No último encontro realizado pelo Laboratório de Políticas Culturais, o tema “função pública da arte” foi debatido abertamente, através de uma ferramenta de diálogo que colocou nas mãos de cada integrante do grupo o poder de direcionar a discussão.
Partindo da perspectiva histórica traçada por Raymond Williams sobre o conceito de arte, suas definições e conceitos ao longo do tempo, o grupo elaborou reflexões sobre o papel social do artista, políticas para arte e possiblidades de atuação na estrutura política contemporânea.
Estranhamente, a discussão concentrou-se muito num ponto, causador de discórdia e polêmica: a formação de público. Esta é uma tecla repetidamente batida por representantes setorais de praticamente todas as linguagens artísticas no Brasil, principalmente, do teatro – faz-se menção honrosa às artes plásticas e as propostas do setor em promover acesso ao templo e aos “códigos conceituais” das obras. Mas, como toda tecla batida, a questão da formação de público esconde por trás um código complexo que raramente chega a superfície, permeada de condicionamentos e automatismos. Acostumamo-nos a conviver com esse termo e vinculá-lo à democracia (outra tecla batida).
À primeira vista, parece falta de sensibilidade colocar em xeque um conceito como esse num país como este, onde o acesso à condições razoáveis de vida é privilégio de poucos. Mas, honestamente, a que política estamos nos referindo quando ratificamos de imediato a formação de público? Política cultural ou econômica?
Quando falamos em formação de público estamos nos referindo à formação humana das pessoas que compõem esse público, ou a formação de platéias que subsidiam setores produtivos? E por que essa distinção importaria?
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A formação de um público de arte no Brasil deve ser encarada da maneira mais séria possível, encarada como uma revolução nas escolas, na formação de indivíduos críticos e com capacidade de abstração mínimas.
A arte é feita a todo tempo dentro de milhões de mentes nesse país a todo instante, o acesso a o que é arte, e foi através dos anos apropriado de maneira estúpida e compulsória pela alta sociedade, deve ser alvo do debate...dismistificação não das obras mais de seu aspecto mais natural que existe...que é simplesmente ser arte e encantar... Mostrar que ela foi feita para ser vista e apreciada por todos... a questão do mercado de arte sofrer um crescimento pela maior demanda de público, acredito que se faz de maneira proporcional....
Duas coisas me incomodam nessa discussão. A primeira é um certo fascismo embutido na expressão "formação de público", um desejo de moldar o gosto dos outros. A segunda é um certo reducionismo do lugar da arte (e consequentemente do artista) em nossa socieade. Ou a arte é produto que precisa ser consumido e precisa de platéia. Ou é instrumento de redução de violência e inserção social. São falsos argumentos para justificar a presença de uma política consistente para as artes. E acabam por colocá-la num lugar menos importante em nossas políticas, pois não chega a ser prioridade nem como política econômica, muito menos como política social. E assim, continuamos sem política para as artes!!! Aliás, pra que mesmo precisamos de uma política para as artes?
Boa discussão! Em primeiro lugar creio que quando se fala "Formação de Público" ou se está falando de "aumento de público", seja através de melhor acesso, seja através de mais informação e conhecimento; ou de "formação" , ou seja, ensino da arte, o que permite uma maior fruição do bem artístico. Ora, é óbvio que uma sociedade que não percebe o valor da arte e da cultura não vai saber ensinar isso aos seus filhos. E esse é o caso da sociedade brasileira, generalizando de uma maneira quase fascista. É uma sociedade pós colonial, pós escravocrata, pós estado novista, pós ditadura militar, etc. Quando vamos começar a pagar estas dívidas? Até onde vai nossa democracia? Afinal temos ou não temos "jeito"?
Pessoal:
Vamos limpar o terreno antes de brigar no escuro. Formação de público ou de platéia é um termo muito amplo e usado em vários sentidos. Vamos tentar esclarecer alguns.
Tem gente que acha que formação de público significa ampliação do acesso e, neste caso é uma questão de economia (diminuir ou zerar o preço dos ingressos) de logistica (arrumar condução, fazer os espetáculos em praça pública) e tem gente que acha que´trata-se daquela coisa terrível, como o Leonardo bem mostrou, que é um desejo de moldar o gosto dos outros. Esta é a herança da Escola de Frankfurt que via a indústria cultural e a cultura de massa como um mal a ser varrido da sociedade. Tratava-se então de "educar o povo" .
Agora há uma outra vertente que mostra que a "pedagogização" (se posso cometer um barbarismo) da arte - tal como a escola faz normalmente com a literatura- que transforma os textos em "histórias edificantes" com moral no fim, uma maneira mais fácil para o alunado adquirir certas noções morais ou históricas, uma espécie de remédio disfarçado em balinha. Ou seja, uma instrumentalização da arte.
Mas acontece que a arte ja contem em si mesma um saber. Só que este saber está codificado dentro de uma estrutura poética. Quando a arte deixa de ser representação ou expressão de alguma coisa que é exterior a ela mesma, de alguma coisa que está no mundo, se não é comunicação de conhecimento, nem de conteúdos morais, nem lugar de um prazer lúdico, ela passa a se voltar para o próprio umbigo, não se refere mais a nada a não ser ela mesma. Peter Handke - autor alemão do pós-guerra, falava do "habitar uma torre de marfim". Não querendo ser aquela arte que se dirige ao seu público, dizendo a ele como ele deve enxergar e interpretar o mundo, de modo unívoco e imperativo, (aquela arte que, segundo Handke diz ao público: você já sabe o que eu quero dizer) muitas vezes a arte e o artista acabam se dobrando sobre si mesmos. Oposta a esta arte do "você já sabe o que eu quero dizer" ou seja, "didática" Handke propõe aquela arte que faz pensar, que faz refletir: a cultura como um movimento de aprendizado.
Quando se pensa assim, podemos imaginar que haja intermediários entre o público e a obra que não tenham por função dizer ao público como ele deve ver (ouvir, tocar, cheirar, descobrir ) a obra, mas que possa chamar a atenção para os aspectos mais surpreendentes e tocantes de uma obra. Aqui, o trabalho de formação de público deixaria de ser um trabalho educativo dogmático e se tornaria um trabalho dialético, ou seja, de criar um diálogo com a obra.
Há uma massa formidável e ativa que podemos chamar de público. A dimensão deste termos é que é um grande nó. No nosso mapa os gráficos apresentam algo relacionado a uma fórmula laboratorial, não há nada contra elas, contanto que elas não venham produzir um sentido de confronto, mas de parceria. Há sim uma enorme massa seduzida por todo um universo artístico no Brasil. Talvez no vício estatutário que insiste em olhar o que acontece de forma genérica tenha que se tornar algo mais materializado para que o almoxarifado possa apresentar estatísticas seguras ou perto disso. Aí, todo um conceito de manifestações que acontece no Brail e produz uma enorme fonte de mercado, ainda não esteja sento detectado pelo olhar míope.
As potencialidades estão aí no cotidiano, basta que tenhamos o devido olhar para que cheguemos perto.
Ainda temos o péssimo vício de querermos orientar o sentimento dos outros, isso é velho no Brasil. Não me canso de dizer que no Brasil quem inventou toda essa lambança de levar orientação de pedagogia cultural como forma de salvar os brasileiros, colocá-los nos trilhos de uma idéia particular de cidadania foram as classes dominantes. Quem inventou essa história de resolver a pobreza, orientando, catequisando, é justamente hoje, quem está gritando pesadamente contra a contrapartida social. Mas quero reiterar, que na hora de justificar seus projetos, durante duzentos anos, diziam aos quatro cantos, que estavam à serviço da inclusão contra a ignorância foi o mesmo pessoal que hoje está lá, digo mais, isso vai se manter no Brasil enquanto o Estado nutrir a udéia de um ideal de cultura, oficializando diretrizes estéticvas. Todo um processo de deformador de pensamento, nasce daí. Se eles apostam tanto nisso, vão para o jongo franco, aberto e seduzem a população pela arte e não pelas vias opressão impositiva.
Formação de Platéia para Artes
Vejamos que por tantas vertentes o fim não imutável e o mais correto passo para a formação de público está na transformação: "de platéia para artista". Reflexões sobre a condição anterior devem-se ao fato de transformar o expectador no instrumento da arte - "fazer com que o mesmo desenvolva a habilidade de apreciação". Como? (...) Observe um ambiente no qual seu sistema educacional agrega modelos culturais no desenvolvimento das matrizes curriculares pedagógicas. Compreender que a arte não se esgota em matérias específicas da demonstração artística (música, teatro, artes plásticas, etc.) e que perfeitamente podem ser extraídas das aulas de Geografia, Matemática, Física, Química, etc., é uma das estratégias do modelo experimental para o método "formação de platéia". Se é que podemos adotar a expressão "método", uma vez que acontece de forma natural, flui na imaginação dos pequenos, no despertar das relações antagônicas dos pré-adolescentes e na reflexão da obra artística para a realidade dos jovens. Sim meu caro (a), transformar a platéia no artista (...) não imponha, não discurse sobre a arte, deixe que o ser humano a descubra, seja apenas o facilitador do acesso. O acesso está no dia-a-dia da platéia, a educação é o alvo do sistema. Uma política cultural voltada para o encontro do "artístico" com o "hábito", experiência que dá certo no sistema desenvolvido. Mescle diferentes públicos sociais, coloque-os defronte uma manifestação artística (uma, duas, três, várias vezes....) e encontre na platéia um público curioso, atento ao trabalho desenvolvido. Quem sabe um deles não pode extrair uma idéia para o seu projeto escolar, quem sabe não pode comentar com seu familiar sobre sua nova experiência. A magia para isso: Pense no Ambiente, Pense na Divulgação, Pense no Fator Motivacional, Descubra a Necessidade do seu Público.
O público muitas vezes não está associado à arte, mas aos relacionamentos e acontecimentos de sua vida – explorar esse conhecimento é o desafio da formação de público de inclusão à cultura. Contudo, o sistema é fechado e isolado, apenas caminha para o crescimento futuro por meio da melhoria contínua com a troca de conhecimento. Não há “certo” ou “errado”, pois a teoria é mutável, o que não modifica é o objetivo final “Formação de Platéia”.
Formação de público...concordo com o Brant no sentimento fascista que submete esta expressão. Fico pensando em como um país sem a mínima estrutura educacional para a arte poderia, simplesmente, formar público?
Francamente até o termo "política cultural" me incomoda. Encontro dentro dele uma certa pretensão em introduzir, quase que na marra, uma postura praticamente nula no Brasil. Não que discorde da iniciativa, pelo contrário, já participei de inúmeros fóruns culturais e, sem o intuito de generalizar, sempre encontrei discussões que submetiam arte à salvação e (não tão espantosamente) artistas ansiosos por serem salvos.
Esta tal política cultural que de um lado gera subsídio e dá acesso à produção, de outro cobra um respaldo gerado na sociedade que não cabe ao artista promover. Vejo projetos sendo desenvolvidos onde o objetivo final se resume a uma ação demagoga e isolada, que pouco tem a ver com a realidade e sentimento artístico que proporcionaria uma ação independente deste misticismo cultural que insiste em ser implantado.
E no final das contas, institutos culturais são criados, peças teatrais, exposições e afins são promovidos e a grande massa continua sem acesso. Do outro lado, o público consumidor do "mainstream" gera um mercado que cada vez mais distancia o artista do cotidiano onde, de fato, está a "platéia".
Não é estranho ver que uma cidade tão rica em arte urbana, como São Paulo, está simplesmente eliminando a história do graffiti de seus muros, enquanto seus artistas estão sendo glorificados no exterior. Mas o governo insiste em criar o exército da salvação.
Vai entender?
Como podemos notar, a expressão "formação de público" movimenta olhares bastante diversos.
Poderíamos evocar agora um número vasto de pensadores, filósofos, linguistas, sociólogos, semióticos, antropólogos, pedagogos e críticos para amparar visões outras... Debateríamos talvez interesses economicos e dominantes históricos por trás da expressão "formação de público", ou quem sabe mesmo, lembraríamos de interesses mais nobres ao formar público que também existem num mundo talvez mais vasto e múltiplo do que este outro mundo reducionista, onde tudo começa e acaba na condução fascista ou capitalista do pensamento das massas.
Não tenho preconceito com a expressão "formação de público", até porque as expressões escritas/faladas são bens culturais vivos e em transformação contínua pelos seus usos coletivos... Lembro que a própria idéia de cultura está plenamente condicionada ao coletivo. A criança nasce sem cultura e é formada culturalmente pela mistura de crenças e hábitos dos seus pais, da sociedade, das expêriencias coletivas daquele tempo e espaço. Mas, qual o arquétipo, o daimon, o fogo que surge de tempos em tempos e muda o rumo das nossas crenças e hábitos??? Por este ponto de vista, cada um de nós é, sem dúvida, público formado pelas crenças e costumes de uma dada sociedade. Cruzamos as pernas ao sentar, comemos com garfo e faca e de boca fechada, porque, assim, fomos "formados".
É claro que ao tratarmos de políticas culturais, a precisão de linguagem e de significados torna-se fundamental. Mas, antes de tudo, seria bom avaliarmos o contexto e as intenções por trás das expressões aplicadas, inclusive o uso da expressão "formação de público". Quais as premissas e os valores por trás do uso em si. Formar público como e para quê? A questão se concentra, então, antes e não propriamente no seu uso.
Penso que nos nossos desejos e/ou necessidades de implantar politicas culturais ( ou qualquer outra politica - ambiental, educacional, social, economica) vale mesmo é o que se pretende estimular... sim... sempre que desenhamos uma politica queremos atuar, modificar, ajustar, criar... Mas, qual a premissa da ação e qual a sua intenção? Estimular a liberdade do público de experimentação, de reflexão, de expressão? Ou conduzir o olhar do público em favor de interesses de dominação?
Talvez fosse mais seguro usar a expressão "democratização do acesso à cultura", mas não creio que esta simples substituição tenha o poder de resolver as velhas questões de condução do pensamento em nossa sociedade.
FIEUI DESLUMBRADO COM O QUE LI E RFLETI.
PARABÉNS POR TUDO EXPOSTO EM NOME DA CULTURA.
ESTAVA PORCURANDO ÁVIDAMENTE ASSINTO PERTINENTE AO QUE VOCÊS EXPUSERAM.
A INTERNETE ÀS VEZES É UMA LUZ NO FIM DO TÚNEL.
ABRAÇOS FRATERNOS E CONTINUEM COM ESSA GAMA DE DEBATES COM POLÍTICAS PÚBLICAS.
Saudações!
Para ir direto ao assunto, tenho me debruçado horas a fio nos ultimos tempos tenho me debruçado sobre este tema FORMAÇÂO DE PUBLICO DA ARTE.O debate e opiniões aqui recolhidas me estimularam muito, quato mais não seja por seu teor fustigante, mas principalmente por me sentir parte de um consiente coletivo.É verdade que concordo plenamente com varias opiniões aqui expostas e outras julgo de grande valia refletir sobre elas.O que posso acresentar neste momento é o especto que frequentemente presencio de artistas com queixas e discordancias referentes a este tema e em seu fazer artistico direto não se mobilizarem a respeito. A titulo de exemplo estou falando de sederem parcelas de seus acentos de plateia a escolas e ao final de cada espetaculo mostrar laguns aspectos de bastidores de sua arte e ou a historia dos mesmos buscando ouvir seu publico, e não agirem como se esse fosse um problema unicamente de legisladores ou individos ou instituições de de notório saber.A FORMAÇÃO SE FAZ TRAVES DA INFORMAÇÃO EM TODOS OS NIVEIS.