No último encontro realizado pelo Laboratório de Políticas Culturais, o tema “função pública da arte” foi debatido abertamente, através de uma ferramenta de diálogo que colocou nas mãos de cada integrante do grupo o poder de direcionar a discussão.
Partindo da perspectiva histórica traçada por Raymond Williams sobre o conceito de arte, suas definições e conceitos ao longo do tempo, o grupo elaborou reflexões sobre o papel social do artista, políticas para arte e possiblidades de atuação na estrutura política contemporânea.
Estranhamente, a discussão concentrou-se muito num ponto, causador de discórdia e polêmica: a formação de público. Esta é uma tecla repetidamente batida por representantes setorais de praticamente todas as linguagens artísticas no Brasil, principalmente, do teatro – faz-se menção honrosa às artes plásticas e as propostas do setor em promover acesso ao templo e aos “códigos conceituais” das obras. Mas, como toda tecla batida, a questão da formação de público esconde por trás um código complexo que raramente chega a superfície, permeada de condicionamentos e automatismos. Acostumamo-nos a conviver com esse termo e vinculá-lo à democracia (outra tecla batida).
À primeira vista, parece falta de sensibilidade colocar em xeque um conceito como esse num país como este, onde o acesso à condições razoáveis de vida é privilégio de poucos. Mas, honestamente, a que política estamos nos referindo quando ratificamos de imediato a formação de público? Política cultural ou econômica?
Quando falamos em formação de público estamos nos referindo à formação humana das pessoas que compõem esse público, ou a formação de platéias que subsidiam setores produtivos? E por que essa distinção importaria?
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