Em meio a uma polêmica que divide profissionais do setor cinematográfico, os ministros Gilberto Gil, José Dirceu (Casa Civil) e Furlan (Desenvolvimento) reúnem-se em BrasíliaPor Sílvio Crespo
11/06/2003
Os ministros Gilberto Gil (Cultura), José Dirceu (Casa Civil) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) reúnem-se esta noite para decidir o futuro da Agência Nacional do Cinema (Ancine). A polêmica em torno do tema permanece ainda a poucas horas da decisão: parte dos cineastas e produtores defende que a Agência fique sob responsabilidade do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC); outra parte prefere que fique na pasta da Cultura.
?Durante muitos anos, o cinema sonhou que um dia iria desenvolver seu braço industrial, crescer no mercado interno e virar mercadoria de exportação?, afirma a presidente do Congresso Brasileiro de Cinema, Assunção Hernandes. Para ela, seria necessário que a política nacional do cinema estivesse sobre um tripé, em que a Casa Civil abrigaria o Conselho Superior de Cinema, a Ancine cuidaria dos aspectos industriais do audiovisual, dentro do MDIC, e os aspectos culturais ficariam sob responsabilidade do Ministério da Cultura. Como premissa para esse modelo, está a idéia de que o cinema é, ao mesmo tempo, arte e indústria.
Consenso
Esse tripé havia sido formulado durante o governo Fernando Henrique Cardoso, pelo Grupo Executivo de Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica (GEDIC), e respaldado por cineastas e produtores na última Assembléia do Congresso Brasileiro de Cinema, em 12 de fevereiro deste ano. Estavam representadas na Assembléia 42 entidades, inclusive o produtor Luiz Carlos Barreto. Em 4 de fevereiro, Gilberto Gil e Gustavo Dahl, presidente da Ancine, haviam declarado ao jornal Folha de São Paulo que não iriam polemizar sobre a política do cinema, ambos defendendo a agência no MDIC.
Polêmica
Um mês depois, em 13 de março, Barreto, com o apoio de um grupo de cineastas, pediu a Gilberto Gil que se dispusesse a abrigar a Ancine no seu ministério. O argumento principal era de que, com a reestruturação da pasta da Cultura, Gil teria mais condições de levar adiante as políticas do cinema também em seus aspectos industriais. O ministro da Cultura concordou, na época, e foi marcada uma reunião nos moldes da que ocorrerá hoje: Gil, José Dirceu e Furlan bateriam o martelo na questão e a Ancine ficaria no MinC. No final das contas, nada foi decidido.
No dia 3 de abril, cineastas e produtores foram ao Ministério da Cultura. Gil então prometeu desenvolver ações junto ao mercado e à indústria de cinema, além de assegurar a inclusão do setor televisivo à Agência, que voltaria a se chamar ?Ancinav? (Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual). Com esses argumentos, somados ao cansaço de uma decisão que tardava a ser tomada, todos os presentes concordaram, uns mais outros menos, em atrelar a Agência ao MinC. Além de Assunção Hernandes e Barreto, estavam na reunião o cineasta Cacá Diegues, Manoel Rangel (na época representando a ABD, hoje é assessor da Secretaria Nacional do Audiovisual) e Toni Venturi, entre outros.
Dissenso
No meio de toda essa polêmica, a maior parte dos cineastas e produtores que se manifestaram na imprensa, ou talvez todos eles, concordam com o princípio básico: o cinema é, ao mesmo tempo, arte e indústria. Concordam, ainda, que as políticas para o setor devem levar em conta essas duas dimensões da atividade audiovisual. O que está em jogo é quem tem mais condições e melhores instrumentos para colocar em prática essa premissa: Gilberto Gil ou Luiz Fernando Furlan?
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