Em meio a denúncias internas, executivos do mercado fonográfico cobram promessas de combate à pirataria feitas por Lula na campanha presidencial. Ação impopular e preço de CDs são temas mais delicadosPor Deborah Rocha

Contradição de mercado
Matéria publicada hoje, dia 3 de dezembro, na Folha de S. Paulo, torna pública algumas denúncias internas que estão ocorrendo nos bastidores de grandes gravadoras, como a Novodisc e Trace, enquanto as mesmas lutam pelo combate à pirataria, forma ilegal de reprodução e venda de CD?s. À parte a enorme contradição dos fatos e notório egoísmo ? no sentido até certo ponto positivo da palavra – das que dominam a indústria fonográfica, o que se discute às vésperas da posse de Lula é se o candidato eleito cumprirá a promessa feita durante a campanha presidencial de luta contra o ?mercado ilegal?. De acordo com a matéria, os grandes do ramo já estão cobrando tais ações para 2003.

Ação impopular
Neste caso, outra contradição desponta no horizonte: como poderá Lula apoiar o combate à pirataria se tal ação é extremamente impopular, tendo em vista que os CD?s falsificados são mais baratos? Fernando Henrique Cardoso viveu o mesmo dilema e desagradou os executivos do mercado fonográfico. ?Qual governante que precisa do apoio da massa vai apoiar o combate, se ele é tão antipático? O governo FHC deixou de apoiar porque não sabia como criar empregos para substituir o contingente da pirataria”, avalia Luiz Bannitz, vice-presidente da EMI, à Folha. Diz ainda ao jornal que o governo do PT no Rio Grande do Sul é o único do Brasil que proibiu a comercialização de DVDs em bancas.

Posições das líderes
Já o presidente da Sony, José Antonio Eboli, aponta expectativas: “Tivemos a oportunidade de participar de uma reunião com Aloizio Mercadante e notamos claramente uma forte determinação dele em combater a pirataria no país, por várias razões. Saímos realmente convencidos de que isso deveria ocorrer no governo Lula. Continuo acreditando”, diz Eboli ao jornal.

O presidente da Warner, Cláudio Condé, volta à questão do desemprego: “Lula tem todas as possibilidades do mundo de tomar iniciativas para criar empregos. Precisamos de mais gente no mercado legal ganhando decentemente e podendo se divertir e consumir música”. O presidente da Universal, Marcelo Castello Branco, concorda e vai além: “Não é que as pessoas gostem de comprar CD pirata. Ninguém se sente completamente digno dando CD falsificado para a namorada. Todo mundo tem direito ao legítimo”.

José Lopez, da Novodisc, é o único com discurso mais ousado, no sentido positivo: “A omissão na questão da pirataria não é do governo, mas de quem deveria combatê-la e não está fazendo isso. É a própria indústria.

Outra questão colocada pelos executivos em entrevista à Folha foi a alto preço dos CDs. “Todo mundo fala que está em crise, mas as grandes gravadoras vendem seus CDs no Carrefour a R$ 2,70. Se podem, por que não praticam sempre esses preços? É consenso que o preço do CD é muito alto, e não só no Brasil. Para ser razoável, o preço teria de ficar entre R$ 5 e R$ 10, e a indústria teria como fazer isso”, diz o diretor da Novodisc Lucas Sacay.

Vespeiro
Como pode ser visto, os argumentos são diversos e ?protecionistas?. Não há quem queira ceder e ter seu orçamento diminuído. Diante deste cenário, Lula terá que colocar as mãos em mais um vespeiro que envolve ações bilionárias em todo o mundo. Levando-se em conta o perfil ideológico do novo presidente, tudo indica que o caminho será a democratização dos bens culturais e diversificação das formas de acesso a eles para além do crivo mercadológico, seja qual for a medida tomada.

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