Ministro suprimiu do texto lido em cerimônia de balanço de sua gestão também as críticas à atuação do governo anterior na área social; fora do “script”, fez a defesa das leis de renúncia fiscalPor Israel do Vale
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23/12/2003
O ministro da Cultura, Gilberto Gil, suprimiu do discurso em que fez um balanço das atividades de sua pasta em 2003 os ataques à política econômica e social da era FHC, que faziam parte do texto original. As mudanças foram observadas confrontando-se a gravação do discurso com o texto disponibilizado no site do próprio MinC, que preserva as críticas.
O texto que seria lido pelo ministro, como é praxe no alto escalão, é produzido por assessores. Não é raro que a leitura seja antecedida de comentários ou que ganhe enxertos durante o discurso –como faz habitualmente o próprio presidente Lula em seus pronunciamentos.
Gil traçou um panorama das ações do ministério, no Brasil e no exterior, com ênfase nos desafios enfrentados ao longo do ano, realçando o fato de que mudanças não acontecem “sem resistências ou incompreensões”.
Em discurso com 36 minutos de duração, citou as restrições orçamentárias geradas pelo contingenciamento de verbas, o esforço para a reestruturação administrativa do MinC, a incorporação da futura Ancinav ao guarda-chuva de sua pasta, ressaltou a importância do projeto que cria o Sistema Nacional de Cultura (em tramitação no Congresso), reafirmou a intenção de implantação de um Sistema Nacional de Museus e anunciou a criação de novos museus pelo Brasil, fato que, segundo ele, divide os especialistas da área.
Gil também posicionou-se, fora do “script”, a favor da permanência das leis de renúncia fiscal (ameaçadas no âmbito estadual pela reforma tributária). “Uma renúncia que, ainda que contestada por muitos, tem, continua tendo, terá, por algum tempo ainda, um papel relevante no fomento à cultura no Brasil”, disse.
As críticas à “herança maldita” (como a ala econômica tem se referido ao legado deixado por FHC) foram mantidas apenas no que se referia ao âmbito cultural, chamada de “balão de bucha apagada, entregue em sua trajetória descendente, ao movimento dos ventos do mercado”.
Na íntegra do discurso, no link indicado ao pé deste texto, Cultura e Mercado confronta o texto original com o que foi lido. (As indicações em negrito e itálico referem-se ao que foi incorporado de improviso; as marcações apenas em negrito, ao que foi suprimido).
Abaixo, o principal trecho subtraído da leitura, na cerimônia realizada na última quinta-feira na Cinemateca Brasileira, em São Paulo.
“Diante do fracasso de um modelo econômico que, em vez de gerar crescimento, produziu desemprego e fome; diante de ameaças à soberania nacional e do escândalo diário da corrupção; diante da falência dos sistemas de saúde, de educação e de segurança pública; diante do desrespeito aos mais velhos e do desalento dos mais jovens; diante de tantas esperanças frustradas; diante, enfim, da perspectiva de um colapso econômico, social e moral ? a sociedade brasileira escolheu mudar…”. Este foi o sentido de cada voto dado a mim e aos meus companheiros. E eu estou aqui para isso mesmo. Para mudar. Para imprimir, à mudança, um caráter de intensidade prática?.
Clique aqui para ler a íntegra do discurso feito na Cinemateca.
Discurso do ministro Gilberto Gil no Balanço Final do primeiro ano de sua gestão à frente do MinC
SÃO PAULO, 18 DE DEZEMBRO DE 2003
Antes de tudo, muito obrigado a vocês aqui da nossa representação regional, Aguilar e todos os seus companheiros, um pequeno grupo extraordinário este, dedicado e ativo. Muito obrigado a São Paulo de um modo geral, muito obrigado ao governo do Estado. Representada aqui também a Prefeitura de São Paulo, todas as entidades do mundo cultural de São Paulo e de outros lugares do Brasil. Meus companheiros vários de Ministério, quase todos aqui, desses órgãos, do Ministério e das secretarias, todos aqui.
Gostaria de mencionar a longa e afetuosa lista que [José Roberto] Aguilar [representante do MinC em SP] em fez aqui dos nossos colaboradores, de nós mesmos que assumimos o Ministério em janeiro e estamos aqui até hoje, queria lembrar uma passagem meteórica mas extraordinariamente importante pra todos nós, que tem sido inclusive base da renovação constante de ânimo a cada dia, a cada mês, a cada instante desse nosso Ministério, que é o saudoso Wally Salomão.
Muito do trabalho, da visão política, da energia dedicada por Pedro Corrêa do Lago [secretário do Livro e da Leitura] hoje ao setor da Biblioteca Nacional e do Livro e da Leitura são heranças inspiradoras deixadas por Wally Salomão e ele, como nós já fazíamos, aprendeu a amar, a prezar. Deixa eu registrar também aqui a presença de vários colegas nossos, artistas, a quem saúdo a todos, em nome dela que está aqui, que soube que está aqui presente, minha querida Wanderléa [a cantora].
Muitas das considerações que farei superficialmente aqui, a respeito do nosso Ministério, já foram ou também superficialmente referidas ou mesmo até mais aprofundadas, como no caso das palavras do Juca [Ferreira, secretário-executivo do MinC], que aprofundou suficientemente, na medida exata de um comunicado como esse, uma prestação de contas rápida como essa que estamos fazendo agora este fim de ano.
Na abertura mesma do seu discurso de posse, no dia primeiro de janeiro deste ano de que estamos nos despedindo, o presidente Lula disse: ?Mudança. Esta é a palavra-chave. Esta foi a grande mensagem dada pela sociedade brasileira nas eleições de outubro. Este foi o sentido de cada voto dado a mim e aos meus companheiros. E eu estou aqui para isso mesmo. Para mudar. Para imprimir, à mudança, um caráter de intensidade prática?.
Os resultados que nós temos na macroeconomia, os primeiros investimentos, primeiras iniciativas que nós temos na microeconomia, as iniciativas interessantíssimas que o governo tem tido na área social, o apoio mesmo, eu dizia, a esta visão transformadora que nós do Ministério da Cultura queremos ter, estamos tentando e em muito conseguindo ter, essas coisas são prova de que imprimir a nossa mudança, num caráter de intensidade prática, não foi uma teoria, tem sido a prática mesmo do governo do presidente Lula.
Assim, quando aceitei o convite do presidente para ser o ministro da Cultura do seu governo, meu engajamento nesse projeto de transformação nacional ganhou uma outra natureza e assumiu um outro significado.
Tratava-se, agora, de meter a mão na massa. De atuar não como espectador, mas como protagonista. Para usar uma metáfora esportiva, dessas tão prezadas pelo próprio presidente, não estarmos mais na arquibancada, mas dentro do campo, suando a camisa do time da mudança.
No meu discurso de posse, em diálogo e em sintonia com a fala presidencial, anunciei isso. Teríamos um novo Ministério da Cultura e uma nova política cultural –aberta, transformadora, democrática– para o Brasil.
Teríamos um MinC inserido no projeto de construção de uma nova hegemonia não país. No projeto geral de construção de uma nova nação. E o que tenho a dizer aqui, antes de mais nada, é que, ao longo desse ano de 2003, a equipe do MinC esteve empenhada, de fato, em todos os espaços e em todos os instantes de sua ação e de sua reflexão, na tarefa de concretizar, no plano da gestão cultural, o movimento de mudança deflagrado pela eleição do presidente Lula.
Começando pela incorporação de um novo conceito de cultura ? como norte e fundamento do nosso desempenho ? e pela busca de um novo posicionamento do Ministério no campo da cultura brasileira. Juca Ferreira teve oportunidade de tecer algumas considerações sobre isso.
Em primeiro lugar, o novo conceito de cultura. Ele se impôs de imediato. Era preciso abarcar a vida cultural brasileira, simultaneamente, em sua unidade e em sua multiplicidade. Em suas variações regionais, em seus traços distintivos internos, em suas diferentes colorações sociais, em sua vasta gama de formas e de sentidos.
Era preciso pensar a cultura em termos de inclusão e cidadania, tanto em sua dimensão simbólica quanto em sua dimensão econômica. Era preciso não dissociar nação e cultura, cultura e soberania nacional, cultura e afirmação do Brasil no mundo.
E foi por isso tudo que decidimos deixar definitivamente para trás noções elitistas e restritivas do fenômeno cultural, adotando um conceito mais amplo, mais rico (de caráter antropológico), capaz de nos permitir encarar o Brasil, em seu conjunto, ele todo em seu conjunto, como um fato de cultura.
E a própria adoção deste novo conceito implicou, como todos vocês sabem, o desencadeamento de uma discussão ou de uma luta ideológico-cultural na qual ainda estamos engajados, em conseqüência do fato de que este novo conceito exige, de muita gente, uma alteração profunda de atitudes práticas e mentais.
E sabemos que isto não ocorre de uma hora para a outra, nem acontece sem resistências e incompreensões. Ainda vivemos dias de esclarecimento e de convencimento.
Quanto ao novo posicionamento do MinC, ele teria de se dar no contexto preciso da retomada do papel do Estado na sociedade brasileira. Nosso secretário-executivo também se referiu a isso aqui (depois de anos de omissões e demissões neoliberais.)
Em nosso caso específico, constatamos que o MinC havia simplesmente renunciado à sua missão, expulsando a cultura do âmbito dos deveres estatais ?-e caminhado para trás, no sentido de seu empobrecimento financeiro e técnico. Era, enfim, como um balão de bucha apagada, inteiramente entregue, em sua trajetória descendente, ao movimento dos ventos do mercado.
Tínhamos, portanto, três tarefas pela frente. Reconduzir o Ministério à sua função nuclear de gerador e executor de políticas públicas para a cultura. Realizar uma reforma administrativa. E sair a campo em busca de recursos para implementar estas políticas.
A mudança teria de ocorrer, portanto, também dentro de casa, pois só assim poderíamos criar condições para ter uma presença forte e eficaz em nosso horizonte de cultura. Formulamos assim alguns projetos que julgamos básicos e essenciais, nas vertentes da inclusão sócio-cultural e do patrimônio. Realizamos a reforma do Ministério, que (terá) ainda está em seus desdobramentos. E fomos à luta por mais recursos.
Nesse último caso, aliás, nosso apelo obteve resposta sensível e imediata do Congresso Nacional, com a formação, em outubro, de uma frente parlamentar suprapartidária, a Frente Parlamentar em Defesa da Cultura, nas duas casas, signo efetivo de que a esfera política começa a olhar com outros olhos o universo cultural, do qual, em última análise, faz parte.
Como primeiro resultado objetivo, a aprovação de emendas e propostas por estes nossos aliados no Congresso deverá (significar) chegar (para a ação ministerial pública), no orçamento do próximo ano, a cerca de R$ 900 milhões, dos quais gostaríamos, como tivemos a oportunidade de enfatizar junto às lideranças do governo, na Câmara e no Senado, gostaríamos de chegar a pelo menos 50% do atendimento, nessas pendengas parlamentares.
Além disso, é fato que nosso orçamento cresceu 70%. E que conseguimos elevar o teto da renúncia fiscal ? de R$ 160 mi para R$ 401 mi. Uma renúncia que, ainda que contestada por muitos, tem, continua tendo, terá, por algum tempo ainda, um papel relevante no fomento à cultura no Brasil. Nosso secretário Juca Ferreira também se referiu a isso.
Eu diria que, setores da experimentação, setores da pesquisa, seja no campo da música, no cinema, no teatro, quaisquer dos campos que nos defendemos, esses setores mais experimentais, como diz o Juca, e não abraçados pelo mercado, são setores que continuarão necessitando dessa parceria entre o estado e a área privada, de vários mecanismos, inclusive das leis de incentivo, para terem o suporte necessário no desenvolvimento do seu trabalho.
Somando-se à aproximação com o Congresso, tivemos uma atuação interministerial, que precisa, no próximo ano, ser incrementada, ser estimulada, ser consolidada em vários aspectos. Nosso objetivo foi dar, com isso, realce à dimensão cultural presente em toda política pública ?-especialmente, num país como o Brasil. E este esforço começa a dar os seus primeiros frutos.
Exemplo disso é o Acordo de Cooperação Técnica entre os ministérios da Cultura, do Meio Ambiente e das Cidades, firmado no último dia 2 de dezembro. Este acordo sublinha a essência cultural e os aspectos ambientais do crescimento das cidades, visa à gestão compartilhada do desenvolvimento territorial e urbano de áreas situadas em biomas brasileiros ou que abriguem sítios históricos e manifestações expressivas de nosso patrimônio imaterial. Mas a meta maior, neste plano de nossa atuação, é certamente inscrever a cultura no cerne mesmo da agenda estratégica do governo.
É evidente, no entanto, que não existimos apenas para ações entre pares ou intramuros. Existimos, sobretudo, para a sociedade. Para promover o desenvolvimento cultural da sociedade brasileira, com todas as implicações pedagógicas, sociais, políticas e econômicas implicadas em tal missão.
E foi com isto em mente que elaboramos os projetos a que me referi. Alguns já em andamento, como o da Estação da Luz da Nossa Língua, aqui em São Paulo, que estamos desenvolvendo em parceria com a Fundação Roberto Marinho, que será uma espécie de monumento vivo da língua portuguesa, localizado no centro de São Paulo. Teremos Prefeitura, teremos o governo do Estado, teremos um conjunto de parcerias da área cultural desenvolvendo, junto com a Fundação Roberto Marinho, esse projeto para o Brasil e para São Paulo. Outros, em vésperas de execução, como o das BACs, as Bases de Apoio à Cultura, com o seu desenho arquitetônico ao mesmo tempo rigoroso e primoroso, graças ao magistral arquiteto Lelé.
Em lugares onde não há cinemas, acesso a shoppings ou a teatros luxuosos, onde há carências de formação técnica, de inclusão digital e mesmo de domínio da língua e da escrita, é que o Ministério da Cultura pretende implantar as BACs. Cada BAC irá funcionar como um centro de alfabetização e inclusão digitais, como espaço de veiculação de informações, como lugar para apresentação de manifestações e grupos culturais, como sede comunitária, como núcleo de criação e produção locais. 2004 assistirá, se Deus quiser, a uma onda de BACs implantando-se no país.
Já entre as ações que estão se desdobrando, devemos dar destaque ao Programa Brasileiro de Cinema e Audiovisual. Nosso secretário [para o Desenvolvimento das Artes Audiovisuais] Orlando Senna e nosso secretário Juca [Ferreira] se referiram aqui à auspiciosa anexação da Ancine ao Ministério da Cultura. A Agência Nacional de Cinema está vindo para o Ministério da Cultura, dando início a uma política de audiovisual nova em nosso país.
O problema do cinema brasileiro passa a ser visto agora num horizonte mais amplo que o das medidas pontuais (e o das leis de incentivo. A questão do acesso público ao cinema nacional ganha prioridade.) Nos preparamos para enfrentar a questão crucial da distribuição, de modo que a produção brasileira venha a ter condições de competir em seu próprio mercado. Mas também fora dele, com a Ancine atuando em sintonia com a atenção que o Governo Lula vem dando à empresa nacional e à balança comercial brasileira. (Ainda hoje Leopoldo [Nunes], um dos nossos brilhantes assessores na Secretaria de Artes Audiovisuais, falava da associação que a secretaria e a Ancine estão fazendo com a Apex, agência do Ministério da Indústria e Comércio [Exterior], para criar linhas de fomento à exportação tanto de televisão quanto de cinema.)
Por fim, pretendemos ampliar e aprofundar uma parceria já existente hoje, que é a do cinema e da televisão. Parceria estética, intelectual e econômica ?como costumamos dizer. E logo a Ancine irá se ampliar em Ancinav, Agência Nacional de Cinema e do Audiovisual, a fim de responder à atual complexidade do setor.
Em síntese, o que se configurou, com esta movimentação, foi um novo ponto de partida. Ou, como bem disse o cineasta Cacá Diegues, ?o marco zero para o crescimento do nosso cinema, da televisão e do audiovisual?.
(Só para dar um exemplo, este ano, com estas pequenas movimentações que fizemos, o setor do audiovisual já conseguiu carrear um volume significativo de recursos, através dos editais para fomento do cinema de varas modalidades no Brasil. Os R$ 33 milhões que juntos, Ancinav, Secretaria [das Artes Audiovisuais] e Petrobrás conseguiram juntar, esses R$ 33 milhões foram o maior aporte de recursos nesse setor feitos por uma política pública no Brasil até hoje.)
A paisagem começa a clarear, também, no terreno fundamental do patrimônio. Não podemos nos esquecer de que o que chegou às nossas mãos, nesse caso, foi uma herança difícil (monstruosa), um legado de crimes contra a memória e a vida da nação.
Um patrimônio histórico-cultural caindo aos pedaços, com prédios chagosos, arruinados, desaparecendo entre incêndios e tombamentos. E um Ministério inoperante. Diante disso, demos vida ao Programa Monumenta. Redirecionamos seus gastos, canalizando-os não para rotinas administrativas, que cobriam 70% dos custos do programas, invertendo essa conta, fazendo com que hoje em dia esses custos tenham baixado a menos de 30% e, ao contrário, os investimentos em obras propriamente ditas e projetos propriamente ditos lá na ponta, passassem a concentrar os recursos gastos pelo Monumenta (mas para intervenções.)
Com isso, foi possível realizar obras em 16 cidades brasileiras e iniciar trabalhos em outras 13. Cidades como Corumbá, Diamantina, Lençóis, Cachoeira, Olinda, Ouro Preto Rio de Janeiro, Salvador e tantas outras por aí.
Estamos dando os passos iniciais para a implantação do Sistema Nacional de Museus. Essa semana acabamos de fechar, de nomear, a última diretoria do Iphan, exatamente a diretoria de museus, que vem preparar a transição para o Sistema Nacional de Museus, a que a Casa Civil já deu aceno positivo.
Vamos trabalhar para a implantação e vamos ao mesmo tempo trabalhar a implantação também do Sistema Nacional da Cultura Popular, das Artes e Culturas Populares. Vamos tentar trabalhar a implantação desses dois novos sistemas através da nossa conversa, que vem melhorando a cada dia, com a Casa Civil.
E ainda no início desta semana, lá em Congonhas, Minas, na presença da Igreja, dom Luciano, governador de Minas, prefeitos de toda região, pelo menos 15 cidades daquela região, lançamos o projeto (anunciamos a construção, em parceria com a iniciativa privada) do Museu de Congonhas ? Centro de Estudos do Barroco e da Pedra, em Congonhas, Minas Gerais, sob a luz densa e dramática dos profetas do Aleijadinho. Um museu que, tendo como curador Emanoel Araújo, será projetado por Álvaro Siza, um dos mais importantes arquitetos contemporâneos.
Estivemos em Corumbá também cerca de 20 dias atrás, lançando também lá o Museu do Homem do Pantanal. Eu ainda não estive, mas o Ministério, através de Marcelo Ferraz, do projeto Monumenta, já esteve em Penedo, Alagoas, também lançando lá a idéia, que esperamos concretizar ao longo do próximo ano, do Museu do Rio São Francisco, museu também muito importante desses novos museus.
Ainda que alguns entendam que não deveriam ser feitos, deveriam ser preteridos em função da prioridade que para eles seria cuidar dos velhos museus, cuidar das velhas estruturas, cuidar das velhas instituições, ainda assim nós do Ministério da Cultura achamos que é importante criar os novos museus.
Museus importantes, fundamentais, que venham realçar aspectos importantes de determinadas regiões, que venham enfatizar papéis, funções estratégicas, que certas composições culturais regionais têm aqui no Brasil.
Ainda no plano da memória viva, da reflexão sobre o nosso passado e sobre a formação da gente brasileira, não podemos deixar de mencionar o lançamento da revista ?Nossa História?, publicada pela Fundação Biblioteca Nacional. Apoiada por alguns dos principais nomes da historiografia brasileira, ?Nossa História? fez sucesso já em seu primeiro número.
Uma revista mensal, com tiragem de 50 mil exemplares, vendidos em bancas de revista espalhadas por todo o país. E o que é importante: com uma linguagem adequada às bancas. Linguagem clara, acessível, nada acadêmica, sem confundir o complexo com o complicado.
Também no âmbito da Biblioteca Nacional, o seu dirigente maior, Pedro Corrêa do Lago, foi incumbido pornôs, a pedido de uma articulação feita no âmbito interministerial, com o Ministério da Educação, com o Ministério da Reforma Agrária, com o Ministério da Segurança Alimentar, com todos esses ministérios, para a consolidação do Programa Nacional de Bibliotecas por todo esse País.
Já no próximo ano estaremos nos capacitando a instalar várias novas, centenas de várias novas bibliotecas por esse Brasil afora. E mais do que isso, estamos dispondo também a avaliar os velhos programas de implantação de bibliotecas no Brasil, no sentido de termos noção clara sobre o funcionamento dessas bibliotecas, desses projetos que foram feitos no Brasil. Não se pode confiar no desempenho adequado desses projetos, dessas bibliotecas pelo Brasil afora, sem que façamos uma avaliação mínima do desempenho desses projetos. Então temos bibliotecas novas a serem implantadas e velhas bibliotecas que já foram implantadas no Brasil a serem revistas, recicladas, retomadas, enfim, num plano de impulso novo, de atuação mais nobre.
De outra parte, entramos na reta final da reforma da assim chamada Lei Rouanet, com todos os instrumentos jurídicos necessários à sua implantação, desde decreto até portarias. Em nosso calendário, o projeto de reforma da legislação deverá ser enviado à Casa Civil no próximo mês de janeiro.
Nossa previsão era para agosto passado. Não deu. Por motivos simples: optamos pelo processo participativo, a que o Juca Ferreira se referiu aqui também. Abrimos um amplo debate democrático sobre a matéria, em escala nacional, com os seminários ?Cultura para Todos?. Que resultou em milhares e milhares, em seis mil sugestões, a que o Juca se referiu também. (Resultado: recebemos milhares de sugestões.) E como todas elas foram examinadas com atenção e seriedade, não houve como não alterar a data. Mas democracia é assim mesmo. Não é ciência. É paciência.
O Sistema Nacional de Cultura, a que Juca se referiu, é uma das outras iniciativas importantes. Tramita lá no Congresso a lei que criar o Sistema Nacional de Cultura e vai caber às instituições culturais, ao Ministério da Cultura, no plano Federal, às secretarias estaduais e às secretarias municipais, e todo o conjunto do universo cultural, de agentes culturais, realizadores culturais no Brasil, criar esse sistema, que nós esperamos também durante o próximo ano, seu lançamento, pelo menos, os primeiros esboços da sua criação, nos seja possível fazer.
Sabemos que (Mas) a nossa visão da (economia da) cultura (não permitiria que nos limitássemos, nessa área), não pode se limitar a uma proposta de reformulação de uma peça jurídica, unicamente. Sabemos que a cultura é um bem simbólico e, ao mesmo tempo, um produto cultural, político e econômico.
A cultura deve ser vista, por esse prisma, como um setor dinâmico de nossa economia, como espaço de geração de emprego e renda. Além disso, o Brasil exporta bens culturais, filmes, canções etc, o que significa captação de divisas para o país. Desse modo, por pensar a inclusão social na cultura e pela cultura, por pensar a cultura também em termos econômicos, o MinC construiu-se como interlocutor privilegiado e fomentador da discussão sobre as contribuições da cultura para o desenvolvimento do país.
A referência à exportação de bens culturais me leva, imediatamente, ao plano internacional. Como isto aqui é um balanço de nossos primeiros 12 meses, ainda não mas quase 12 meses de trabalho, como o presidente Lula nos liberou hoje para as folgas de Natal e do Ano Novo, já podemos dizer que aqui, até segunda-feira já estamos encerrando os nossos 2 meses de trabalho, volto então ao meu discurso de posse, onde afirmei: ?Juntamente com o Ministério das Relações Exteriores, temos de pensar, modelar e inserir a imagem do Brasil no mundo. Temos de nos posicionar estrategicamente no campo magnético do Governo Lula, com a sua ênfase na afirmação soberana do Brasil no cenário internacional?.
Nesse particular, estamos atuando internacionalmente, sobretudo, em defesa da diversidade cultural, seja com relação ao chamamento da Unesco, seja na viagem do presidente Lula à África, seja no lançamento do chamado ?Apelo de Roma?, com vários ministros e ex-ministros da Cultura de países europeus, cujas discussões irão desembocar no Fórum Mundial de Cultura, que vai acontecer aqui na cidade de São Paulo, entre junho e julho de 2004, e no Fórum Mundial de Barcelona, que começa em 14 de maio e vai até setembro lá na bela cidade de Gaudí.
Bem, o que acabei de traçar aqui, em linhas gerais, foi apenas um esboço sucinto e esquemático do que fizemos e/ou começamos a fazer em 2003. Uma leitura bastante genérica e a vôo de pássaro, sem a preocupação de compor um rol exaustivo ou de descer a detalhes, a minúcias de relatório, citando tópicos, nomes, números, cifras e siglas,ainda que aqui o tenhamos feito em pequena dose, necessária, um pouco para estimular o lado econômico das expectativas.
(Em resumo, acho que podemos dizer o seguinte.) Temos nos movimentado (movido) no horizonte do possível. Temos pensamento, temos capacidade de articulação política e social, temos projetos, temos desencadeado ações. Mas que ninguém se engane. O que demos, até aqui, foram apenas uns poucos e primeiros passos. E o que queremos é muito mais.
Para isso, sabemos que podemos contar com todas as nossas reservas de energia, de criatividade, de dedicação. E com reservas semelhantes de todos vocês aqui, de todos que estão representados por esta plêiade de homens e mulheres, agentes de cultura, animadores de cultura, criadores de cultura, gestores públicos de cultura. Vocês todos que vieram aqui participar dessa festa de fim de ano. É exatamente isso o que estamos na obrigação de demonstrar em 2004. Porque não queremos um Ministério apenas ?participativo?, mas também um Ministério ?de resultados?. Ou seja: um Ministério de discurso e ação. De palavra e obra.
Queria agradecer a vocês esta presença extraordinária. Do meu ponto de vista, deste espaço conjunto de representação MinC/ Cinemateca Brasileira. Um conjunto que já nesta primeira intervenção teve essa preparação tão bonita, tão simples mas tão bonita, tão acolhedora. Agradecer a vocês todos de São Paulo que tem vindo participar, trazer o brilho, trazer o calor humano dessa festa. Esperar que tenhamos muitos outros no ano que vem. Desejar a vocês todos bom Natal, bom ano Novo, cheio de energia, de esperanças renovadas, de mudanças ainda mais profundas que terão que ser feitas no âmbito da vida nacional.
Obrigado.
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