Multinacionais colocam-se contrárias à Lei da Numeração, que visa permitir a artistas um controle mais preciso sobre suas vendas. O compositor Lobão acusa gravadoras de falta de transparênciaPor Sílvio Crespo

As principais empresas produtoras de disco manifestaram-se contrárias à numeração de CDs, segundo matéria do jornalista Bernardo Araújo, publicada no jornal O Globo, em 19 de junho último. A numeração de CDs e livros pode se tornar obrigatória, caso seja aprovado o projeto de lei da deputada federal Tânia Soares (PcdoB-SE). O cantor e compositor Lobão está articulando um grupo de artistas para pressionar o Congresso a aprovar o Projeto e garantir o funcionamento da lei.

Resistência das gravadoras
De acordo com O Globo, as gravadoras multinacionais alegam que o principal problema da indústria fonográfica atual, a pirataria, não será afetado. Para Luiz Oscar Niemeyer, presidente da BMG e da Associação Brasileira de Produtores de Discos, a inclusão de uma assinatura em cada disco, como é exigido pelo projeto da deputada, é inviável. ?Não se pode numerar CDs como se fossem carros, afinal, são 90 milhões de CDs fabricados no Brasil por ano?, diz Niemeyer em entrevista coletiva concedida na sede da entidade. ?Pode-se é fazer algo como o que fazem as indústrias de carros e de remédios: criar um código de barras para cada lote de discos?.

Lucros de 3.000%
Niemeyer teoriza mais um argumento contra a numeração: o aumento do custo do CD. ?Podemos usar o código de barras nos lotes, mas é claro que isso tem um custo, que no fim das contas vai acabar sendo repassado ao consumidor?, afirma. Entretanto, Lobão apresenta dados concretos contrários a esse argumento. ?Eu fiz um lote de 50 mil discos com o código de barras e a minha assinatura? – diz o cantor ao jornal O Globo. ?Custou R$ 0,01 por CD e continuo vendendo discos mais barato do que as gravadoras. Se eles continuarem com essa margem de lucro de 3000% na venda de discos, as gravadoras vão falir de vez. O caminho do futuro é a venda em bancas, tenho certeza?.

Desconfiança
A numeração de livros e CDs proposta por Tânia Soares tem o objetivo de permitir ao artista ter um controle preciso das suas vendas. De acordo com o cantor e compositor Lobão, as gravadoras não são transparentes ao informar o artista sobre suas vendas. ?O universo de produção de uma gravadora gira em torno de milhões de unidades fabricadas, e a manipulação de resultados é a coisa mais corriqueira que existe?, denuncia o músico, em artigo publicado no site iBest.

Histórias escabrosas
O presidente da gravadora Som Livre, João Araújo, tem uma opinião oposta: ?só reclama quem não vende disco?, diz a O Globo. ?Nunca vi Roberto Carlos ou Caetano Veloso dizendo que foram roubados por suas gravadoras; aliás, se eles desconfiassem das companhias, não permaneceriam nelas por 20 ou 30 anos, como estão?, argumenta.

Lobão responde: ?é mentira; todos têm histórias escabrosas das gravadoras. Eu mesmo fiquei contratado por 20 anos e nunca deixei de desconfiar. A música Me chama, por exemplo, foi a mais tocada da década de 80, e a gravadora diz que meu disco vendeu 23 mil cópias?.

?Quer dizer que todos esses artistas que estão no nosso abaixo-assinado estão lá por corporativismo??, ironiza o compositor. Lobão organiza um abaixo-assinado que inclui, segundo O Globo, os nomes de Marisa Monte, Beth Carvalho, Marina Lima, Roberta Miranda e Zeca Pagodinho, entre outros. Na semana passada, Beth Carvalho acompanhou o músico em uma visita ao senador Ramez Tebet (PMDB-MS), presidente da casa, pedindo apoio para aprovação do projeto de Tânia Soares. A Câmara dos deputados já aprovou-o por unanimidade, e o Senado deve votar a lei em regime de urgência, conforme pedido da deputada.

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