Em entrevista exclusiva a Cultura e Mercado, ministro fala sobre a ida da Ancine à sua pasta e enfatiza nova fase da relação entre TV e cinema: “isso está sendo tratadíssimo”Por Israel do Vale
Enviado especial a Brasília
www.culturaemercado.com.br
15/10/2003
A ida da Ancine para o “guarda-chuva” do Ministério da Cultura era uma das principais reivindicações da pasta desde o começo do mandato de Gilberto Gil -ao lado do 1% deorçamento para o MinC, já descartado para 2004. Mas as implicações práticas da mudança só serão conhecidas a partir do início dos trabalhos do futuro Conselho Superior do Cinema e Audiovisual, responsável por definir as diretrizes da política para o setor.
Em entrevista a Cultura e Mercado, Gil compara este momento ao cultivo de laranjas, defendendo que seja visto dentro de um conjunto de ações, e deixa nas entrelinhas a insinuação de que os novos rumos devem incluir uma reformulação nos quadros da atual Ancine. “Para que a Ancinav passe a existir, a Ancine será necessariamente extinta”, diz.
Cultura e Mercado – O ponto vital da passagem de Ancine para Ancinav é uma mudança na relação com as TVs. Isso já vem sendo conversado?
Gilberto Gil – Isso está sendo tratadíssimo. Nós temos não só o Ministério da Cultura, como a própria Casa Civil. Há iniciativas do nosso grupo, da nossa equipe, do nosso secretário-executivo, Juca Ferreira, do próprio ministro José Dirceu. Todo mundoestá tratando disso o tempo todo, conversando com as televisões.
CeM – O que o ministro gostaria que mudasse nessa relação? Existem condições, por exemplo, de se conversar sobre uma cota de tela para o filme nacional na TV aberta?
GG – Essas coisas virão. Na medida em que isso se aproxime, de forma parceira, associativa e positiva com o setor audiovisual, as acomodações de terreno, as ocupações convenientes de terreno de um lado a outro, tanto do cinema na televisão como da televisão no cinema, isso tudo vai surgindo da própria relação. O que precisa ficar definido é o desejo, a necessidade e a conveniência da cooperação entre osdois setores. E isso não é uma coisa criada por decreto, nem por lei, nem por vontades. Isso é um desenvolvimento, é um processo de revelação criado pela realidade. E a realidade atual revela, ao cinema e à televisão, que eles precisamestar juntos.
CeM – Há a compreensão disso entre as emissoras de TV aberta?
GG – Se você vai conversar com a TV Globo, com o SBT, se vai conversar com as maiores ou as menores televisões, todas elas hoje… Aliás, não precisa dizer mais. Elas já se anteciparam. Produção e colaboração entre cinema e televisão no Brasil é uma coisa que já vem sendo incrementada nos últimos cinco anos, no sentido da produção, da distribuição, da exibição. O papel que a televisão brasileira vem representando para o fortalecimento da exibição do cinema no Brasil é importantíssimo, com a força de propaganda, com a força publicitária que ela tem. Os filmes que se beneficiam dos espaços publicitários em televisão têm possibilidade no mercado muito maior do que os filmes que não se beneficiam. Foi isso inclusive que levou as televisões a se interessarem pela produção também. Hoje elas não estão só ligadas à exibição, mas estão ligadas à produção. Você tem exemplos no Brasil. Taí o “Lisbela” agora, um filme feito com produção de televisão em associação com o cinema, batendo recordes, atingindo índices de público, de aceitação, de comunicação. Isso é mais importante que tudo: a comunicação que o cinema brasileiro está conseguindo ter hoje.
CeM – Quando o senhor acha que os primeiros resultados desta novarelação entre cinema e TV vão poder ser sentidos?
GG – Eu prefiro pensar em estabelecimento de processos. O processo está sendo estabelecido, ele caminha por si. A colheita é como num grande laranjal. Quer dizer, qual é o pé que você vai escolher para colher a laranja? Qual é o pé que vai dar mais laranja? Você não pensa assim. Num grande laranjal você não pensa qual é o pé que vai dar mais laranja, você pensa na plantação inteira. É isso que nós estamos pensando. Estamos raciocinando nesses termos: estamos plantando audiovisual. Asformas de colheita, se o audiovisual num ano vai colher mais do que o cinema, se no ano seguinte o cinema vai colher mais do que o audiovisual, isso tudo é o processo que vai determinando.
CeM – Quando será definido o Conselho Superior de Cinema e Audiovisual?
GG – Os nomes dos ministérios já estão designados. São automaticamente os ministros que ocupam as pastas que vão sentar no conselho. Os outros membros estão sendo escolhidos. Eu mesmo, o Zé Dirceu e nossos secretários no ministério já falamos em alguns nomes. Há nomes sendo sugeridos. Provavelmente isso se feche na semana que vem.
A condução da Ancinav deve ser feita pelo comando atual ou pode haver mudanças?
GG – Pode haver mudanças. Para que a Ancinav passe a existir, a Ancine será necessariamente extinta. Aí a existência de mandatos e tudo isso desaparece. É uma outra questão. Quando a Ancinav vier nós vamos pensar nessas outras questões.
CeM – O mais provável é que haja mudanças?
GG – Não sei. Primeiro a questão técnica. Não necessariamente. Não estamos concentrados agora nisso. Até porque ainda é Ancine e ela tem que continuar. Quando vier a Ancinav aí então nós vamos pensar em direção e nessas coisas.
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