Tratar da indústria de games é comprometer-se com a busca pelo entendimento do que hoje pode ser considerado o mercado de produção de conteúdo para entretenimento mais dinâmico, multifacetado e com expressivo potencial de crescimento e desenvolvimento.
Mais que uma indústria especializada, dentro deste único mercado coexistem e se relacionam, de forma integrada, diversos “ecossistemas”, determinados não só pelo conteúdo, mas também pelo formato como estes games são produzidos e disponibilizados para o mercado consumidor.
Com escopo que vai além do simples entretenimento e um alcance cada dia mais amplo, um jogo bem produzido pode servir de ferramenta para complementar de forma criativa um processo de formação e aprendizado, uma pesquisa científica ou, até mesmo, a comunicação de determinada marca ao seu público alvo. Dentro deste contexto podemos citar, por exemplo, os Serious Games, que por terem conteúdo educacional ou científico são, geralmente, feitos sob encomenda e financiados por instituições privadas com interesses específicos ou através de bolsas de fomento oferecidas pelo Governo, em sua maioria sob o conceito de “pesquisa”.
Há também os Advergames, que, como o próprio nome sugere, têm como principal foco o marketing digital, sendo solicitados e patrocinados pelos próprios anunciantes. Com nível técnico simples e receitas não tão altas são, via de regra, mantidos pela própria produção da agência de publicidade.
Do ponto de vista do suporte e das plataformas utilizadas, identificam-se ainda (i) a indústria mobile, dos smartphones e tablets, que literalmente proliferou o consumo de games por diversos setores da sociedade; (ii) os consoles, caracterizados pela produção de jogos multiplataformas comumente distribuídos em aparelhos com capacidade multimídia, cuja comercialização é feita a preços altos devido, em grande parte, à carga tributária e aos altos custos de distribuição. Neste segmento é comum a concorrência direta de diferentes fabricantes de hardware que também produzem games exclusivos para suas plataformas; (iii) o ambiente PC, onde os games são originalmente distribuídos ao público em suportes físicos e através do varejo convencional.
Atualmente tem se verificado que boa parte da distribuição de jogos para PC tem sido feita através de serviços digitais, em plataformas como Steam ou Origin. Este ecossistema, apesar do grande avanço da indústria mobile e dos outros segmentos de games, tem sobrevivido às demandas do mercado, em grande parte, pela acessibilidade razoável de seus preços, se comparado, por exemplo, ao mercado de consoles, e também por caracterizarem um ambiente aberto para avanços tecnológicos, sem necessidades de licenças ou custos adicionais.
Outro importante fator que tem contribuído para a manutenção frutífera da produção de games em ambiente PC é a flexibilidade das plataformas de distribuição digital, que recebem tanto games independentes quanto lançamentos multiplataforma, além de alguns gêneros ultra-populares que não tem tanta força nos consoles, como os MMORPGs e os MOBAs. Cabe ainda destacar o segmento de exponencial crescimento da Distribuição Digital de games através de canais digitais e da própria internet, via Download Digital e “Cloud Gaming” (ou “Streaming”).
Delineados estes ecossistemas e seu funcionamento integrado, cumpre ainda compreender como se estrutura e de que forma opera a cadeia produtiva da indústria dos Games. Para isso vale o entendimento isolado de cada agente participativo desta cadeia, a começar pelos Desenvolvedores, que seriam as empresas diretamente responsáveis pela preparação do jogo em si, incluindo, por exemplo, a geração de conteúdos, gráficos, games engines, testes, otimização de manutenção depois do lançamento, dentre outros. Na sequência encontram-se os Editores que são as empresas responsáveis por todos os aspectos envolvidos em levar um jogo até o consumidor final, e os Distribuidores que fazem a intermediação entre os editores e comercio varejista.
Destaca-se, ainda, o papel daqueles que ou prestam serviços ou são parceiros técnicos destes Desenvolvedores, como por exemplo os diversos estúdios (de arte e animação, de som e dublagem e de captura de movimento, estes últimos também chamando de MoCap), os Laboratórios de teste especializados na validação de software, os Gravadores de CD/DVDs, a Agências de marketing, os Desenvolvedores de Plataformas de Software, Fabricantes de Processadores, e Fabricantes de Processadores Gráficos.
Na seara específica da Distribuição Digital, há que se falar também no fundamental papel desempenhado pelos Portais de Comercialização que fazem a divulgação, venda e entrega por download de jogos eletrônicos e pelos Fornecedores de Tecnologia que colocam softwares para a venda ou distribuição gratuita em portais de comercialização de jogos. Destaque também para os Provedores de Cloud Gaming que são empresas especializadas em hospedar e processar jogos com estruturação de data centers com clusters de servidores e infraestrutura de telecomunicações e os Portais de Cloud Gaming com desenvolvimento e manutenção do relacionamento com os usuários.
Como se pode observar, para fazer um único game chegar à tela do celular, do televisor ou do computador de um consumidor, é necessário o trabalho integrado de uma série de profissionais envolvidos. Identificar e atender à demanda específica de cada um destes agentes dentro desta complexa cadeia produtiva, é, sem dúvida, um passo fundamental para o fomento dessa indústria.
A utilização de diferentes modelos de distribuição e a constante inovação tecnológica para isso requerida, em conjunto com a diversidade de produtos oferecidos e formas alternativas de se auferir receita com sua comercialização, fez com que esse inovador setor se tornasse responsável pela criação de novos e incontáveis modelos de negócios.
Aliando o conhecimento técnico com a atividade artística, o mercado de games não só provoca indiscutíveis inovações no ambiente de produção como um todo, como nos leva a uma verdadeira releitura das infinitas possibilidades de entretenimento e de novas maneiras do homem interagir de forma lúdica com a máquina.
Canalização do potencial criativo, desenvolvimento e aprimoramento de novas tecnologias e a constante inovação, são alguns dos objetivos perseguidos pelos empreendedores que desbravam este mercado. Agora a indústria de games no Brasil tem diante de si um grande desafio: consolidar-se como ramo produtivo e autossustentável no cenário nacional. E para atingir esta meta a estruturação das empresas do ramo, o investimento nos profissionais envolvidos, a captação do mercado consumidor brasileiro, a regularização das atividades e negócios relacionados e a implementação de políticas públicas que fomentem esta indústria, são alguns dos requisitos essenciais que precisam ser cumpridos.
*O mercado de games no Brasil é tema de curso que Cultura e Mercado promove dias 16 e 17 de abril, em São Paulo. Clique aqui para ver a programação completa e se inscrever.