Antonio Grassi, novo presidete da Fundação, quer reativar projetos apesar dos R$ 13 milhões. “A política cultural fica nas mãos dos diretores de Marketing, o que não é o ideal”22/01/2003

Difusão cultural
De acordo com declarações de Antonio Grassi, presidente da Funarte, ao O Estado de S. Paulo, a Fundação Nacional de Arte vai voltar a ser a propagadora da cultura brasileira em todo o País, como acontecia nos anos 70 e 80. “Nosso maior entrave é o orçamento, de R$ 13 milhões para produções e manutenção dos programas”, diz o ator ao jornal. “Temos equipamentos e pessoal qualificado e dedicado, que precisa recuperar a auto-estima. Esta semana estou me reunindo com eles para traçar os planos e ouvir sugestões.”

De volta ao passado
Segundo o Estado, não há novidades com relação ao passado, quando pelo menos dois grandes projetos faziam os produções culturais viajarem pelo Brasil. O Pixinguinha levava duplas de música popular brasileira para todo o País e nele artistas hoje consagrados, como Zizi Possi, Simone, João Bosco, Nana Caymmi conquistaram público do Rio Grande do Sul ao Pará. O Mambembão trazia ao Rio e São Paulo espetáculos de teatro dos outros Estados. Artistas como Paulo Betti e Eliane Giardini viraram nomes nacionais após esse impulso.

No Rio, a Sala Funarte Sidney Miller, no Museu Nacional de Belas Artes, se enchia com show de artistas novos que assim chamaram a atenção das grandes internacionais. Elba Ramalho é o exemplo dos anos 70 e Leila Pinheiro, dos 80. Ao mesmo tempo, o Salão Nacional de Artes Plásticas, no Rio, revelava nomes que o mercado só foi descobrir mais tarde, enquanto a história da música popular brasileira e das artes cênicas ia sendo descoberta nos concursos de monografias que viravam livros e discos até hoje indispensáveis na bibliografia de qualquer pesquisador. Desses programas só sobraram os shows da sala, hoje no Palácio Gustavo Capanema, com boa programação e público regular.

Estatais
“Vou fazer o possível para reativar esses projetos ainda este ano, mas esbarro em fatores externos, ou seja, a grana”, promete Grassi. “Em compensação, vamos nos articular com estatais que têm uma ampla rede no interior do País e tomaram o lugar da Funarte. Além dos teatros do Rio, São Paulo e Brasília, podemos usar os espaços dos programas do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal e da Petrobrás, até com recurso às leis de incentivo.”

Gabinete em Brasília
A primeira medida prática, de acordo com o jornal, será instalar o gabinete do presidente em Brasília. É uma forma de aproximar a Funarte, até fisicamente, dos públicos a serem atendidos e dos órgãos de decisão. No entanto, ele pensa em remanejar os 651 funcionários, que concentram no Rio (menos de 40 estão entre Rio e São Paulo). “Vamos atuar com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) que tem administrações em todos os Estados”, admite Grassi. “O Iphan responde pelo patrimônio físico e imaterial do País e nós somos os propagadores das políticas públicas. Então, temos muito em comum.”

História cultural
Grassi lembra ainda que a Funarte preserva boa parte da memória do cinema, teatro e música popular, espalhados por vários prédios do Rio, guardados por funcionários que têm mais amor e conhecimento do tesouro que cuidam do que recompensa salarial ou reconhecimento oficial. Ele pretende também mudar essa política e acha até que é possível voltar à época em que a pesquisa de nossa história cultural era financiada pela Funarte. Hoje, essa atividade é bancada pela Lei Rouanet, com o dinheiro do imposto que as empresas pagariam. “A política cultural fica nas mãos dos diretores de Marketing das empresas, o que não é o ideal”, comenta. “O importante é tornar a Funarte propagadora da cultura nacional e não só no eixo Rio/São Paulo/Brasília, como vem acontecendo.”

Copyright 2003. Cultura e Mercado. Todos os direitos reservados.


editor

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *