarice Lispector, quase todas infantis e infanto-juvenis e de autores nacionais. A segunda lista, feita à base de muitos telefonemas, organizou um total de 22 povoados a serem presenteados com as novas bibliotecas. As visitas começaram no estado do Mato Grosso, passarão ainda por Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará, Amapá, Maranhão e terminarão emTocantins.

Preparando o vôo
O último passo, o patrocínio, contou com o interesse de uma financiadora de carros chamada Fináustria e da empresa de telefonia Amazônia Celular. A Força Aérea Brasileira também colaborou emprestando um de seus aviões para que as três pudessem fazer uma espécie de ensaio da expedição. O trio passou o mês de novembro do ano passado na comunidade de Alter do Chão, no Pará, onde pôde trabalhar melhor sua linha de atuação. Esta consistiria, então, em desenvolver um trabalho de 40 horas de oficinas, baseadas em um curso que fizeram do projeto Bilblioteca Viva, da Fundação Abrinq, além do trabalho com as professoras de cada povoado. ?Se o professor não estimular, as crianças vão demorar para se acostumarem aos livros?, explica Maria Tereza.

No caminho da experiência
Assim como as crianças, as ?vaga-lumes? também terão que se acostumar com novas experiências que igualmente exigem dedicação, paciência e determinação. A diferença é que o aprendizado das três ocorrerá tanto no campo das idéias quanto no geográfico, mais especificamente nos tortuosos rios da Amazônia. Entre um destino e outro, o trio enfrentará as dificuldades de percurso montado sobre canoas feitas por presidiários do Centro de Recuperação do Coqueiro, localizada em Ananindeua, Pará. O presídio está entre as comunidades a serem presenteadas com a visita da expedição e é um dos poucos que comporta um local adequado para a educação dos detentos.

Liberdade nos presídios
Airton Michels, titular da Superintendência dos Serviços Penitenciários do Rio Grande do Sul (Susepe), aponta para a necessidade de se encontrar espaço para as bibliotecas nos presídios brasileiros. ?As casas foram erguidas apenas com refeitório, lavanderia e galerias?, diz Michels. ?É preciso encontrar espaço para bibliotecas nos presídios brasileiros?, enfatiza o superintendente em um seminário integrante do II Fórum Social Mundial sobre Polícia e Sociedade Democrática.

Com tato para o mundo
Possibilitar o contato com o mundo literário é uma forma construtiva de formação, capacitação e recuperação da auto-estima das pessoas. Uma identidade equilibrada e melhor preparada para o mundo pode, assim, ser gradualmente conquistada. É preciso, antes de mais nada, encontrar espaço para a ação criativa no pensamento dos cidadãos brasileiros. Neste sentido, a Expedição Vaga-Lume está na vanguarda desta iniciativa humanamente iluminada e ainda carente de estímulo no Brasil.

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